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Com a mudança de governo, o começo de ano foi mais movimentado do que o de costume para a Bolsa brasileira, com os investidores repercutindo de forma extremada (tanto para baixo quanto para cima) as primeiras sinalizações do novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Apenas nesta semana, as falas iniciais do governo levaram a um grande temor do mercado e a uma queda de 5% do Ibovespa em apenas dois pregões, de segunda e terça, sendo que o discurso mais atenuado fizeram com que o índice tivesse fortes ganhos nas duas sessões seguintes.
Mais cedo nesta semana, críticas do novo ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, à reforma da Previdência do governo Jair Bolsonaro haviam azedado o humor dos investidores. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, contudo, disse na véspera não haver nenhuma proposta sendo pensada nesse momento para revisão de reformas, incluindo a da Previdência.
Os temores com as estatais neste cenário conturbado ganham ainda mais força, com papéis como de Petrobras (PETR3;PETR4) e do Banco do Brasil (BBAS3) caindo 9% (papéis PETR4) e 6%, respectivamente, para depois recuperarem nas duas sessões seguintes, ainda que acumulando baixas na semana (de 2,6% e 1,3% até o final da tarde de quinta).
No caso dessas duas empresas, os investidores também acompanham de perto a mudança na gestão das companhias. A estatal de petróleo tem ganhado mais destaque no mercado, mas o BB também é monitorado de perto com os analistas.
Na Petrobras, como esperado, Jean Paul Prates (PT-RN) foi indicado como CEO da companhia e suas declarações dos últimos dias já movimentaram (e muito) os ativos. O Ministério de Minas e Energia indicou Prates para comandar a estatal na noite de terça e, no início da quarta, o então CEO Caio Paes de Andrade comunicou a sua renúncia, com efeitos imediatos, entrando de forma interina João Rittershaussen. A expectativa é de que haja uma grande mudança de condução na Petrobras, mas as falas recentes de Prates descartando intervenção chegaram a animar os papéis na quarta-feira, ainda que haja muita cautela entre os investidores.
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No BB, Tarciana Medeiros foi apontada como nova presidente, ainda que nenhuma informação adicional sobre o mandato tenha sido dada. O nome de Tarciana foi bem recebido dada a sua vasta experiência no banco, mas analistas ainda monitoram qual será o papel do BB no novo governo – e se implicará em mudanças na carteira de crédito da estatal, o que já trouxe maior cautela com os ativos desde o fim do ano passado.
Confira abaixo como foram os primeiros dias após o anúncio, feito no último dia 30 de dezembro, de Prates e Tarciana para comandar as principais estatais listadas na B3.
Jean Paul Prates: mudanças, mas sem solavancos?
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Na última sexta-feira, o novo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou o nome do senador Jean Paul
Prates (PT-RN) para ser o CEO da Petrobras. O nome já vinha circulando em notícias como o mais provável para ocupar o cargo e não trouxe muitas surpresas.
Entre seus posicionamentos, Prates tem questionado frequentemente a atual política de preços da Petrobras (atrelada aos preços internacionais) e a estratégia de alocação de capital da companhia (plano de investimentos e política de dividendos).
Ele defende a implementação de uma política de preços que minimize o impacto da volatilidade internacional sobre os preços domésticos dos combustíveis, sendo o relator do Projeto de Lei 1.472/2021: um fundo de estabilização dos preços dos combustíveis a ser criado e financiado pelos dividendos e participações governamentais na produção de petróleo pagos pela Petrobras ao governo.
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A expectativa, assim, é por (i) uma mudança na política de preços, (ii) maiores investimentos em projetos de refino e transição energética (incluindo eólica offshore, produzida em alto mar, no futuro) e (iii) menores dividendos, o que tem aumentado a reticência com a ação.
Na última quarta-feira, contudo, as falas de Prates acabaram animando os investidores. Ele afirmou ser contra uma intervenção nos preços de combustíveis e sinalizou uma mudança no cálculo para levar em conta os custos locais e internacionais. O indicado a CEO apontou que os custos internacionais e o preço de mercado são componentes da fórmula que define os valores dos combustíveis.
“Não vai desvincular com preço internacional, vai desvincular da paridade de importação… Sem forçar, sem impor tabelamento, sem absolutamente nenhuma intervenção direta no mercado. Apenas usando a vantagem competitiva de quem está aqui versus quem está lá fora”, disse Prates a jornalistas em Brasília.
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Prates ainda defendeu ser importante ter um colchão de amortecimento para o preço dos combustíveis. “Acho que é importante ter. Eu acho que ter um colchão de amortecimento desse e eventualmente pensar na Cide, em usar a Cide de novo, recuperar um pouco dessa tributação dos Estados de alguma forma”, afirmou no Palácio do Planalto.
As declarações estão em linha com o que o senador vem dizendo sobre o tema, mas serviram como argumento para a melhora dos papeis após quedas seguidas e sensibilidade do mercado ao tema.
