Firme no presente, suave no futuro? Decisão sobre Selic abala Bolsa, juro e câmbio

Divisão de votos do BC tem forte repercussão no mercado por trazer importantes indicações sobre 2025

Equipe InfoMoney

Sede do BC, em Brasília (Foto: Adriano Machado/Reuters)
Sede do BC, em Brasília (Foto: Adriano Machado/Reuters)

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A sessão desta quarta-feira (9) foi marcada por uma forte aversão ao risco doméstica, com queda de de 1% do Ibovespa, forte alta dos juros futuros e do dólar.

O que mais chamou a atenção dos investidores é a repercussão da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom). O Comitê desacelerou o ritmo de redução da queda dos juros em 0,25pp, para 10,50% ao ano, mas com um placar acirrado da reunião (5×4) que trouxe muitas indicações de como será o colegiado a partir de 2025. Na percepção do mercado, a reunião indicou mais leniência com a inflação à frente por parte da diretoria indicada pela atual gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, ainda que o tom da última reunião tenha sido “hawkish”, ou seja, mostrando preocupação com os preços.

Enquanto isso, no curto prazo, a decisão dos “não indicados” por Lula de reduzir o ritmo de cortes de juros pode renovar as críticas do presidente ao atual comando do BC, levando a mais instabilidade.

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Falando em governo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta quinta que prefere esperar a ata do encontro, que será publicada na próxima terça-feira, para comentar a decisão do Copom. “Eu vou esperar a ata, acho que a ata pode esclarecer melhor o que passou. O comunicado está muito sintético”, afirmou nesta quinta pós-Copom. Haddad falou sobre a sinalização do Copom para as próximas reuniões, algo que não constou neste comunicado, pela primeira vez desde agosto do ano passado. “Acho que o guidance era uma coisa muito importante de se observar”, ressaltou. Analistas também ressaltaram que a eliminação do chamado “forward guidance” acrescenta mais um elemento de incerteza para as decisões.

Com todos esses elementos, o Ibovespa fechou em queda de 1%, a 128.188 pontos, após atingir mínima de 127.375 pontos no dia. Já o dólar comercial fechou com alta de 1,01%, a R$ 5,142 na compra e na venda, os juros futuros saltaram ao longo da curva.

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No fim da tarde a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2025 estava em 10,265%, ante 10,221% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 10,49%, ante 10,473% do ajuste anterior. Já a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,88%, ante 10,809%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 11,205%, ante 11,094%. O contrato para janeiro de 2031 marcava 11,68%, ante 11,511%.

O movimento ocorre uma vez que, caso a próxima composição do BC corte os juros mesmo com a inflação resiliente, as expectativas de preços podem aumentar, o que pode contratar uma alta de juros forte mais à frente para lidar com os preços.

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Com esse cenário de alta de juros futuros, as grandes baixas do Ibovespa fica para as ações do setor de varejo e consumo (que inclui educacionais e construtoras), como destacado no quadro abaixo. Algumas empresas, como Cogna (COGN3) e MRV (MRVE3) também reagiram aos resultados ou projeções de divulgação. Contudo, algumas empresas também sensíveis a juros se recuperaram ao longo do dia, caso de Magazine Luiza (MGLU3) e LWSA (LWSA3; ex-Locaweb), que divulgam seus resultados nesta quinta-feira (9).

Confira abaixo as maiores quedas do Ibovespa na sessão:

AçãoPreço fechamento (R$)Variação (%)
3R Petroleum ON31,08-6,67%
Lojas Renner ON15,76-6,47%
Ultrapar ON25,1-6,34%
Cogna ON2,17-5,65%
Banco do Brasil ON27,14-4,37%
Arezzo ON49,75-4,29%
Eztec ON13,99-4,24%
CVC Brasil ON2,27-4,22%
BTG Pactual Unit33,21-4,05%
B3 ON11,21-3,94%
Grupo Soma ON5,85-3,94%
Eletrobras ON38,11-3,74%
Eletrobras PNA42,27-3,69%
COPEL PNB9,24-3,14%

Entre os poucos ganhos, estão ações de commodities/exportadoras, que ganham com o dólar mais alto, caso de Vale (VALE3).

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Entenda a divisão do Copom

De acordo com o comunicado do Copom, a decisão de cortar os juros em 0,25 ponto foi apoiada pelo presidente Roberto Campos Neto e os diretores Carolina Barros, Diogo Guillen, Otávio Damaso e Renato Gomes. Indicados por Lula, Ailton de Aquino, Gabriel Galípolo, Paulo Picchetti e Rodrigo Teixeira votaram por uma redução maior, de 0,50 ponto percentual.

Apesar da divergência, o comunicado informou que o Comitê, unanimemente, “avalia que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade e expectativas desancoradas demandam maior cautela”.

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A separação entre posição mais flexível dos membros da diretoria do BC nomeados por Lula e a visão mais dura dos componentes indicados ou reconduzidos durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro pode ampliar incertezas sobre os próximos passos da política monetária, à medida em que novas indicações levem o governo a contar com a maioria de nomeados na diretoria do BC.

Atualmente, a cúpula da autarquia é composta por quatro diretores indicados por Lula, enquanto cinco estão no posto desde a gestão de Bolsonaro. Os próximos mandatos a vencer, em dezembro deste ano, são de Campos Neto, Carolina Barros e Otávio Damaso.

(com Reuters)