*Por Irina Karagyaur
Nesta mesma época, no ano passado, se alguém falasse: “Vou vender um lote de terreno virtual por 1 ETH”, a maioria de nós teria mandado ela pastar. Agora, um ano depois, a maioria de nós está descobrindo que somos nós que estamos pastando, e não na terra virtual da Sandbox (SAND).
Todo mundo quer estar adiantado na blockchain, à frente de todos. Para quem acredita que perdeu a última corrida do ouro da blockchain, a terra virtual, pense novamente. Um futuro mais eficiente e escalável para a interseção de blockchain e imóveis está sendo construído enquanto falamos – e não está apenas confinado à blockchain do Ethereum (ETH).
O futuro dos NFTs (o padrão tecnológico para ativos digitais exclusivos, como obras de arte ou casas virtuais) é multi-chain, um caminho mais diverso que resolve as limitações do blockchain do Ethereum e aprimora seu uso para apresentar oportunidades inimagináveis que tocam vários cantos de cultura e comércio.
Neste futuro multi-chain veremos grandes oportunidades e diversos casos de uso possibilitados por redes alternativas como Solana (SOL), Tezos (XTZ), Polkadot (DOT), Kusama (KSM), Cardano (ADA) e muitas outras. Essas redes trazem respostas para escalabilidade, congestionamento de rede e a capacidade de realmente fracionar a propriedade, permitindo que tokens não-fungíveis (NFTs) se tornem utilizáveis e transferíveis no metaverso – saindo dos limites dos colecionáveis digitais tradicionais – talvez para o mundo real.
Embora você possa não associar imediatamente um setor antigo como o imobiliário com o atual avanço tecnológico do blockchain, o potencial para que esse setor seja modernizado e se torne mais eficiente é poderoso – até mesmo inevitável.
Qualquer pessoa que já comprou ou alugou um imóvel está familiarizada com o processo inconveniente, demorado e caro. Existem contratos a assinar, pagamentos a serem feitos entre senhorio e inquilinos, corretores imobiliários e, muitas vezes, advogados mediadores. Esses arranjos requerem várias transações, tempo e dinheiro.
Com imóveis virtuais em metaversos abertos, podemos implementar transações ponto a ponto e usar contratos inteligentes para automatizar e acelerar esses processos jurídicos. Contratos inteligentes podem ser programados para acionar ações instantaneamente e executar pedidos conforme necessário. Como resultado, os ativos imobiliários, como edifícios, ações ou fundos e dívidas ou patrimônio, podem ser automatizados de novas maneiras e executados em minutos, em vez de semanas ou meses.
Os imóveis virtuais podem liberar liquidez por meio de mercados globais descentralizados que habilitam ativos negociáveis e permitem que os ativos do metaverso sejam usados como garantia extraível para alimentar métodos inovadores de empréstimo em finanças descentralizadas (DeFi).
Por meio do que esperamos ser um metaverso cada vez mais aberto, os usuários podem um dia mover ativos digitais e NFTs para dentro e para fora de mundos virtuais. Talvez suas casas digitais possam ser usadas como garantia para empréstimos. Imagine se você pudesse tomar emprestado um valioso pedaço de terreno virtual para adquirir um terreno físico?
Este mundo, ainda em fase de colonização, quase certamente precisará ser construído em mais do que apenas Ethereum, a rede de contratos inteligentes dominante.
Limitações do Ethereum
Desde o lançamento do Ethereum em 2015, os contratos inteligentes ganharam força em funcionalidade e inovação. Os tokens ERC-20 são o padrão mais comumente usado para tokenização. Esses tokens codificam direitos de propriedade no código. O padrão ERC-721 e o mais avançado ERC-1155 – os padrões técnicos para NFTs – criam escassez digital. Existe uma diversidade de protocolos e tokens no Ethereum, formando a base para um metaverso aberto.
No entanto, a indústria está se expandindo rapidamente e os desenvolvimentos no Ethereum também existem em outras redes de blockchain. Embora as soluções de segunda camada do Ethereum (complementos que ajudam a rede a processar mais transações) funcionem bem, os novos blockchains tiveram um crescimento exponencial e prometem um novo terreno fértil. Um rico grupo de construtores criativos está olhando além do Ethereum e das taxas exorbitantes da rede.
