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Em uma escalada de tensões comerciais, os EUA anunciaram no início da semana que as tarifas sobre importações chinesas serão dobradas de 10% para 20%.
Em resposta, a China vai impor tarifas adicionais de até 15% sobre as principais importações agrícolas dos EUA, a partir de 10 de março. Especificamente, as importações de frango, trigo, milho e algodão dos EUA enfrentarão uma tarifa extra de 15%, enquanto soja, sorgo, carne suína, carne bovina, frutos do mar, frutas, vegetais e laticínios enfrentarão uma tarifa extra de 10%.
Além disso, a tarifa de importação de 25% anunciada anteriormente sobre o Canadá e o México também foi imposta, embora já haja indícios de que isso possa ser relaxado. Por enquanto, o Canadá implementou uma tarifa de 25% sobre cerca de US$ 30 bilhões em produtos dos EUA, com potencial para estendê-la para US$ 125 bilhões nas próximas semanas, enquanto o México indicou que tarifas retaliatórias também podem ser reveladas.
Na visão do Itaú BBA, as notícias recentes devem implicar em: i) pressão de queda sobre as exportações agrícolas dos EUA; ii) ajustes de preços no mercado global de grãos e proteínas à medida que a oferta é redirecionada; iii) algum potencial de alta para as exportações brasileiras para a China; iv) preços mais altos de grãos no Brasil; e v) aumento de volatilidade do mercado de commodities em meio à escalada de tarifas.
O Bradesco BBI espera que o impacto sobre as empresas de proteína seja limitado neste estágio. Em 2024, os volumes de exportação de carne bovina, suína e de aves dos EUA para a China representaram 16%, 6% e 4% de suas exportações totais, respectivamente, mas nem mesmo1% de sua produção total para cada um.

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Para carne bovina, espera-se que os EUA sejam um importador líquido em 2024. Mesmo que as exportações para a China diminuam, esses volumes devem ser redirecionados para outros mercados e, dada sua pequena participação na produção geral dos EUA, não prevemos um impacto material nos preços domésticos ou no equilíbrio de oferta/demanda global.
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Os EUA também desempenham um papel um tanto limitado nas importações totais de proteína da China (5% para carne bovina, 10% para carne suína e 11% para aves).
Se outros países, particularmente o Brasil, intervirem para compensar qualquer redução nas exportações dos EUA para a China, o banco acredita que os benefícios provavelmente também seriam marginais.
Além disso, a demanda de importação da China e os preços pagos enfraqueceram desde o surto de peste suína africana, com os volumes de importação de carne suína e de aves caindo drasticamente e os preços da carne bovina despencando.
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Para as empresas de proteína, as tarifas entre os EUA, Canadá e México podem ter um efeito mais direto devido às cadeias de produção interligadas e aos fluxos comerciais entre esses países. No entanto, o Canadá e o México, que respondem por cerca de 35% das exportações de carne suína dos EUA, não estão impondo tarifas sobre a carne suína dos EUA no momento.
“Enquanto isso, não esperamos que os frigoríficos, que atuam apenas como intermediários na cadeia de valor, acabem arcando com o custo das tarifas dos EUA sobre as importações de gado desses países (representando cerca de 5% do abate total dos EUA) assim que os fluxos comerciais se normalizarem. Também há indícios de que os EUA podem relaxar as tarifas sobre Canadá e México, encurtando ainda mais qualquer possível interrupção”, avalia a equipe de análise.
Já a China impondo tarifas sobre as importações de soja e milho dos EUA pode desencadear outra mudança nos fluxos de comércio global.
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Para a soja, o Brasil tem mantido uma participação dominante nas importações da China desde a guerra comercial de 2018, respondendo por até cerca de 70%, em comparação com a participação atual de aproximadamente 21% dos EUA. Para o milho, espera-se que as importações da China diminuam em relação às altas recentes, mas o Brasil emergiu como um exportador para a China, o que não foi o caso em 2018.
Na visão dos analistas, uma escalada das tensões comerciais pode favorecer ainda mais o Brasil, potencialmente aumentando os preços domésticos lá enquanto deprime os preços nos EUA (por exemplo, ampliando o prêmio nos portos brasileiros). Esse efeito pode se tornar pronunciado apenas no 2S25, no entanto, quando a China normalmente aumenta as importações dos EUA.
No geral, o BBI ainda não vê um evento transformador que altere as suas expectativas ou previsões. Dentro do universo de cobertura, a SLC (SLCE3) pode se beneficiar de preços mais altos de grãos no Brasil se as tensões comerciais aumentarem (os custos de produção de grãos dos EUA também podem aumentar se as tarifas sobre fertilizantes canadenses persistirem). O BBI tem recomendação neutra para SLCE3, com preço-alvo de R$ 22.
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A BRF (BRFS3), cuja recomendação é neutra com preço-alvo de R$ 23, pode ser impactada negativamente por preços mais altos de ração, então os preços de exportação de aves e suínos seriamos pontos a serem observados para compensá-los.
A JBS (JBSS3), com recomendação de compra e preço-alvo de R$ 48, parece menos afetada no cenário atual: a Seara enfrenta riscos semelhantes, já que a BRF, a PPC e a US Pork se beneficiam de preços mais baixos de grãos nos EUA, e as margens de contribuição da US Beef já são esperadas em praticamente zero. “Para as unidades de negócios da JBS nos EUA, o fator crítico será se os fluxos comerciais para o Canadá e o México permanecerão intactos”, avalia o BBI.
O Itaú BBA cita, entre as ações brasileiras, que SLC e BrasilAgro (AGRO3) provavelmente se beneficiarão dessas dinâmicas. Por outro lado, JBS e Marfrig podem ter suas operações localizadas nos EUA enfrentando dinâmicas mais desafiadoras no curto prazo – o que pode ser compensado por melhores dinâmicas na Austrália e América do Sul.