Lula versus Bolsonaro: quais ações devem ganhar em cada cenário? Gestores e analistas fazem suas apostas

Especialistas não veem cenário tão binário, mas apontam que pode haver diferença na composição entre altas e baixas da Bolsa a depender do vencedor

Lara Rizério Vitor Azevedo Mitchel Diniz

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Uma eleição menos binária, mas nem por isso sem emoções. Com a proximidade do pleito eleitoral, analistas e gestores se debruçam sobre os cenários para o mercado financeiro levando em conta quem irá governar o país nos próximos quatro anos e as suas políticas.

A maior parte dos especialistas pondera que entre os dois candidatos que estão na frente nas pesquisas eleitorais, um já esteve no posto (Luiz Inácio Lula da Silva, do PT) ou ocupa o cargo atualmente (Jair Bolsonaro, do PL) e, por isso, o ambiente é menos turvo, independentemente de quem seja eleito.

Os gestores da Legacy Capital avaliam, em carta mensal, que o período pré-eleitoral deverá viver em setembro e outubro sua fase mais movimentada, o que deve acarretar “alguma” volatilidade nos preços dos ativos locais. Eles ponderam, entretanto, que de, forma geral, isso não apresenta um risco “significativo” de baixa para os ativos brasileiros em função dos resultados eleitorais.

Em evento recente da TAG Investimentos, Claudio Delbrueck, sócio-fundador da Solana Capital, destacou que a sua expectativa é de que o pós-eleição deva ser um gatilho positivo para a Bolsa, independentemente de quem ganhe, por tirar um fator de incerteza do radar. Contudo, as dinâmicas serão distintas.

“Obviamente essa potencial alta vai depender muito do mercado externo. Mas, olhando no mercado doméstico, apesar de acreditarmos que a Bolsa vá subir nos dois cenários [com Lula ou Bolsonaro], a dinâmica dessa alta vai ser bem diferente. Se o Bolsonaro for eleito, vai ser uma continuidade da política atual (…) Estatais e bancos se beneficiam”, avalia.

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Por outro lado, aponta, “se lembrar do governo do PT e mesmo se olhar o programa do partido, o Estado é o indutor do crescimento, eles falam abertamente sobre isso. Se o Estado é o indutor do crescimento, principalmente na parte de crédito, vão usar Banco do Brasil BBAS3, BNDES, Caixa Econômica Federal, para dar mais crédito. Isso acaba sendo muitas vezes uma competição desleal com os bancos privados. Num governo do PT, o cenário para os bancos não é tão positivo quanto numa renovação do governo Bolsonaro”, avalia. Além disso, avalia, o investimento das estatais em possíveis projetos sem tanto retorno pode piorar o cenário para as estatais.

Já empresas mais voltadas à baixa e média renda não deveriam se beneficiar tanto em uma eventual continuidade do poder, enquanto poderiam ganhar com o petista. “Baixa renda deve se beneficiar [com o petista]. Lula vem falando em fomentar a economia e sinalizou isenção de IR de quem ganha até R$ 5 mil – essa faixa poderia ter um desempenho relativo melhor. Estamos falando de incorporadoras, de educação, consumo como um todo, em detrimento a estatais e bancos. A composição [de quem ganharia] seria diferente, mas [o cenário é de] Bolsa para cima”, reiterou o gestor.

A visão de um cenário de “não extremos” é compartilhada por Marcos Peixoto, sócio e gestor de renda variável da XP Asset, e Gustavo Salomão, CFA, CIO da Norte Asset, em falas recentes no podcast Stock Pickers, do InfoMoney.

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Para Peixoto, esta eleição deve ser “mais chata” para o mercado após os pleitos de 2014 e 2018. “Para o Ibovespa, não tem tanto aquela coisa, como em 2018, de percepção do Bolsonaro ganhando como ‘a salvação da lavoura’ e da Bolsa caindo se o [Fernando] Haddad [candidato do PT na ocasião] ganhasse. Acho que [o cenário] está meio parecido [para qualquer um que ganhe a eleição]”, avaliou, destacando não ver tanta volatilidade no mercado por conta do ingrediente eleitoral.

Salomão, da Norte Asset, ressalta que o mercado está monitorando as evoluções de pesquisas e as declarações de candidatos, mas também avalia que a eleição é diferente das últimas. “Nas últimas tinha o candidato queridinho do mercado e o que não era. Na última, o mercado queria o Bolsonaro e não queria o Haddad. Na penúltima, queria o Aécio [Neves, do PSDB] e não queria a Dilma [Rousseff, do PT] (…) Desta vez, não existe essa posição do preferido por todo mundo”, avalia. Contudo, vê impacto maior para as ações das estatais, a depender do vencedor, notoriamente a Petrobras (PETR3;PETR4).

