Petrobras e os preços “congelados”: qual o impacto se o petróleo seguir em alta?

Atualmente o Goldman vê o diesel da estatal cerca de 8% abaixo do referencial internacional da ANP

Felipe Moreira

Tanque da Petrobras em Brasília 30/9/2015 REUTERS/Ueslei Marcelino/Arquivo
Tanque da Petrobras em Brasília 30/9/2015 REUTERS/Ueslei Marcelino/Arquivo

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Diante do recente aumento de preços do petróleo Brent, que é referência de preços para a Petrobras (PETR4), o Goldman Sachs realizou uma análise de sensbilidade sobre o impacto nos resultados da estatal. A commodity acumula ganhos de cerca de 13% ao longo deste ano, em meio às tensões geopolíticas globais e taxa de câmbio. Enquanto isso, a Petrobras não aumentou os preços da gasolina e do diesel este ano, com integrantes do mercado apontando um aumento da defasagem, o que gera um novo temor para as ações.

Na última quinta-feira (18), presidente da empresa, Jean Paul Prates, disse que não via razão para mexer nos preços de combustíveis. “Nós estamos avaliando o cenário internacional e, por enquanto, não há nada que faça a gente mover (preços), e o próprio preço do petróleo indica isso”, comentou.

O banco americano concluiu que uma alta de preços do petróleo é positiva para a Petrobras tanto do ponto de vista do Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) quanto do FCF (fluxo de caixa livre), mesmo se a estatal congelar os preços dos combustíveis no mercado doméstico.

Isso porque, segundo o banco, o efeito de margens mais baixas na refinaria em um cenário de ausência de repasse nos preços do diesel e da gasolina deve ser mais do que compensado por resultados mais fortes com exportações de petróleo e a venda de outros produtos refinados (por exemplo, combustível de aviação e bunker).

De acordo com cálculos, em um cenário de congelamento dos preços do diesel e da gasolina, cada aumento de US$ 10 por barril nos preços do Brent poderia levar a um aumento de cerca de US$ 3 bilhões no Ebitda e a um aumento de cerca de US$ 2 bilhões no FCF (aumento de US$ 1,4 bilhão no FCF se a Petrobras importasse combustíveis com prejuízo neste cenário).

A equipe de analistas do banco comenta que embora este não seja o caso base, dado o quadro de governança em vigor, essa tem sido uma pergunta frequente dos investidores (os efeitos de um possível congelamento dos preços dos combustíveis).

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O Goldman destaca que, embora os preços do petróleo Brent tenham subido 13% no acumulado do ano, os preços do diesel no Golfo do México aumentaram apenas 5% no acumulado do ano, pois spreads de margens mais fracos compensaram parcialmente o impacto dos preços mais altos do petróleo bruto.

Adicionalmente, os estoques de combustíveis mantidos pelos distribuidores podem estar atualmente em níveis saudáveis, pois o setor acelerou as importações no final do ano passado para provavelmente se beneficiar dos ganhos com inventário.

Na visão do banco, esses fatores podem ter reduzido a pressão sobre a Petrobras para ajustar os preços para cima (já que a dependência de importações adicionais é menor em um contexto de estoques saudáveis), apesar do recente aumento do Brent. Para referência, atualmente o banco vê o diesel da estatal cerca de 8% abaixo do referencial internacional da ANP.

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Por fim, o Goldman Sachs mantém recomendação de compra para ações preferenciais e ordinárias da Petrobras, com preço-alvo de, respectivamente, R$ 44,90 e R$ 49,40 para os ativos PETR4 e PETR3, ou potencial de alta de 8,5% e 14% em relação ao fechamento da véspera. A preferência no setor segue, contudo, para as ações da PRIO (PRIO3).