Ele também comentou que a forma como poderá se dar a expansão da capacidade de refino no país ainda será avaliada, ponderando que esse movimento poderá ocorrer por meio de expansão de unidades já existentes e não necessariamente com a construção de novas unidades.
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De acordo com informações de bastidores de Valdo Cruz, do g1, Prates é visto por conselheiros da Petrobras como o melhor quadro do PT para comandar a estatal. Na visão de economistas e dos executivos da própria petroleira, Prates entende muito do setor e ganha pontos ao não adotar um discurso intervencionista. O colunista cita ainda que, na visão do Conselho de Administração, o nome dele será aprovado.
Cabe ressaltar que seu nome foi oficializado na noite de terça-feira e a renúncia de Paes de Andrade se deu na quarta, com os analistas agora avaliando quais serão os próximos passos para a aprovação do nome.
A renúncia de Paes de Andrade abre a possibilidade de Prates assumir o cargo de CEO e membro do conselho de administração sem a necessidade de uma assembleia geral de acionistas. Para que isso aconteça, a indicação dele ainda precisa ser aprovada pelo corpo de conselheiros atual após a análise do Comitê de Elegibilidade da Petrobras. A expectativa é de que as alterações ocorreram em fevereiro.
Segundo o BTG Pactual, um cenário mais otimista para Prates assumir a Petrobras seria de pelo menos 30 dias. Isso pressupõe que o atual Conselho elegeria Prates como CEO após a aprovação dos comitês internos da Petrobras. Mas se o atual Conselho eleger outro CEO interino (provavelmente alguém que já faz parte da equipe de gestão) e/ou os comitês internos da Petrobras demorarem mais do que o esperado para aprovar a indicação de Prates, todo o processo pode levar até 60 dias. De qualquer forma, a indicação de Prates terá que ser ratificada em Assembleia Geral, que só ocorrerá no mínimo 15 dias após a convocação, avalia.
Uma mudança completa provavelmente virá a seguir, aponta o BBA. “Após a aprovação de Prates para o cargo de CEO, esperamos uma mudança completa do conselho de administração escolhidos pelos acionistas controladores e, posteriormente, mudanças significativas em cargos de diretoria executiva. A nosso ver, as áreas de Trading e Logística, Finanças e Investidores Relacionamento, e Refino e Gás Natural são os principais cargos executivos para os temas que são
cruciais para o novo governo, como as diretrizes da política de preços e a ampliação de investimento no segmento de refino”, avaliam os analistas do banco.
Algumas questões estão no radar. O currículo e a formação acadêmica de Prates são vistos como extensos o suficiente para atender a experiência de trabalho e aos requisitos acadêmicos exigidos pela Lei das Estatais, com mais de 25 anos de atuação no setor energético.
Por outro lado, a candidatura dele para prefeito da cidade de Natal em 2020 pode ser vista por alguns como um impedimento para sua indicação. “Entretanto, destacamos que alguns consultores políticos acreditam que pode haver uma interpretação favorável da lei, permitindo sua indicação, mesmo sem mudanças na legislação”, avalia o BBA.
Outra questão é que o futuro executivo da estatal tem participações em quatro empresas de petróleo e gás. No entanto, para assumir a estatal, Jean Paul Prates afirmou que vai se desfazer de 3 de suas 4 empresas, dizendo que só deve manter a holding Singleton ativa para administrar imóveis. “O comitê de governança da Petrobras provavelmente examinará o assunto de perto”, avalia o Bradesco BBI, que recentemente rebaixou a recomendação dos ativos da estatal para neutra.
Por sinal, o BBI aponta que as declarações da véspera de Prates sugerem que haverá mudanças na política de preços da Petrobras, que podem adicionar incerteza ao caso de investimento. “Os parâmetros que serão utilizados em uma possível nova fórmula ainda precisam ser vistos”, avalia. Ou seja, a cautela segue no radar, ainda mais com o enfraquecimento de catalisadores que guiaram o forte desempenho da Petrobras no último ano.
O UBS BB, que também recentemente rebaixou a recomendação dos ativos para venda, trouxe cenários sobre quando os dividendos da Petrobras devem ser reduzidos.
“Como sinalizamos em nosso rebaixamento das ações, esperamos que os dividendos da Petrobras sejam cortados
em comparação com os cerca de US$ 38 bilhões que a empresa pagou até 2022 e a política atual de 60% do fluxo de caixa livre. Nossa visão é apoiada por declarações do novo governo de que procurará aumentar o nível de investimento da empresa, nomeadamente na transição energética e diversificação, e comentários do próximo CEO de que a distribuição [de proventos] seria reduzida. A pergunta que recebemos da maioria dos investidores é a rapidez com que isso pode ser feito e se os dividendos do 4T22, a serem anunciados provavelmente em 1º de março, estão em risco”, avalia o banco.