Isabel Lemos, gestora de ações da Fator Administração de Recursos, avalia que os dois candidatos que estão na frente, de modo geral, são conhecidos pelo mercado interno e externo, o que traz algumas vantagens no sentido de menor insegurança em questões mais gerais.

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Também na visão dela, o mercado está relativamente barato. Com a entrada de um ou outro candidato e pode haver impactos setoriais, mas, de modo geral, a Bolsa continua com viés positivo, devido a outras variáveis, como o arrefecimento da inflação.

Confira abaixo a visão de gestores e analistas de mercado sobre quais ações devem se beneficiar em cada cenário – e quais não devem ser tão afetadas pelo ambiente eleitoral:

Petrobras e bancos
Educacionais
Construtoras
Consumo
• Setores regulados

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Estatais: mais protegidas do que em anos anteriores?

As principais questões do mercado recaem sobre como vai ser a condução das estatais em uma eventual mudança de governo e quais seriam as medidas a serem adotadas em caso de continuidade do atual.

Em seus planos de governo, Lula mostra oposição forte à privatização da Petrobras, propõe que a estatal tenha seus planos estratégico e de investimentos orientados para a garantia do abastecimento de combustíveis, voltando a ser uma empresa integrada de energia, exploração, produção, refino e distribuição. Lula também se opõe à privatização da Eletrobras, concluída em 2022, e à dos Correios. Já o plano de Bolsonaro não menciona expressamente a privatização da Petrobras ou dos Correios, mas defende que a desestatização da Eletrobras é um exemplo de que tais operações são possíveis.

Nos cenários extremos, conforme destacou Bruno Pascon, cofundador e diretor da consultoria em energia CBIE Advisory (Centro Brasileiro de Infraestrutura), ao InfoMoney, Bolsonaro privatizaria a Petrobras, enquanto Lula estatizaria totalmente a empresa (100% do capital nas mãos do governo). Atualmente, a Petrobras é uma empresa de economia mista.

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Nos cenários intermediários, com a vitória do atual presidente, a Petrobras seguiria com a venda de refinarias (conforme tratado estabelecido em Termo de Compromisso de Cessação, ou TCC, assinado com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica, o Cade), enquanto com a vitória do petista a companhia investiria mais por conta própria na área de refino. Um ponto em comum seria a continuidade da exploração e da produção do pré-sal, avaliou Pascon.

As ações da petroleira são de longe as mais monitoradas e que mais podem ser impactadas com o pleito eleitoral, com maiores projeções de alta em caso do governo Bolsonaro e maior incerteza com Lula, mas com divergências sobre se vale a pena estar posicionado no papel no atual momento.

Guto Leite, gestor de renda variável da Western Asset, avalia que há mais incerteza sobre a política para a companhia com Lula. “Tivemos as práticas do governo PT, principalmente no governo Dilma, com interferências muito ativas na Petrobras e no Banco do Brasil. Não sabemos se o governo Lula irá seguir essas políticas, mas é fato que, nos últimos quatro anos, mesmo com todo o barulho que houve, as empresas estão vivendo os seus melhores resultados em décadas ou em sua história”, aponta.

De acordo com uma gestora ouvida pelo InfoMoney, quem comprou a ação da Petrobras não tem expectativa de que ela será privatizada no próximo governo. A compra se justifica pelo fato de que a empresa tem sido uma super geradora de caixa e está vendendo ativos há algum tempo. “Com o Lula, pode haver mais volatilidade, mas não acho que vai ser relevante. O mercado vai acompanhar como estará o preço da commodity”, avalia.

Pedro Queiroz especialista em renda variável da SVN, considera a Petrobras muito atrativa, pois projeta o preço do petróleo em patamar elevado por uma questão estrutural. “O governo atual fez uma estratégia de tirar o fardo da política de preços, está tentando vender refinarias. Mas, até então, nada em vista de uma possível privatização. É uma questão muito mais complexa.”.

A favor da estratégia para o investidor colocar seu dinheiro na estatal, analistas avaliam ainda que tanto a Petrobras quanto outras estatais estão mais blindadas do que outras companhias com relação a eventuais mudanças de governo.

O Goldman Sachs aponta que, embora os investidores devam ter em mente que, dependendo dos resultados das eleições de outubro, pode haver riscos para algumas histórias de investimento, há um ambiente mais saudável para as estatais em geral em relação aos ciclos eleitorais anteriores. Analistas do banco estimam que a Petrobras terminará 2022 com uma relação entre dívida líquida e Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) cerca de 60% abaixo da verificada nos anos eleitorais anteriores. Os analistas destacam também os menores riscos com a introdução das Lei das Estatais em 2016.

