Rali de dezembro: o que explica a sequência desse fenômeno na bolsa?

Gestão mais agressiva de fundos e 13º salário estão entre os motivos apontados para o melhora do índice no fim do ano

Nara Faria

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SÃO PAULO – Em um comportamento historicamente visto na bolsa brasileira, o Ibovespa apresenta um cenário mais otimista na sua reta final de ano, motivado por uma série de fatores que vão desde a sazonalidade que envolve muitas empresas nesse período até a entrada mais agressiva de fundos preocupados em alcançar suas performances prometidas aos clientes. Seja qual o motivo, o fato é que geralmente no final de novembro o mercado começa a ensaiar um movimento altista que se consolida no último mês do ano, gerando o fenômeno que ficou conhecido como “rali de dezembro”. 

Apesar de o mercado não está muito otimista de que esse cenário se confirme em 2011, o fato é que dados estatísticos comprovam que este é um comportamento típico do mercado nesta época do ano. Segundo levantamento feito pelo sócio-fundador da Leandro & Stormer, Alexandre Wolwacz, dos 17 meses de dezembro contabilizados entre 1994 e 2010, o benchmark da bolsa brasileira subiu em 15 deles. Apenas em 1995 e 1998 que o índice não avançou, reportando quedas de 1,8% e 21,4%, respectivamente.

Fortalecendo a resistência do mercado nesta época do ano, o levantamento  mostra que se nos últimos 17 anos, se um investidor tivesse seguido a estratégia de comprar uma carteira de ações como o Ibovespa no primeiro dia de novembro e vendido no final de dezembro, ele teria auferido ganhos de 168,59%. Esse resultado representaria cerca de 50% do rendimento que ele teria caso tivesse ficado posicionado no índice durante todos os meses desses 17 anos, mostra o estudo.

Sazonalidade também é vista no Dow Jones
De acordo com o levantamento, os dados brasileiros estão em linha com mais de cem anos de história do mercado norte-americano. Segundo Wolwacz, as estatísticas comprovam que o investidor que se posiciona comprado em índice Dow Jones no mês em janeiro historicamente tem um desempenho negativo. Mas se este mesmo investidor realiza a compra em outubro e vende em dezembro, a performance dessa carteira seria aproximadamente 15% melhor.

“Esse é o principal indicativo da forma mais resistente do mercado nesse período. Muitos traders antigos usam uma velha expressão que diz ‘sell in may and go away’, que traduzido significa ‘venda em maio e siga em frente’, para expressar a melhora do desempenho do mercado neste período”, explica.

Desempenho do Ibovespa no acumulado em cada mês entre 1994 e 2010

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*Fonte: Leandro&Stormer 

Afinal, o que justifica o rali de dezembro?
Há diversos fatores apontados por analistas para justificam a melhora do desempenho da bolsa no mês de dezembro. Entre essas explicações, o analista da Trader Brasil – Escola de Investidores, Leandro Klem, afirma que a melhora está ligada ao fato de que os fundos buscam melhorara as cotas para fechar o ano no positivo, visando mostrar uma melhor performance aos investidores no período. 

Além disso, Wolwacz aponta que os resultados do terceiro trimestre dão ao investidor um cenário mais concreto do desempenho das empresas no ano e, com isso, favorece a compra de ativos daquelas que registraram desempenho positivo no período, justificando, segundo ele, a melhora do desempenho do setor financeiro.  Outro setor que se destaca e, consequentemente, ajuda a impulsionar o Ibovespa é o de varejo. Contudo, neste caso a melhor performance é justificada pelo aumento do consumo em lojas no fim do ano.

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Desempenho do mês entre 1994 e 2010
Mês Quantas vezes
subiu
Quantas vezes
caiu
Janeiro 7 10
Fevereiro 10 7
Março 10 7
Abril 10 7
Maio 7 10
Junho 7 10
Julho 10 7
Agosto 10 7
Setembro 12 5
Outubro 11 6
Novembro 12 5
Dezembro 15 2
*Fonte: Leandro&Stormer

Outra possível explicação, porém um pouco menos provável, na visão de Wolwacz, é que a renda extra dos trabalhadores por meio do recebimento do 13º salário motive o investimento em bolsa por pequenos investidores e contribua para elevar a pressão compradora no mercado de ações, jogando esses preços para cima.

Menor liquidez e ajuste do Ibovespa
O economista da Uniletra Corretora de Valores, Rodrigo Morosky, acrescenta ainda que o mês de dezembro é geralmente um período em que o volume de negociações diminui, reduzindo um pouco a liquidez dos papéis. Este fator permite, segundo ele, a maior facilidade para que as ações apresentem valorização. “É quando o investidor consegue ter oscilações nas ações com uma quantidade de recursos menor”, explica. 

Para ele, esse movimento acontece ao mesmo tempo em que ocorre o ajuste das carteiras, que permanecerá vigente pelo Ibovespa nos quatro primeiros meses do ano seguinte. “Alguns players com sobra de caixa acabam utilizando esse recurso para melhorar os preços dos papéis, o que acaba formando um conjunto de fatores que, se não houver uma conjuntura internacional muito negativa, forma o rali de fim de ano”, completa Morosky.

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Rali complicado para 2011
Vale mencionar a expectativa já demonstrada pelo mercado de que o rali pode não se consolidar no ano de 2011. Apesar de ter registrado uma melhora condizente com o levantamento histórico em outubro, quando fechou em alta de 11,49%. Contudo, desviando da sequência histórica, o benchmark brasileiro perdeu forças no mês de novembro, encerrando queda de 2,51%.

“Com isso, há uma expectativa do mercado de que o mês de dezembro continue nesta mesma linha baixista, refletindo a crise Zona do Euro, que somado aos sinais de arrefecimento da economia nos Estados Unidos e China, dão o tom negativo para o benchmark brasileiro no ano”, explica o Morosky, da Uniletra.

Morosky completa ainda que apesar de acreditar na possibilidade de a bolsa registrar uma melhora no mês de dezembro, essa melhora não seria suficiente para reverter as quedas acumuladas no ano, que já somam quase 18% até o fechamento de novembro.

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“Não há tempo para um desastre econômico na Europa e esse cenário de incertezas que já perdura por mais de um ano não será definido até o fim do ano. Por isso, acredito na possibilidade de melhora em dezembro, mas ela não será suficiente para reverter a queda no ano”, completa o economista.