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Os preços recordes do café canéfora têm incentivado produtores no Brasil a ampliar a área plantada e a realizar investimentos na renovação de cafezais mais antigos por novos mais produtivos, além de outras melhorias, como irrigação, disseram à Reuters pessoas ligadas ao setor produtivo.
Com efeito, a produção de mudas de pés de café da espécie canéfora, que engloba grãos das variedades robusta e conilon, não está dando conta da demanda nos importantes produtores de Rondônia e Espírito Santo, além de outros estados.
O Brasil, maior produtor de café considerando as duas espécies, arábica e canéfora, ocupa a segunda posição, atrás do Vietnã, se o assunto é apenas a canéfora. No entanto, os brasileiros têm aproveitado a menor oferta do país asiático para ganhar mercados na exportação, o que estimula um aumento da produção local.
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O mercado de canéfora também está mais apertado diante da forte demanda. Em meio a uma melhoria na qualidade, os grãos antes destinados à indústria de café solúvel estão sendo mais utilizados para a produção de espressos e como “blend” no arábica do produto torrado e moído, segundo especialistas.
“Já faz algum tempo que o pessoal vem plantando bastante café canéfora, mas agora, com essa alta dos preços, virou uma loucura. Recentemente estive no Acre e conversei com viveiristas que disseram que estão na capacidade máxima de produção de mudas,” afirmou o pesquisador da Embrapa Rondônia, Enrique Alves, à Reuters.
“As pessoas que querem mudas para o ano que vem estão encomendando agora… Nas conversas com viveiristas, alguns afirmam que não estão aceitando mais encomendas. Os bons preços sempre incentivam a produção,” acrescentou ele.
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Alves revelou ainda que a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) tem recebido “muita demanda” de estacas (usadas no processo de produção de mudas) para testes em outros estados, como Minas Gerais e São Paulo, que são os maiores produtores de café arábica, espécie que responde por cerca de 70% da produção do país.
Substituição
No Espírito Santo, o maior produtor de conilon do Brasil, mas que também produz a outra espécie, cafeicultores em algumas áreas estão substituindo as lavouras de arábica pelas de canéfora, de olho também em sua maior produtividade.
“O conilon está subindo a montanha,” disse Fabiano Tristão, coordenador de cafeicultura do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper).
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Ele se referia aos produtores de arábica capixabas, que normalmente plantam a variedade nas terras altas e estão substituindo as lavouras por conilon.
Segundo Tristão, essa troca ocorre nas chamadas áreas “limítrofes”, já que a canéfora não se adapta bem a terras muito altas, enquanto o arábica é cultivado acima de 500 metros até 1.200 metros de altitude.
Nas terras com altitude em torno de 600 a 700 metros, essa substituição gradual tem ocorrido, disse ele, lembrando que o estado já não possui mais tantas áreas para expandir.
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Enquanto a área plantada em produção com conilon cresceu cerca de 14% no estado desde 2018, atingindo 263 mil hectares, o total plantado de arábica no Espírito Santo no mesmo período recuou 18%, para 128,4 mil hectares, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
De acordo com Tristão, a produção de mudas no Espírito Santo somou 45 milhões de unidades em 2023, com um incremento anual de 20%. A safra de canéfora do estado está estimada pela Conab neste ano em quase 11 milhões de sacas de 60 kg, ou 65% do total produzido no Brasil desta espécie.
Vale mais que arábica
Os preços do robusta negociados na bolsa de Londres estão em uma escalada desde o início de 2023, mais que dobrando de valor, à medida que a oferta de importantes exportadores da Ásia, incluindo a Indonésia, enfrenta problemas.
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Na semana passada, o café robusta superou 5 mil dólares a tonelada pela primeira vez na bolsa londrina. Enquanto isso, no Brasil, a canéfora passou a valer mais do que o arábica, de bebida mais suave, um fato raro na história.
Luiz Carlos Bastianello, presidente da Cooabriel, a maior cooperativa de produtores de café conilon do Brasil, confirmou que os produtores estão ampliando os cultivos e investindo mais.
“A significativa alta nos preços do conilon impulsiona a renovação de áreas plantadas, com a aplicação de manejos e tecnologias que tornam as áreas de cultivo mais eficientes, além de incentivar a implantação de novas lavouras,” afirmou ele à Reuters.
O aumento das áreas cultivadas, contudo, pode se tornar um “fator de atenção”, na medida em que o produtor venha a implantar novas áreas de cultivo sem mensurar os reservatórios hídricos disponíveis para atravessar períodos mais críticos de escassez de água. Grande parte do conilon no país conta com sistemas de irrigação.
Enquanto isso, projetos iniciais em outras áreas menos tradicionais de canéfora, como São Paulo, já dão frutos, sinalizando um futuro promissor.
A família de Edvaldo Frasson, vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) e também diretor comercial da Treviolo Café, produz canéfora robusta em Adamantina, no oeste paulista, há mais de quatro anos.
Atualmente, 100% da produção da propriedade vai para sua indústria, disse ele, que vê expansão do negócio no futuro e também do cultivo na região da Alta Paulista, que já foi produtora relevante no século passado.
“A Alta Paulista era só café no passado… Acredito muito que a Alta Paulista terá um novo ciclo daqui para frente; pretendo ver muito café lá,” disse Frasson, observando que algumas áreas de cana-de-açúcar da região já estão sendo trocadas por cafezais.