Sara Delfim, da Dahlia, aponta ainda que o cenário de não-privatização da Petrobras está no preço do ativo e que, apesar das diversas mudanças de CEO da companhia durante o governo Bolsonaro, não houve mudança na política de combustíveis. A gestora estima que, só em 2022, o governo poderá receber cerca de R$ 50 bilhões em proventos e dividendos.

“[O discurso contra o lucro da Petrobras] Faz parte da narrativa, como se ele fosse perdido no universo, sendo que uma boa parte [do lucro] vai para o governo e é uma fonte importante para as áreas que precisam. O lucro da Petrobras mais ajuda que atrapalha. Acredito que o Lula, se for eleito, entenderá que isso tem que ser respeitado. Ele sabe que o dinheiro vai para o bolso do governo assim como dividendo do BB, da Caixa e de outras estatais”, afirma.

Peixoto, da XP Asset, destacou no Stock Pickers que vê um potencial de valorização maior para a Petrobras num eventual governo Bolsonaro e, se houver a privatização, a companhia poderia facilmente dobrar de valor, enquanto o cenário com Lula é mais incerto. “Mesmo se não for privatizada, tem mais assimetria para cima do que para baixo. Mudar lei das estatais é mais difícil, a ação pode até cair, mas é mais difícil saber o quanto vai cair”, avalia.

Com relação ao Banco do Brasil, Peixoto aponta que, se o ativo cair, é oportunidade de compra. O BB, avalia, negocia a múltiplos muito baratos e tem registrado os melhores resultados entre as grandes instituições financeiras em 2022.

Leite, da Western, ressalta que o BB ficou em situação muito delicada com as políticas do governo de Dilma Rousseff, mas vem fazendo uma reestruturação desde 2016 e agora traz resultados até acima dos bancos privados.

Não somente o BB, como os demais bancos, conforme destacado pelo gestor da Solana, devem ser monitorados de perto pelos analistas de mercado, uma vez que eventuais medidas para ampliar o crédito por parte das instituições financeiras estatais podem respingar nos pares do setor privado. Isso caso os bancos públicos iniciem um processo de redução das taxas de juros, pressionando também as outras companhias a baixar as taxas.

Tiago Cunha, gestor de renda variável da ACE Capital, destaca, porém, que pode haver uma limitação pelo próprio capital do BB, o que restringe um empréstimo sem critérios e também o que a estatal pode fazer em termos de políticas públicas.

As estatais estão mais “blindadas”. Porém, com perspectiva de alguma volatilidade à frente, algumas casas têm mostrado maior cautela ante as suas exposições a estatais.

No fim de agosto, o Itaú BBA cortou a recomendação para os ativos de equivalente à compra para neutra após uma forte alta das ações, de 57% desde janeiro. “Ainda vemos fundamentos sólidos para a companhia, principalmente devido a uma visão construtiva sobre os preços do petróleo (nossos modelos assumem que os preços do petróleo permanecerão próximos de US$ 100 o barril em 2023), um valuation atrativo e forte geração de caixa. Além disso, esperamos que a empresa anuncie dividendos no segundo semestre, mas a grande surpresa já aconteceu, com mais de R$ 87 bilhões em dividendos anunciados no segundo trimestre”, apontam os analistas.

O Morgan Stanley tem reiterado sua recomendação equalweight (exposição em linha com a média do mercado, equivalente à neutra) para os ADRs (na prática, os ativos  PBR da companhia, destacando principalmente a volatilidade com a chegada das eleições.

Já a equipe de estratégia da XP, em carteira recomendada para setembro, diminuiu a sua exposição em Banco do Brasil para 5% e elevou o do Itaú para 15%, seguindo com peso de 20% para as ações do setor financeiro.

Educacionais: ganhadoras com Lula?

Analistas e gestores destacam a possibilidade de ganhos para as ações do setor de educação caso Lula ganhe a eleição. O petista tem sinalizado que voltará a fortalecer o sistema de financiamento estudantil caso vença as eleições.

Na avaliação dos analistas do JPMorgan, uma reformulação do FIES poderia ser uma possibilidade, já que permitiu com sucesso que indivíduos de baixa renda frequentassem a universidade durante o governo Dilma Rousseff, e não custaria (inicialmente) muito, sendo cerca de 0,7% do orçamento de educação previsto para 2022.

