Rali de fim de ano da Bolsa vai acontecer em 2023 ou Fed minará o ânimo do mercado?

Juros americanos continuam no centro das atenções de investidores, mas, para o Brasil, analistas ainda seguem otimistas

Vitor Azevedo

(Getty Images)
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O Ibovespa encerrou o terceiro trimestre de 2023 nos 116.565 pontos. Se o índice ainda acumulava uma alta de 6,22% no ano até o fechamento de sexta, o período que vai de julho a setembro, no entanto, contou com uma queda de 1,29% do índice e abalou ao menos um pouco o otimismo que rondava o mercado financeiro, até então sustentado principalmente pelo início do ciclo de queda dos juros. Agora, investidores passam a olhar o fim do ano.

Se a perspectiva do ciclo de queda da Selic levou o Ibovespa para cima no primeiro semestre do ano, o que passou a segurar os ânimos dos investidores foi, também, mudanças nas perspectivas quanto aos juros globais, afetando o desempenho do mercado brasileiro apesar do corte efetivo dos juros domésticos em agosto e em setembro. A maior pressão provém dos Estados Unidos, onde especialistas passaram a ver mais uma alta da taxa básica pelo Federal Reserve (Fed) até o final do ano, para o intervalo que vai de 5,50% a 5,75%.

E juros mais altos na maior economia do mundo impactam todo o mundo, inclusive o mercado brasileiro.

Para alguns, o movimento pode minguar a tradicional alta de final de ano, motivada por fatores como a sazonalidade do varejo e ânimo com o novo ano que está para se iniciar. Nos últimos 20 anos, de 2002 a 2022,  apenas em seis o quarto trimestre não foi positivo – 2021, 2015, 2014, 2013, 2910 e 2008.

“A alta nos preços do petróleo levou a uma reavaliação das expectativas de inflação para cima, enquanto um Fed mais hawkish alimentou a crença dos investidores de que as taxas permanecerão altas por mais tempo. Consequentemente, as apostas para o alívio do Fed em 2024 diminuíram”, comentou Magdalene Teo, head de renda fixa da Julius Baer, em análise divulgada no fim da última semana.

Fora os pontos abordados, alguns especialistas vêm destacando também a questão fiscal americana, com a dívida pública subindo constantemente e os dados macroeconômicos ainda fortes.

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“O sentimento dos investidores recuou consideravelmente, e os mercados precificaram rapidamente o mantra de mais por mais tempo. Paralelamente, as revisões de ganhos continuaram a infletir para cima”, comenta ainda a analista do grupo bancário suíço.

Os benchmarks americanos recuaram em bloco durante o período. Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq caíram, respectivamente,  2,62%, 3,65% e 4,12%.

Taxas mais altas nos Estados Unidos, como já mencionado, acabam por impactar o mercado brasileiro. O terceiro trimestre, por aqui, foi marcado principalmente por um fluxo de saída do investidor estrangeiro, que acaba tirando seu dinheiro de ativos de risco, principalmente de países emergentes como o Brasil, e o aportando em títulos do tesouro americano, considerados “os mais seguros do mundo”.

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Com isso, mesmo notícias mais positivas no cenário local passaram despercebidas. No dia da aprovação do arcabouço fiscal, por exemplo, a curva de juros brasileira subiu, refletindo o movimento do exterior.

As próximas sinalizações do Fed, bem como dados macroeconômicos americanos, então, continuam no centro das atenções.

Motivos para pessimismo e para otimismo

De um lado, está quem acredita que o Federal Reserve possa voltar a subir os juros.

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Ray Dalio, por exemplo, sinalizou que não tem uma visão positiva para os títulos da dívida pública americana neste momento, mesmo com vários contratos estando nas suas máximas desde 2008.

Após uma palestra recente em evento, falas do famoso investidor viralizaram por ele ter defendido investimentos em ativos de alta liquidez e por ter afirmado que não quer, nesse momento, ter dívidas ou bonds.

A razão para tal falas, ele explicou, reside no fato de que muitos títulos do Tesouro dos EUA são prefixados. Isto é, o rendimento é determinado no momento da aquisição e os títulos podem perder valor se as taxas de juros do país aumentarem, uma dinâmica similar ao que ocorre com o Tesouro Prefixado no Brasil, devido aos efeitos da marcação a mercado.

