Queda do Silicon Valley Bank (SVB) pegou Wall Street de surpresa – mas não todos

ETF que rastreia papeis de bancos regionais virou alvo de posições vendidas nas últimas semanas

Bloomberg

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A crise com ações de bancos norte-americanos pode ter pego a maior parte do mercado de surpresa, mas pelo menos um grupo em Wall Street já previa o cenário.

Os short sellers, ou vendedores a descoberto, aumentaram gradualmente o interesse em apostar contra o ETF SPDR S&P Regional Banking (KRE), de US$ 2,2 bilhões, ao longo de semanas antes de o volume de ações da empresa em circulação atingir o pico de 78% em 3 de março, de acordo com dados da empresa de análise S3 Partners. Esse foi o nível mais alto em pelo menos um ano.

Posições vendidas contra bancos regionais se transformaram em tacadas certeiras em meio às preocupações com os balanços que começaram a se espalhar pelo sistema financeiro. O ETF, que é o maior rastreando bancos regionais dos EUA, caiu quase 15% na última semana – em período que inclui seu maior recuo desde junho de 2020, registrado na quinta-feira (9) – depois que o Silicon Valley Bank (SVB), com sede no Vale do Silício, foi forçado a se desfazer de títulos para levantar dinheiro.

Na tarde desta sexta-feira (10), o Silicon Valley Bank foi fechado pelos reguladores americanos, que assumiram o controle dos depósitos do banco, anunciou a Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC).

A quantidade de posições apostando na queda dos bancos regionais mostra que pelo menos parte do smart money estava à salvo da derrocada do SVB. Por outro lado, está claro que grande parte de Wall Street se surpreendeu com o caso. As ações dos bancos regionais subiram mais de 8% no ano até uma semana atrás, mesmo com evidências de que o aumento dos juros estava pressionando os depósitos bancários e os títulos que os sustentam.

Os dados compilados pela Bloomberg mostram que as previsões agregadas de preços de ações para todos os tipos de instituições financeiras prevêem uma alta de mais de 20%, e as estimativas de ganhos de 2023 para o grupo estão entre as mais fortes do S&P 500. Gestores de fundos mútuos vinham inclusive migrando capital para o segmento.

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“Não acho que os investidores tenham pensado muito no grau em que os balanços dos bancos podem ser uma bagunça como resultado das mudanças nas taxas de juros”, disse Steve Sosnick, estrategista-chefe da Interactive Brokers. “Todos nós sabemos que os balanços dos bancos estão repletos de ativos ilíquidos. Esse é o modelo de negócios deles. Foi impressionante ver quanto corte eles tiveram que fazer em seus ativos líquidos”.

As más notícias do SVB Financial e de outro pequeno banco americano, o Silvergate Capital Corp., desencadearam a crise. Primeiro, o Silvergate anunciou planos para encerrar as operações e liquidar seus ativos depois que foi pego no colapso da indústria cripto. Então, o SVB disse que precisava aumentar sua liquidez, pegando o mercado desprevenido e causando pânico na quinta-feira (9).

“Embora os bancos sejam bastante resilientes, dadas as mudanças regulatórias desde a crise financeira global, o mercado está começando a farejar que os bancos terão que realmente aumentar as taxas dos depósitos, o que tem o potencial de prejudicar os ganhos”, disse Steve Chiavarone, gestor de portfólio sênior e head de soluções multiativos na Federated Hermes.

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Por outro lado, a razão pela qual poucos em Wall Street destacaram o estresse bancário como um risco-chave para a bolsa pode ser simplesmente por que o risco é um tiro no escuro. Extrapolar os problemas do SVB para o sistema financeiro mais amplo parece duvidoso, considerando o quão pouco ele se parece com a maioria dos outros bancos.

A carteira de investimentos que o SVB estava vendendo, por exemplo, atingiu 57% de seus ativos totais. Nenhum outro concorrente entre os 74 principais bancos dos EUA tinha mais de 42%.

Reguladores chegaram a ver potencial para alguns problemas nos bancos. Os depositantes de risco tendem a buscar locais mais seguros à medida que as taxas monetárias aumentam, destacou Carl White, um funcionário do Federal Reserve de St. Louis, em uma postagem na Internet em novembro.

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Embora as taxas de juros mais altas muitas vezes ajudem os bancos com suas carteiras de crédito, reforçando a receita de juros, observou ele, algumas instituições já estavam vendo os depósitos caírem à medida que os clientes retiravam recursos para cobrir despesas ou buscavam rendimentos mais altos em outros lugares.

“A falta de experiência recente do setor com taxas de juros crescentes e voláteis, juntamente com os níveis materiais de incerteza do mercado, apresenta desafios para todos os bancos, independentemente do tamanho ou complexidade”, escreveu ele.

O ETF KRE, que acompanha os bancos regionais dos EUA, caía 6,46% em Nova York, às 14h26 de Brasília. O papel do First Republic Bank afundou mais de 15% na abertura antes de ter negociações suspensas, liderando quedas entre os bancos de crédito listados no S&P 500. Já as ações do JPMorgan Chase & Co. subiram, enquanto as perdas em outros grandes bancos de Wall Street foram contidas.

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O volume em dólares colocado em posições vendidas no ETF recuou ligeiramente à medida que o preço caiu, embora os traders pessimistas continuem apostando contra o fundo. Os dados de quinta-feira (9) mostram que a relação de venda por volume do fundo – uma medida de quantas opções de venda (puts) estão sendo negociadas em relação às de compra (calls) – saltou para o nível mais alto entre os ETFs dos EUA.

“Os saltos nos juros vendidos e as taxas de compra/venda refletem ansiedade e pânico”, disse Todd Sohn, estrategista de ETF da Strategas Securities. “Podemos escolher os catalisadores: curvas invertidas (medo de recessão), competição de depósitos com taxas de curto prazo de 5%, e também tendo a me perguntar se também havia medo de contágio de cripto. Parece que todos estão se manifestando agora”.