“Uma reformulação do FIES pode ter um impacto substancial nas tendências de ingressos do campus e de mensalidades. As mensalidades vinham caindo em termos reais nos 10 anos anteriores a 2011, quando o governo começou a expandir o programa, levando a um período de 5 anos de reajustes reais de mensalidades, interrompido um ano após o início da redução do programa, em 2015. Atualmente, o programa do governo compõe 4% dos ingressos em campus de universidades, contra um pico de 39% em 2014”, avalia o JP.

Os principais beneficiários, na visão dos analistas do banco, seriam as empresas Ser (SEER3) e Yduqs (YDUQ3),  com operações significativas e com cursos presenciais representando 71% e 67% da receita total esperados para 2022, respectivamente. Cogna (COGN3) também seria beneficiada, mas em menor grau, já que o campus deve representar 43% das receitas para 2022. A análise pressupõe que o FIES permaneceria limitado a operações presenciais.

Para Guto Leite, da Western, em uma eventual volta do Lula ao poder, o programa pode ganhar mais força do que foi visto com Jair Bolsonaro, mas pondera que “há as amarras do fiscal, estamos em outra situação”. Segundo Leite, Lula, se voltar o poder, teria que ponderar os ganhos sociais e também os custos.

Para Cunha, no caso de educacionais, é importante ponderar o que é o cenário macroeconômico, com maior procura por emprego e qualificação, e o que foi impulsionado por política pública. Ele destaca que, no segundo mandato do governo Dilma, houve uma forte queda das ações de educacionais em meio às mudanças no programa por aumento da inadimplência em um contexto de uma recessão econômica, que tirou muito do ímpeto de procurar educação e qualificação de mão de obra que existia no boom do governo Lula.

Casa Verde e Amarela ou Minha Casa Minha Vida?

O setor de construção civil tem apresentado impulso no curto prazo em meio às novas medidas de fomento e é visto como um possível beneficiário independentemente do governo que for eleito, havendo somente mudanças de foco a depender do resultado da eleição.

Nos últimos meses, diversas medidas têm sido implementadas para estimular o setor, como a ampliação do teto do programa habitacional (Grupos 2 e 3), extensão do prazo de pagamento (30 para 35 anos) e possibilidade de utilizar o FGTS mensal no pagamento das parcelas dos financiamentos.

Em perspectiva, o mercado projeta uma redução de 8% no valor das parcelas, fornecendo maior poder de compra para a população. Sob a visão das construtoras, a ampliação do teto permitirá maior repasse de custos, em um setor que viu os preços do aço dispararem com a Guerra da Ucrânia, mas que no momento apresentam estabilização. Esses aspectos conjuntos, fornecem um cenário de aquecimento ao setor.

Em julho, a Caixa também fez mudanças nas condições de contratação de financiamentos com recursos do FGTS, após aprovação do Conselho Curador do fundo de garantia. Entre as medidas estavam a ampliação das faixas de renda do programa.

No fim de agosto, em reunião com representantes da indústria da construção civil, Lula disse que, se eleito, mudará o nome do programa Casa Verde e Amarela de volta para Minha Casa Minha Vida,  criado em seu segundo mandato. Não há menção a grandes mudanças no radar do ex-presidente do Brasil, embora ele tenha afirmado que o foco deve ser nas famílias de baixa renda e na retomada dos projetos de infraestrutura que faziam parte do “PAC” (Programa de Aceleração do Crescimento).

O BBI não espera alterações significativas no programa chamado atualmente de Casa Verde Amarela se Lula for eleito, mas não descarta que o governo volte o foco para as famílias de baixa renda após uma ampliação dos critérios. Apesar disso, a retomada dos projetos de infraestrutura do PAC, a princípio, deve concorrer com os projetos imobiliários pela mesma mão de obra.

“Na visão do mercado, os programas sociais atrelados à construção civil detêm um tamanho muito elevado para não apresentarem continuidade, bem como função social”, destaca a Levante Ideias de Investimento apontando ainda que, durante este encontro com o petista, o Presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (CBIC), delineou que são necessários mais recursos, com medidas que forneçam consistência e promovam os indicadores.

“No caso dos dois, vemos que o setor de construção civil de baixa renda deve continuar na lupa. É o programa Casa Verde Amarela, no governo atual, ou Minha Casa Minha Vida, no governo do PT”, diz Leite, da Western.

Consumo: possível efeito contrário com os auxílios

Tanto Lula quanto Bolsonaro têm falado em manter auxílio às famílias em R$ 600 no ano que vem, seja com o nome de Auxílio Brasil com o atual presidente ou com a volta do Bolsa Família com o petista.

Sara, da Dahlia, aponta que o brasileiro vai ter mais dinheiro no bolso, ao mesmo tempo a inflação vai começar a ceder, o que pode indicar ser a hora para acrescentar na carteira ações de consumo mais geral.

