Publicidade
Entre diversas medidas anunciadas na véspera e que afetam o mercado doméstico, o governo brasileiro anunciou sua intenção de isentar indivíduos que ganham até R$ 5 mil por mês do imposto de renda (um aumento em relação ao atual limite de R$ 2.824).
Por outro lado, indivíduos que ganham mais de R$ 50 mil por mês podem enfrentar impostos de renda mais altos para equilibrar a isenção.
A medida, proposta pelo Ministério da Fazenda, ainda precisa da aprovação do Congresso e entrará em vigor em 2026.
Quanto você precisa para viver de Dividendos?
Participe do treinamento gratuito Manual dos Dividendos e descubra a estratégia simples e poderosa para viver de renda.
Em uma primeira reflexão, os analistas do Itaú BBA destacaram quais os possíveis impactos sobre as métricas de crédito do Brasil em diferentes classes de renda. Para eles, os players de crédito de baixa renda, como Nubank (BDR: ROXO34), Banco Pan (BPAN4) e, em menor grau, Bradesco (BBDC4), podem se beneficiar com a renda extra de seus clientes. Por outro lado, há uma preocupação com as potenciais pressões inflacionárias que isso pode trazer.
“Quem esperava mais que isso é politicamente ingênuo”, diz ex-ministro sobre pacote
“O máximo que o governo pode esperar é que esse pacote dê uma sobrevida ao arcabouço fiscal até 2026”, diz Maílson da Nóbrega. Para ele, o país enfrenta risco de grave crise fiscal se não reduzir gastos obrigatórios
Dividendos terão IR de 10%? Entenda imposto mínimo proposto pelo governo
Imposto mínimo considera dividendos para cálculo, mas não é aplicado diretamente sobre os proventos; veja como deve funcionar
O novo limite de isenção do imposto de renda de R$ 5 mil por mês abrange trabalhadores que ganham um pouco mais de três salários mínimos (salário mínimo de R$ 1.412 por mês). O BBA estima que esse grupo de renda represente cerca de 36% do total de crédito varejista, sendo que o atual limite de isenção cobre aproximadamente 20%. Portanto, um adicional de 16% dos tomadores de crédito nacional verá seus salários líquidos aumentar entre 15% e 23% (sua atual alíquota de imposto de renda).
Isso deve resultar em um aumento estimado de cerca de R$ 45 bilhões por ano em sua renda líquida. Uma análise por produto mostra que três destes grupos de renda são mais notórios em cartões de crédito, empréstimos consignados e habitação, enquanto que as faixas de renda mais baixa concentram os maiores índices de inadimplência (NPLs).
Continua depois da publicidade
Assim, a medida deve ter um impacto positivo na dinâmica de crédito desse grupo, “mantendo todos os outros fatores constante”. Essa demografia tem uma alta tendência de consumo em relação à poupança, portanto, é provável que vejamos mais gastos com cartões do que depósitos e/ou volumes de crédito.
Desta forma, os players de baixa renda podem se beneficiar no curto prazo, mas o médio prazo é mais incerto. Nu, Banco Pan e Bradesco (nesta ordem) são os bancos da cobertura do BBA com maior exposição aos segmentos beneficiados pela isenção de impostos.
“Estimamos que 2/3 dos empréstimos pessoais e cartões de crédito da Nu estejam com trabalhadores que ganham até três salários mínimos. O mercado de empréstimos consignados também pode ver benefícios. Um empréstimo é limitado ao quanto a parcela mensal representa do salário líquido de uma pessoa (35-40%)”, avaliam os analistas.
Com a provável diminuição dos impostos, mais salário líquido significa limites mais altos para empréstimos consignados. “Infelizmente, a alta na curva do CDI está tornando os empréstimos consignados economicamente inviáveis para muitos players no momento. O lado negativo desses benefícios é que, se a inflação acelerar, como muitos dos clientes da Nu e do Pan são trabalhadores informais ou microempreendedores, não se beneficiarão da isenção fiscal, mas sentirão o impacto da inflação”, avalia.
Continua depois da publicidade
Impostos mais altos sobre uma renda mais alta também podem ser piores para bancos tradicionais e plataformas de investimento.
O governo também anunciou que indivíduos com uma renda total (salário, aluguel, dividendos, etc.) acima de R$ 50 mil por mês, mas que atualmente pagam menos de 10% em impostos de renda total, agora terão que pagar até 10%. Um trabalhador formal já paga até 27,5% de imposto de renda, e isso não mudará. A medida afeta mais profissionais que recebem dividendos isentos de impostos de suas empresas, por exemplo. Os detalhes ainda estão sendo discutidos.
Os dados do Banco Central para este grupo de renda acima de R$ 50 mil por mês são desafiadores de interpretar, pois o maior grupo de distribuição de crédito termina com mais de 20 salários mínimos (acima de R$ 28 mil por mês). No entanto, como referência, esse nível de renda representa cerca de 22% do crédito varejista, com a maior concentração em empréstimos pessoais. Portanto, esse grupo é onde a renda líquida pós-impostos mais baixa pode impactar depósitos, volumes de gastos e dinâmicas de crédito – nesta ordem. Os grandes bancos incumbentes e plataformas de investimento estão mais expostos a esses segmentos, avalia o BBA.