Como consequência, o desafio atual para a indústria é alcançar a interoperabilidade entre diferentes blockchains. Ao eliminar o “efeito silo” na indústria de blockchain, podemos finalmente alcançar a “adoção em massa”.
A Polkadot, uma blockchain no qual estou financeiramente envolvido, é uma dessas cadeias alternativas para esse tipo de interoperabilidade. Devido à sua estrutura de propriedade avançada, ela pode permitir a transferência da propriedade diretamente para outros endereços, conceder ou proibir os direitos de terceiros de usar uma propriedade para fins de exibição e facilitar a troca de um título ou fideicomisso.
Corrida do ouro
Hoje há uma verdadeira corrida do ouro no metaverso, com jovens e celebridades como Snoop Dogg investindo milhões de dólares em imóveis virtuais. A revista Fortune chamou isso de “oportunidade de vários trilhões de dólares”. É concebível que uma nova geração compre sua primeira casa (ou uma parte única dela) no metaverso.
Sem dúvida, há muito trabalho a ser feito neste espaço para concretizar esse futuro. Do jeito que está, os críticos dizem que as vendas de arregalar os olhos de imóveis virtuais atuais são mais uma novidade impulsionada pelo hype e especulação, em comparação com algo que realmente representa uma propriedade única. Outros argumentam que os imóveis – virtuais ou físicos – requerem um nível de due diligence legal para garantir a segurança e a confiança entre compradores e vendedores.
Haverá também apreensão e críticas do tradicional setor imobiliário, que pode não ver valor em romper seu modelo antiquado, embora lucrativo.
Ainda assim, os NFTs imobiliários prometem a capacidade de democratizar a propriedade, um espaço que historicamente excluiu a maioria do mundo. A GoBankingRates citou um analista da Grayscale Investments que observou que, historicamente, o valor imobiliário é amplamente influenciado pela proximidade de lojas, serviços e bairros atraentes. Resta saber se isso pode acontecer também no metaverso, onde os jogadores podem “se teletransportar ao redor do mundo, tornando a viagem instantânea” e irrelevante para a avaliação de preços. A Grayscale é uma subsidiária da Digital Currency Group, empresa controladora da CoinDesk.
Com o passar do tempo, a lucratividade infectará o desenvolvimento de terras virtuais? Lotes caros em Sandbox ou Decentraland manterão seu valor? As pessoas fora do mercado cripto verão os NFTs como uma nova ferramenta poderosa para propriedade, mesmo que você não consiga dormir dentro de um computador?
Do jeito que está, a infraestrutura NFT ainda é limitada. A tecnologia para permitir a verdadeira tokenização única de propriedades (especialmente no Ethereum, onde atualmente é quase impossível) ainda não existe. Um novo paradigma precisará ser desenvolvido para fazer este setor avançar.
No ano que está por vir, a indústria verá uma injeção de bilhões na infraestrutura de NFT que oferecerá suporte a casos de uso alternativos e possibilitará um livro razão visível que pode ser dividido ou expandido, facilitando uma representação única de ativos individuais, semelhante a arte e itens colecionáveis.
Os contratos inteligentes precisarão ser aprimorados para permitir velocidade, funcionalidade e escalabilidade. Há um grande trabalho sendo feito em alguns setores – como a “Nested NFT Palettes” que permite relacionamentos sofisticados entre detentores de propriedade fracionada.
Regulações também estão em debate. Assim como as preocupações do setor imobiliário tradicional, que realmente poderia sofrer uma disrupção por ativos livres – que não são presos a nenhuma blockchain única – que podem ser usados no mundo real e no mundo digital.
Existem considerações sociais para fazer com que as pessoas valorizem a propriedade digital. Já está acontecendo. Mas este novo mundo tokenizado – este futuro multi-chain – levará tempo. Muito parecido com construir uma casa.
*Irina Karagyaur é chefe de crescimento do metaverso na Unique Network, onde lidera as atividades de crescimento de negócios da organização.