“Pode-se pensar numa Renner LREN3) que estava muito ‘amassada’ [barata]. Também temos nomes de consumo de mais alta renda e que tem poder de repassar preço, mas pode-se pensar em reduzir um pouco a exposição pra colocar outros bens de consumo na carteira”, avalia.

Bancos, por essa ótica, poderiam ser beneficiados, pois teriam exposição à carteira de credito a consumidor, além de telefonia. “Aproximadamente um terço dos clientes são consumidores pré-pagos, pessoas que dependem do Auxílio Brasil, para recarregar o celular ou para colocar um valor maior de carga no seu celular, é um setor que tem repasse da inflação, teve consolidação e está mais consolidado”, avalia.

Cunha, da Ace, por sua vez, aponta para o impacto fiscal dessas medidas, o que pode levar a um efeito contrário. “Se um auxílio emergencial é prorrogado acima do seu teto fiscal, vai ter um impacto de seis meses ou um ano sobre as vendas no varejo das empresas. Vai haver um fluxo positivo nesse período. Mas, do ponto de vista fiscal, aumentaria o custo de emissão de dívida, com um impacto na curva longa de juro”. Isso afetaria ações de crescimento, como varejistas e empresas de consumo, aponta o gestor.

Além do impacto no setor de consumo em si, Leite, da Western, aponta que um outro debate é, de maneira ampla, sobre o possível aumento de carga tributária para manter os auxílios. “Quais setores serão impactados? O que sempre acaba aparecendo para pagar parte da conta é o setor de bancos. Mas ainda é cedo para cravar quem irá pagar”, avalia.

De concessões a elétricas: setores regulados no radar

O gestor da Western também ressalta os setores regulados, como de concessões, energia elétrica, telecomunicações e saúde, em que o governo federal desempenha um papel importante através das suas agências regulatórias.

Sara, da Dahlia, avalia que, independentemente do eleito, as concessões para o setor privado devem seguir. Ela aponta que há questionamentos se o modelo de concessão adotado pelo petista em seu governo foi bom mas, de qualquer forma, o conceito esteve presente no governo dele, assim como no atual.

“No governo Bolsonaro tivemos muitos eventos, relicitou a Nova Dutra, houve a venda de três blocos de aeroporto, relicitou rodovias que venceram os contratos, novas concessões. Fez agora licitação de Congonhas, teve a renegociação com grandes ferrovias. Andamos bastante e com um marco regulatório redondo, respeitado. O Brasil tem feito um bom trabalho nessa parte de concessões e infraestrutura”, avalia.

Já em relação às declarações de Lula sobre a retomada de obras paradas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC),  Cunha, da Ace, acredita ser difícil acontecer por falto de espaço fiscal e também pelas políticas mal sucedidas do governo Dilma. “O setor industrial seria beneficiado? Talvez sim, mas não há tanta clareza olhando para o plano divulgado”.

Sobre elétricas, o JPMorgan reforça que há uma visão inicial de que Lula, por ser uma figura política de esquerda que se opõe à privatização, costuma ser visto pelo mercado como um risco maior para as atuais políticas econômicas dominantes no país.

Porém, “pontos de vista políticos à parte, quando se trata de concessionárias de energia elétrica, defendemos que o marco regulatório do setor foi respeitado, endossado e aprimorado desde que o novo modelo foi implementado por Lula em 2003. A Medida Provisória 579 sancionada pela presidente Dilma Rousseff em 2012 (PT) foi a única grande ruptura nos últimos 20 anos”, avalia.

Mudança de política e risco regulatório podem prejudicar Eletrobras (ELET3;ELET6) e mais empresas do setor, mas os analistas continuam positivos, destacando que o atual marco regulatório do setor elétrico ocorreu durante o governo Lula, sendo por si só um forte argumento para a manutenção do atual regime caso ele retorne. Eventuais mudanças deveriam passar pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e pelo Congresso.

Os analistas do JP destacam ainda que o presidente Bolsonaro e o Senado confirmaram Sandoval Feitosa como presidente da Aneel até agosto de 2027, em substituição a André Pepitone, além de haver a nomeação de outros 4 diretores que compõem o Conselho da agência com mandatos que expiram entre 2024 e 2028. “Em nossa opinião, isso reduz o risco de mudança de descontinuidade arbitrária sob uma mudança no governo federal”, avaliam.

Além disso, apontam que a Eletrobras deixou de ser controlada pelo governo federal após a oferta de ações em junho de 2022 e veem o processo como irreversível, reiteraram a empresa como a preferida do setor.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.