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A Super-Quarta para os mercados finalmente chegou, com incertezas sobre as decisões de juros e sobre o tom a ser adotado pelos formuladores de política monetária aqui e nos Estados Unidos.
Economistas e operadores financeiros divergem sobre o desfecho da aguardada reunião do Federal Reserve nos EUA. A curva futura mostra cerca de 60% de chance de a autoridade monetária optar por uma redução de 50 pontos-base na taxa básica, conforme sugere a plataforma de monitoramento do CME Group. Mas boa parte dos analistas defende que os dados de preços pedem um primeiro passo mais comedido.
O cenário mantém um incomum clima de suspense nas mesas de operações horas antes do anúncio do Fed. “Você teria que voltar mais de 15 anos para encontrar uma situação tão incerta tão perto da decisão. Muito dinheiro será ganho e perdido hoje”, avisa o Deutsche Bank.
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Independentemente da dimensão, o processo de afrouxamento deve ser benéfico às ações em um horizonte de tempo estendido, segundo análise do Saxo Bank. Entre os 20 ciclos de cortes conduzidos pelo Fed desde 1957, apenas três foram seguidos por retornos negativos nos 24 meses subsequentes, de acordo com o banco. “Para os investidores de longo prazo, a questão é mais pensar se você tem os itens certos na carteira quando as taxas de juros estão caindo”, explica. A decisão será conhecida às 15h (horário de Brasília), com falas do presidente do Fed, Jerome Powell, às 15h30.
Posteriormente, a visão é de que, por aqui, em decisão que ocorre a partir das 18h30 (horário de Brasília), é bem provável que o Copom aumente a Selic em 25 pontos-base (bps), para 10,75%.
Com isso, o Banco Central local deve dar início a um curto ciclo de aperto monetário diante das pressões inflacionárias e indo na direção oposta de seus pares. O movimento vai desfazer o corte de 0,25 ponto implementado em maio, o último de uma série de reduções que levou a taxa Selic do pico de 13,75% para os atuais 10,50%.
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Com alta de juros por aqui -podendo diminuir a atratividade da renda variável local – e corte de juros nos EUA – elevando a atratividade dos emergentes, inclusive do Brasil -, qual o possível impacto “líquido” no mercado?
Estrategistas e analistas de mercados têm destacado que deve prevalecer o impacto positivo do corte de juros nos EUA, inclusive com os estrangeiros podendo manter aportes aqui, mesmo após uma saída em setembro depois de dois meses de entrada.
Para o JPMorgan, o Fed pode acabar mascarando o impacto de uma Selic mais alta nas ações uma vez que o Brasil é o beta (indicador de volatilidade no mercado) mais alto entre os emergentes e deve se beneficiar desproporcionalmente de um cenário de maior flexibilização monetária do Fed, especialmente se isso for acompanhado por um pouso suave nos EUA, que é o cenário base do JPMorgan.
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A Guide Investimentos ressalta que, nas últimas vezes em que houve alta de juros no Brasil e corte nos EUA, a correlação entre o Ibovespa e o S&P 500 foi elevada, como pode ser visto nos gráficos abaixo. “Acreditamos que em 2024, o padrão deve se repetir”, avalia o analista Mateus Haag.
Haag aponta que o maior risco atualmente é uma recessão nos EUA nos próximos meses levar à uma queda no S&P, o que teria impactos negativos também no Ibovespa. Os últimos momentos de corte de juros nos EUA foram marcados por recessões, ressalta o analista.
Olhando para os setores, na sua visão, o risco de recessão e o corte de juros vão manter a preferência dos investidores por ações mais sólidas e menos cíclicas como empresas do setor de saúde, infraestrutura e alguns nomes do varejo. “O setor financeiro deve continuar tendo bom desempenho em função da liquidez elevada e resultados fortes nos últimos trimestres”, conclui.
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Para o mercado de câmbio, o Goldman Sachs destacou que, historicamente, aumentos no diferencial de taxas entre Brasil e EUA estão frequentemente associados a um real mais fraco, refletindo aumentos coincidentes no prêmio de risco específico do país, dificultando a calibração de uma resposta cambial puramente baseada em um movimento no diferencial de taxas.
No entanto, aponta o banco, houve períodos em que essa correlação se inverteu, quando o nível das taxas reais subiu significativamente acima da média, incluindo no início de 2016 (quando a inflação caiu mais rápido que as taxas nominais) e durante o ciclo de alta de 2021-2022 (quando as taxas nominais subiram mais rápido que a inflação).
Desta forma, avalia a equipe do banco, se o Banco Central transmitir uma mensagem hawkish (dura, mostrando preocupação com inflação e indicando aumento de juros) crível na reunião de hoje, isso pode fazer com que a recente lacuna de desempenho entre o dólar e o real continue a fechar. Isso também deve proteger a moeda de uma deterioração adicional com relação às notícias sobre o fiscal ou de inflação, especialmente levando em conta os níveis já esticados.
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Cabe destacar que, na última terça-feira, o dólar teve a quinta sessão de queda frente o real e retornou para patamar abaixo de R$ 5,50, em meio à expectativa de que o Brasil atraia mais recursos financeiros com a combinação entre alta de juros no país e corte de taxas nos EUA.
(com Reuters e Estadão Conteúdo)