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Ray Dalio acredita que é mais provável que os Estados Unidos enfrentem períodos desafiadores, com elevação dos juros e tensões inflacionárias, decorrentes do crescimento da dívida nacional, que atingiu a cifra inédita de US$ 33 trilhões neste ano. Para cobrir tal montante, é provável que o Tesouro dos EUA precise emitir mais títulos, com taxas mais elevadas que as vigentes, depreciando os títulos já existentes.

A equipe do Julius Baer, contudo, acredita que ainda há motivos para enxergar que o fim de ano pode trazer notícias positivas aos investidores.

“Ainda podemos ter mais fraquezas até meados de outubro, de acordo com os padrões sazonais. Continuamos, porém, a acreditar que o bull market ainda está vivo e que os mercados se moverão para cima até o final do ano após o período sazonalmente fraco de agosto a outubro”, menciona a equipe do family office..

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Para eles, dados econômicos recentes apoiam a visão de que a economia dos EUA terá um pouso suave, enquanto o processo de desinflação permanece intacto, ”embora não de maneira linear”.

“Continuamos vendo o recuo atual nos mercados de ações como uma oportunidade para se posicionar para um rali de final de ano”, falam.

No Brasil, visão segue positiva, apesar dos pontos negativos

Investidores no Brasil, claro, também continuarão monitorando os próximos acontecimentos da economia americana. Mas analistas seguem otimistas, ainda que vejam impacto do cenário global mais negativo no mercado.

Em grande parte, o atual valuation do Ibovespa, o preço das empresas que compõe o índice, é apontado por especialistas como o fato principal para o otimismo.

“Os ativos do Ibovespa, por agora, nos parecem bem comprimidos nos preços. Mesmo que nós não tenhamos espaço para cortar os juros para 8% ou 9%, por uma questão internacional, ainda há um carrego positivo”, falou Tiago Cunha, gestor de portfólios da Ace Capital.

Fora isso, apesar da curva de juros americana pressionar a decisão do Banco Central brasileiro, a crença é de que a continuidade do ciclo de baixa está, por agora, garantida. A alta dos treasuries yields praticamente apagou a expectativa de parte dos especialistas de que o BC poderia, ainda neste ano, realizar um corte de 75 pontos-base da Selic, hoje em 12,75%. Mas há poucas duvidas de que outros cortes de 50 pontos virão.

O boletim Focus do Banco Central manteve, pela oitava semana seguida, a expectativa de que a taxa Selic no fim de 2023 vá para 11,75% ao ano, com corte de 0,5 ponto percentual cada nas próximas duas reuniões do Copom, em novembro e dezembro. Para o término de 2024, a mediana se manteve em 9,00%.

“Temos um crescimento econômico melhor do que o esperado, com inflação mais baixa e um eventual possível corte de juros um pouco maior, dependendo do que que vai ser o ciclo internacional”, expõe Cunha.

“No fiscal, a grande lição que tivemos no primeiro semestre foi não levar tanto a ferro e fogo os discursos politizados, principalmente nas políticas econômicas. Apesar de o governo não ser tão pragmático, tivemos sinalizações muito claras de que retrocessos em pautas não irão passar no Congresso e tivemos algumas garantias e que há certo compromisso também do lado do executivo”, fala.

A XP, em relatório divulgado neste início de mês, manteve sua crença de que o Ibovespa ainda irá avançar até o fim de 2023 mas, ao mesmo tempo, cortou sua projeção de 130 mil pontos para 128 mil pontos.

“O tom recente do Federal Reserve foi mais duro do que o esperado, e agora temos o risco de que os preços mais altos de energia possam reacelerar a inflação. Nossa equipe de Economia XP revisou, recentemente, sua projeção para a taxa de juros dos EUA e agora está prevendo um aumento adicional de 25 pontos base”, apontou a equipe da corretora, encabeçada por Fernando Ferreira e Jennie Li.

No cenário local, a XP também chama a atenção para a questão fiscal, com dúvidas de que o executivo federal irá conseguir chegar a sua atingir sua meta de resultado primário em 2024 ou com o risco de que haja aumento nos impostos corporativos para chegar à arrecadação necessária.