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SÃO PAULO – A Argentina, que está em moratória com suas obrigações externas desde 2001, no montante atual de US$ 81,8 bilhões, está tentando reverter esse processo através de um complexo e complicado processo de reestruturação junto aos credores privados. Com perfil de renegociação bastante polêmico, os credores mostram-se muito insatisfeitos com a proposta Argentina.
A engenharia financeira por traz da proposta Argentina é a seguinte: o governo argentino fez uma oferta que visa reduzir pela metade o valor da dívida em moratória. Assim, de US$ 81,8 bilhões, o governo espera pagar algo em torno de US$ 41 bilhões. Além disso, os novos títulos chegam a embutir descontos que chegam a 75% do valor nominal dos papéis no mercado.
Além de plenamente favorável ao Tesouro argentino, essa proposta só será fechada e implementada se 75% dos credores aceitarem a oferta e trocarem seus papéis por novos títulos. Esses papéis estão sendo ofertados nesta sexta-feira no mercado internacional e no mercado argentino. O perfil desses novos papéis embute juros menores, prazos maiores e, em alguns casos, não pagam juros nenhum.
Proposta não é bem aceita pelos credores
Apesar da iniciativa do governo argentino, os credores rechaçaram a proposta sob o argumento de que o país pode pagar mais, já que a economia cresceu 8% no último ano e a perspectiva é de que cresça 5% em 2005. Apesar disso, a Argentina continuará extremamente endividada.
Se a proposta for aceita, a dívida total ainda corresponderá a 90% do PIB (Produto Interno Bruto) aproximadamente. Com isso, analistas estimam que em alguns anos o governo pague o equivalente a 5% do PIB anualmente, apenas em juros.
O governo argentino anunciou a proposta na última quarta-feira, 12 de janeiro, já em tom de ameaça aos que recusarem a proposta, já que, segundo Guillermo Nielsen, secretário de Finanças da Argentina, quem optar por não trocar seus títulos terá perspectivas muitos negativas.
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Itália possui maior número de credores
Com isso, o governo da Itália, país onde se encontram pouco mais de 15% dos credores, atacou a oferta. Estima-se que mais de 500 mil pessoas, empresas ou fundos possuem títulos da dívida Argentina.
Vale lembrar que a Argentina possui 38,4% de seus credores, a Itália possui 15,6%, a Suíça possui 10,3%, os EUA possuem 9,1%, a Alemanha possui 5,1% e o Japão possui 3,1% dos credores.
Reestruturação é importante para crescimento sustentado
Com a declaração da moratória em 2001, a Argentina deixou uma constante sensação de insegurança no mercado que não deve ser esquecida tão cedo, por isso, é importante que a reestruturação seja feita, mesmo que nestas condições, para que o crescimento econômico se sustente, afirma Mario Vicens, presidente da associação de bancos da Argentina.