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SÃO PAULO – De seis papéis negociados um por um, em uma mesa debaixo de um plátano, para um sistema totalmente computadorizado pelo qual passam bilhões de dólares todos os dias, Wall Street passou por um longo caminho de evolução tecnológica. O tema inspira a edição desta terça-feira (4) do Pregões Incríveis, a série de reportagens da InfoMoney sobre momentos marcantes da história das bolsas.
Tecnologia e mercado de ações sempre andaram lado a lado. Os investidores e instituições financeiras vêm sendo, há séculos, consumidores ávidos por inovações tecnológicas, tendo em vista a necessidade de sistemas mais rápidos, eficazes e modernos que deem conta do constante crescimento dos mercados.
Os telégrafos
Desta forma, não é de se estranhar que as bolsas de Nova York e da Europa tenham sido, no mundo, as primeiras grandes consumidoras dos telégrafos elétricos, desenvolvidos na primeira metade do século XIX, que transformaram as negociações de papéis ao facilitarem a comunicação entre corretores e investidores, antes muito restrita.
Se o advento dos telégrafos trouxe maior rapidez aos pregões, a construção dos cabos transatlânticos dos EUA à Europa em 1866 conectou as duas grandes esferas financeiras do mundo, estabelecendo pela primeira vez uma ligação rápida entre mercados de continentes opostos. Foi um ano depois, no entanto, que uma invenção viria revolucionar as bolsas, definindo um método simples usado até hoje nas negociações: as stock tickers.
Tickers
Se você investe na bolsa, certamente sabe o significado popular de “ticker”: aquele código com algumas letras e números que simboliza um determinado ativo. Poucos sabem, entretanto, da origem do termo, que remonta a 1867, quando Edward A. Calahan inventou pequenas máquinas de impressão que transmitiam, de forma reduzida, informações básicas sobre a performance de ações.
As “stock tickers”, como eram chamadas tais máquinas, imprimiam em pequenos filos de papel a abreviação da companhia a qual pertencia a ação, sua cotação e seu volume negociado, facilitando a visualização de tais informações de forma rápida aos investidores. O termo “ticker” vem do som repetitivo que tais máquinas produziam ao imprimir os filos de papel.
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Por volta de 1880, cerca de mil máquinas deste tipo eram encontradas em Nova York e mais de três mil nas bolsas europeias. Rapidamente, as negociações tornaram-se dependentes das stock tickers, o que concedia às instituições que as tinham grande poder de manipulação dos mercados.
Assim, em 1890, foi criada em Wall Street a New York Quotation Company, que adquiriu todas as máquinas e passou a controlar a impressão dos papéis, de forma a prover maior precisão na transmissão das informações.
Com o passar dos anos, as stock ticker evoluíram. Em 1930, máquinas foram desenvolvidas para imprimir até 500 caracteres por minuto, uma revolução à época. Em 1964, os aparelhos conseguiam imprimir 900 caracteres por minuto. Mas, já nos anos 1960, era notável a necessidade de um sistema mais rápido e eficiente, com as stock tickers sendo abandonadas nas principais bolsas do mundo gradualmente no decorrer da década de 1970.
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Embora stock tickers não sejam mais vistas nas plataformas de Nova York, São Paulo ou Tóquio, a base do sistema sobrevive. Ao invés de filamentos de papel, grandes telões transmitem as informações aos investidores de maneira praticamente igual à do século XIX.
Rádio, telefone, fibras óticas
Enquanto as stock tickers evoluíam, outras inovações tecnológicas também contribuíram para o desenvolvimento dos métodos dos pregões. Nesse sentido, outro grande marco foi a adoção dos telefones nas plataformas nova-iorquinas em 1878, apenas dois anos após a conclusão dos testes finais por Graham Bell.
Na década de 1880, sistemas de anúncio nas plataformas foram instalados em Nova York e na Europa, ganhando grande impulso no começo do século XX, com o advento da invenção do rádio. Em 1930, popularizam-se métodos de negociações por telefone entre investidores e corretoras, aumentando os volumes nas bolsas.
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O final dos anos 1970 e começo dos anos 1980 constitui-se como uma importante fase de transição na evolução tecnológica das principais bolsas no mundo, que passam a adotar sistemas completamente automatizados de negociação. Nos anos 1990, novas inovações como fibras óticas e tecnologias sem fio também revolucionam os mercados, além, é claro, da internet.
Se antes, grandes inovações costumavam ocorrer com espaços de, ao menos, alguns anos entre si, hoje, o desenvolvimento de novos métodos, sistemas e tecnologias ocorre a um ritmo muito maior, paralelo à grande popularização e crescimento dos mercados de ações. Difícil dizer qual influencia mais o outro.