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Os economistas não negam que tiveram uma surpresa positiva ao ver os dados da produção industrial brasileira referentes ao último mês de dezembro. Afinal, o indicador cresceu 2,9% em relação ao mês anterior, após um semestre inteiro de queda e estagnação. Além disso, o consenso de mercado apontava para uma alta mais amena, de 1,6%.
Mas ainda que o número tenha surpreendido, ainda é cedo para falar em reversão de tendência e as expectativas para o setor continuam fracas. Comparando o quarto e o terceiro trimestre de 2021, a indústria praticamente estagnou e, olhando para 2020, houve retração.
Duas categorias em especial chamaram a atenção nos resultados mais recentes: a de bens de capital, que cresceu 4,4% entre novembro e dezembro; e de bens de consumo duráveis, com expansão de 6,9%. Esta última, foi impulsionada por um crescimento de 12,2% na fabricação de veículos automotores.
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“Diversas montadoras destravaram linhas de produção em dezembro, devido à maior disponibilidade de matérias-primas – semicondutores como protagonistas – encomendadas alguns meses atrás”, destaca análise de Roldolfo Margato, economista da XP, que projetava alta de 1,4% para a produção industrial em dezembro.
“Isto posto, o setor automotivo ainda sofre com gargalos nas cadeias de insumos e o avanço significativo da produção no final de 2021 deve ser interpretado com bastante cautela, em nossa opinião”, escreveu Margato.
Ele explica que muitas companhias esperam redução mais consistente desses gargalos de oferta somente em meados de 2022.
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Para janeiro de 2022, a XP prevê uma variação mensal negativa em 0,6% da produção industrial, queda de 4,8% na comparação com o mesmo período do ano anterior.
“Olhando para 2022, acreditamos que a indústria não apresentará resultados muito encorajadores. Apesar do afrouxamento gradual das restrições de oferta, permitindo alguma recomposição de estoques, o arrefecimento da demanda doméstica deverá impedir uma recuperação consistente”, aponta o economista.
Luca Mercadante, economista da Rio Bravo Investimentos, também destacou os dados positivos para bens de consumos duráveis e de capital, impulsionados por bons resultados da produção de automóveis em dezembro. Mas ainda não enxerga uma recuperação consistente.
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“Apesar do resultado positivo, ele não deve indicar uma reversão de tendência e a indústria deve seguir desacelerando no começo de 2022, prejudicada por uma queda na demanda, fruto da diminuição da renda real, e pela continuidade das restrições na cadeia de suprimentos”, diz Mercadante.
Alberto Ramos, do Goldman Sachs, também acredita que a indústria deve continuar enfrentando ventos contrários.
Ele aponta uma série de obstáculos para o setor, como condições financeiras mais apertadas, por conta da alta dos juros, erosão de renda provocada pela escalada da inflação, a continuidade de problemas na cadeia produtiva e aumento nas despesas com logística, energia e outros custos de produção.
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O Goldman observa que indicadores recentes, como números de encomendas, exportações e do mercado de trabalho, apontam para uma desaceleração da indústria neste começo de ano.
Relatório do Bradesco BBI assinado por Dalton Gardimam, Ricardo Mauad, Guilherme Zimmermann e Bernardo Keiserman explica que o resultado da produção industrial de dezembro foi ajudado por alívio, ainda que temporário, na falta de semicondutores para indústria automotiva.
“O resultado veio em linha com nossa previsão para o PIB do quarto trimestre de 2021, de alta de 0,2% [na comparação com o terceiro trimestre]”, escreveram os analistas. Para eles, é provável que a indústria sinta agora no começo do ano alguns impactos do aumento no número de casos de Covid-19, com o avanço da variante Ômicron no Brasil.
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