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SÃO PAULO – As esperanças de que 2014 pode ser um ano diferente na bolsa brasileira, após o pífio desempenho geral da grande maioria das ações das no ano anterior, começam a cair por terra já na primeira metade de janeiro. Uma breve análise das estatísticas curtas traz interpretações mais negativas do que positivas sobre o cenário da Bovespa, que, de um modo geral, acompanha o pessimismo dos investidores quanto ao quadro macroeconômico do País.
No ano que acabou de começar, 57 dos 72 papéis que compõem o Ibovespa acumulam perdas entre o primeiro pregão do ano e o fechamento de 17 de janeiro – ou seja, 79,2% das ações do principal índice da bolsa estão valendo menos hoje do que no começo do ano. Destes 52, vemos que 37 deles caem mais de 5% neste começo de 2014, enquanto 5 destes já têm perdas superiores a 10%.
Com isso, o Ibovespa já acumula queda de 4,52% no ano até a última sexta-feira (17), estendendo as perdas de 15,5% relatadas nos 12 meses de 2013. Vale ressaltar que no último pregão o índice de ações terminou em sua menor pontuação desde 8 de agosto do ano passado, ficando em 49.182 pontos.
Entre as empresas mais “castigadas” pela maior aversão do mercado a riscos em um País que deixou de trazer as perspectivas positivas de anos atrás, aparecem BRF (BRFS3), Bradespar (BRAP4), Sabesp (SBSP3), Ecorodovias (ECOR3) e Brookfield (BISA3), com respectivas perdas acumuladas de 11,57%, 11,20%, 10,73%, 10,68% e 10,43%, denotando um contexto ainda mais preocupante: cada uma pertence a um setor distinto, o que mostra que o momento ruim na bolsa pode estar se alastrando e afetando as mais diversas companhias, independentemente de seu modelo de negócio.
Refletindo a manutenção do cenário cada vez mais desfavorável, aparecem também as ações das duas principais blue chips da Bovespa, Petrobras (PETR3; PETR4) e Vale (VALE3; VALE5), que juntas respondem por 23,60% da composição total da carteira teórica do Ibovespa. Do lado da estatal, as ordinárias acumulam desvalorização de 8,63% no ano, contra 9,19% de queda das preferenciais. Já do lado da mineradora, os papéis ON acumulam perdas de 9,02%, contra 8,28% de desvalorização dos PNA. Bancos e siderúrgicas – empresas que também têm grande peso sobre o índice – também caem em bloco em 2014, com destaque para as perdas de Bradesco (BBDC3; -8,49% no acumulado de 2014) e Gerdau (GGBR4, -5,73% no mesmo período).
Nem mesmo as companhias vistas como “queridinhas” do mercado nos últimos anos escaparam da maré pessimista. Depois de mais um ano dourado na bolsa, as educacionais começam a dar indícios de que investidores estão optando por realizar ganhos, fazendo com que as ações do setor acumulassem desempenhos negativos neste começo de 2014, em um movimento de correção nos preços. Nada sobre pra sempre e sem parar. Com isso, Kroton (KROT3) – campeã de 2013 -, Anhanguera (AEDU3) e Estácio (ESTC3) acumulam perdas acumuladas de 4,10%, 7,65% e 4,90% desde o primeiro pregão de janeiro.
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…e os últimos serão os primeiros?
No extremo oposto, e entre as exceções das estatísticas, aperecem duas das ações mais “punidas” em 2013: Oi (OIBR4) e Marfrig (MRFG3), que acumulam respectivos ganhos de 23,12% e 15,25% desde o primeiro pregão deste ano, sinalizando uma possível volta por cima. A primeira surfa na onda do sinal verde dado pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para a fusão da companhia com a Portugal Telecom, que resultará na criação da Corpco. A notícia repercutiu positivamente nas ações de outras empresas do setor, como TIM Participações (TIMP3) e Telefônica Brasil (VIVT4), que aparecem nas posições de terceiro e quarto no ranking do desempenho acumulado em 2014, com respectivas altas de 8,68% e 4,99% no período.
Já a Marfrig, depois de seguidos revezes na bolsa, vê suas ações iniciarem uma recuperação em meio ao acordo fechado com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) – o maior credor da empresa – pela conversão de debêntures, uma notícia bem vista pelo mercado no curto prazo, mas que, segundo analistas, não tem força para reverter a complicada situação da empresa.
Outro destaque de alta do período, a ALL Logística (ALLL3) também foi uma empresa que sofreu bastante em 2013 na bolsa, em meio a um grave acidente de trem ocorrido em São José do Rio Preto (SP) e os sinais de sucateamento da malha ferroviária brasileira. A notícia de que a empresa pode se fundir com a Rumo Logística, companhia controlada pela Cosan (CSAN3), ajudou os papéis ALLL3 virarem para alta e recuperarem um pouco do que perderam recentemente, acumulando em 2014 ganhos de 3,81%.
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Um setor que também não tem perspectivas tão boas e vê algumas de suas empresas registrado desempenho positivo desde 2 de janeiro é o imobiliário, com destaque para Cyrela (CYRE3) e MRV (MRVE3), com respectivos ganhos de 2,64% e 1,19% no período, em meio às prévias do último trimestre do ano anterior terem visto acima do que esperava o mercado, mesmo com o receio cada vez maior do mercado com a possibilidade estar se formando, no Brasil, uma bolha semelhante àquela da crise nos Estados Unidos.
Exportadoras em vantagem?
Por fim, com o cenário macroeconômico deteriorado e a tendência de forte alta do dólar nos próximos meses com a diminuição da liquidez da moeda americana no mercado brasileiro, empresas com foco em exportação podem ter uma leve vantagem e driblar o mau momento da bolsa brasileira. Uma companhia que aponta para esse sentido é a Embraer (EMBR3), cujas ações ocupam a quinta posição de melhor desempenho acumulado desde o primeiro pregão de 2014, com ganhos de 4,98%.
Com a retomada das economias mais tradicionais do planeta e a principal divisa global em tendência de valorização em comparação com o real, quem sabe este não possa ser um bom momento para as ações darem sequência aos vôos acumulados do ano anterior?