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Nos últimos dias, tem ganhado destaque no noticiário as informações sobre o avanço da Ucrânia em recuperar territórios ocupados pela Rússia, cerca de 200 dias depois do início da invasão do país.
“A Ucrânia empreendeu um impressionante contra-ataque no norte, retomando a estrategicamente importante região de
Kharkiv enquanto o exército russo fugia. O exército russo tinha linhas de defesa tênues, concentrando-se em ganhar
território do Sul. No entanto, a Ucrânia também está contra-atacando do Sul, tomando território importante aos arredores de Kherson. Os inúmeros erros do exército russo permitiram que um exército ucraniano reequipado contra-atacasse”, destacou a gestora Ashmore, sobre os eventos do último fim de semana.
Em um discurso na noite desta terça-feira, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que cerca de 8 mil quilômetros quadrados foram liberados até agora, aparentemente todos na região de Kharkiv, no nordeste.
Em relatório, Gustavo Medeiros, responsável pela área de pesquisa macroeconômica global e de mercados emergentes da gestora, destacou a avaliação de analistas militares, que apontam que os recentes desenvolvimentos sugerem que as forças armadas russas estão à beira do colapso.
“O presságio de uma derrota russa também pode ser um golpe fatal para o regime do presidente russo Vladimir Putin,
considerando o desvanecimento enfrentado pelos Romanov após a derrota da Rússia na guerra contra o Japão em 1905”, aponta.
Este é um cenário plausível, na avaliação de Medeiros, mas é preciso ser cauteloso, principalmente sobre a possibilidade de um colapso no regime russo.
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Na avaliação da Ashmore, se Putin pensa que está perdendo a guerra, ele terá duas opções: i) escalar ainda mais usando artilharia pesada em áreas civis, ou mesmo armas de destruição em massa (Putin disse que a Rússia usaria armas nucleares se uma ameaça à soberania do país for provável) ou ii)) tentar organizar um acordo de paz precipitado.
Na avaliação de Medeiros, o primeiro cenário reduziria a probabilidade de uma solução para a crise energética e alimentar antes do inverno e provavelmente levaria os países ocidentais a aumentar a amplitude e o alcance das sanções contra a Rússia. A Rússia retaliaria bloqueando as exportações de grãos da Ucrânia.
“Os preços das commodities, que vêm caindo desde maio, acelerariam novamente, ameaçando a atual tendência desinflacionária e aumentando os riscos de haver instabilidade financeira em todo o mundo”, aponta.
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O segundo cenário levaria ao efeito oposto. Um cessar-fogo e um acordo de paz provavelmente coincidiriam com a normalização do fluxo de commodities da Ucrânia e alguma melhora também da Rússia. Os preços das commodities poderiam cair fortemente, considerando que a demanda por commodities vem caindo em 2022 devido a preços elevados, juntamente com a desaceleração econômica global em curso.
“Infelizmente, consideramos o cessar-fogo um cenário improvável. O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky permanece
comprometido a recuperar todo o território ucraniano, incluindo a Crimeia. Após 200 dias de guerra, um cessar-fogo não seria popular, tanto na Ucrânia quanto no exterior. É difícil acreditar que a Rússia esteja pronta para permitir que a Ucrânia recupere a Crimeia ao lado de sua base militar estratégica no Mar Negro, enquanto uma derrota no Donbass seria humilhante para a Rússia”, afirma.
Descontentamento
A CNBC destaca que há rumores de descontentamento na Rússia com a guerra, com até defensores ferrenhos do Kremlin questionando o conflito em fóruns públicos, inclusive na TV estatal.
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“Fomos informados de que tudo está indo conforme o planejado. Alguém realmente acredita que há seis meses o plano era sair [da cidade de] Balakliya, repelir uma contra-ofensiva na região de Kharkiv e não assumir o controle de Kharkiv?”, disse o especialista político habitualmente pró-Putin, Viktor Olevich, no canal estatal NTV, conforme informou o Moscow Times.
Outra figura pública, o ex-legislador Boris Nadezhdin, disse que a Rússia não venceria a guerra se continuasse lutando como estava, e disse que precisava haver “ou mobilização e guerra em grande escala, ou a saída”.
Analistas da consultoria de risco global Teneo observaram, segundo a CNBC, que as perdas militares e a humilhação das tropas russas “representam riscos para o regime do presidente Vladimir Putin, já que as críticas domésticas à condução da chamada operação militar especial estão aumentando de vários lados. ”
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“Como resultado, Putin enfrenta uma pressão crescente para responder a dinâmicas cada vez mais desfavorável na linha de frente, que pode incluir movimentos de escalada ou pedidos para iniciar negociações de cessar-fogo”, acrescentaram.
“Moscou enfrenta uma escolha difícil agora, acredito: enfrentar uma derrota humilhante na Ucrânia – o que parece inevitável, dadas as atuais implantações de tropas e cadeias de suprimentos – ou pedir a paz”, disse Timothy Ash, estrategista soberano sênior de mercados emergentes da BlueBay Asset Management, em nota na segunda-feira.
Ash disse que, depois do que ele esperava serem ataques aéreos intensivos na Ucrânia, Putin pode tentar iniciar negociações de paz “sérias”. “Mas ele terá de se apressar, pois o solo na Ucrânia, e possivelmente até em Moscou, está mudando rapidamente sob seus pés”, observou Ash.
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Agora, os pensamentos estão se voltando para uma possível retaliação russa, com o ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, dizendo ao Financial Times que esperava por contra-ataque.
A Rússia já tinha lançado intenso bombardeio na região de Kharkiv no domingo à noite, deixando-a sem eletricidade e água. O vice-ministro da Defesa ucraniano disse à Reuters que é muito cedo para dizer que o seu país tem controle total da área.
“A história militar do Kremlin está se tornando pior”, disse Ian Bremmer, presidente do Eurasia Group, em nota na segunda-feira. “À medida que isso continua, pressiona Putin a pedir uma mobilização – provavelmente parcial, mas ainda um movimento político e socialmente caro para o presidente russo em casa, que o forçará a declarar guerra à Ucrânia [atualmente, a Rússia classifica a guerra como ‘operação especial’ e admitir tacitamente que a Rússia está enfrentando problemas militares”, disse ele em comentários por e-mail.
Para Bremmer, a disposição russa de elaborar uma ‘punição’ deve ser levada em conta, tanto em termos de infligir baixas em massa à Ucrânia por meio de um maior direcionamento militar a centros urbanos, quanto, no pior dos casos, usando produtos químicos ou mesmo armas nucleares táticas no campo de batalha para semear o pânico em massa”, acrescentou .
“Se houver uma provável mudança de curto prazo na guerra da Rússia daqui para frente, é uma escalada e não um avanço negociado”, avalia.
(com informações da CNBC)
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