Um cronograma apertado, mas possível, para uma mudança no Conselho (e nos dividendos) seria aquele em que Prates assumiria o cargo antes do conselho completo eleito, mas ele teria influência limitada dada a manutenção da atual diretoria e restante da gestão. Paralelamente, o governo procurará convocar uma nova Assembleia para eleger um novo Conselho.
Depois que uma lista completa é apresentada pelo governo à empresa, pode levar de 45 a 60 dias para que o
assembleia possa eleger os novos membros, o que pode ser um tempo suficiente para ocorrer a proposta de lucros e dividendos do 4T22 a ser analisada por um Conselho alinhado com o novo governo. Assim, avalia o UBS BB, isso significa que este dividendo pode estar em risco, enquanto o consenso atualmente prevê um dividend yield (ou valor do dividendo sobre o preço da ação) de 7% (US$ 4,2 bilhões). Mudanças na política de preços de combustível da empresa demorariam mais, pois também seriam necessárias mudanças da gestão da empresa.
Os dividendos importam, avalia o UBS BB, uma vez que eles forneceram suporte ao valuation da Petrobras, apontam os analistas. Ou seja, houve uma resiliência dos papéis mesmo em meio às turbulências pós-eleições, com expectativa de dividendos ainda fortes no 4T22 e em parte de 2023.
“Com as principais e outras empresas integradas negociando com rendimentos de dividendos de 10-15%, vemos potencial de queda para as ações se os dividendos forem cortados de acordo com nossas expectativas (25% de dividend payout, ou dividendo em relação ao lucro, ou dividend yield de 8% a 10% para PETR3 e PETR4 em 2023). Também pode ajudar a reduzir o atual prêmio de 14% para as ações ordinárias, que normalmente recebem mais entradas de investidores estrangeiros, com maior foco em dividendos”, avalia. O preço-atual do banco para as ações das duas classes é de R$ 22.
Para o BTG Pactual, que tem recomendação neutra para a ação, o ruído na Petrobras tem sido alto desde a eleição e provavelmente levará um tempo para diminuir. Os analistas citam que qualquer decisão de reduzir o payout da Petrobras pode ser repentina, provocando uma rápida deterioração na percepção de risco.
O banco ressalta, ao falar sobre a resiliência dos ativos da estatal, que o nome de Prates está no radar há algum tempo e, à medida que sua possível indicação ganhou força, o mercado começou a precificar chances menores de um nome inesperado desencadear mudanças estratégicas mais drásticas na empresa. “A melhora no sentimento do mercado também pode ser atribuída à possibilidade de um fundo de estabilização de preços de combustível apoiado pelo governo, o que poderia reduzir as pressões sobre as margens do downstream da Petrobras, embora poucos detalhes sobre esse programa tenham sido fornecidos até agora”, apontou.
De acordo com o consenso Refinitiv, de 12 casas que recomendam o papel PETR4, três possuem recomendação de compra, oito de manutenção e uma de venda. No início de outubro, eram seis recomendações de compra e quatro de manutenção.
Tarciana Medeiros: nome bem recebido, mas à espera de sinalizações do governo
Também na sexta, o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que Tarciana Paula Gomes Medeiros foi indicada para o cargo de Diretora Presidente do BB.
Tarciana ingressou no Banco do Brasil em 2001 e desde então ocupou diversos cargos, tornando-se gerente executiva em 2019. Ela também possui MBAs em Liderança, Inovação & Gestão e Marketing, Branding & Crescimento. Além disso, ela está atualmente matriculada em um MBA em Business Intelligence, Analytics e Data Science.
“Vemos como positivo para o Banco do Brasil o anúncio de Tarciana Medeiros como nova CEO. A longa e renomada experiência no banco (incluindo diversas áreas do segmento de banco de varejo e seguros) combinada com suas qualificações em tecnologia e análise de dados devem levar o banco a manter seus investimentos em inovação e tecnologia, bem como sustentar sua eficiência operacional”, avaliou a XP.
O Bradesco BBI apontou que a decisão é relativamente positiva, pois a executiva tem muita experiência no banco, passando por diferentes divisões ao longo de seus 22 anos como funcionária.
O Goldman Sachs também aponta que ela será a primeira CEO mulher do Banco do Brasil e com mais de 20 anos de trabalho no banco, o que deve garantir a continuidade após últimos trimestres de forte desempenho da instituição financeira estatal.
Assim, Goldman, XP e Bradesco BBI seguem com recomendação equivalente à compra para os ativos.
Apesar da recomendação de compra, a XP destacou em dezembro preferência pelo Itaú (ITUB4) no setor, apontando que questões políticas relacionadas a empresas estatais podem continuar a prejudicar o Banco do Brasil e impedir um desempenho mais forte das ações no curto prazo.
Já numa leitura positiva, avalia que, embora ainda estejam pendentes novos anúncios relacionados às operações do banco, os resultados da instituição financeira estatal devem continuar fortes no próximo ano e vê seu valuation como atraente (3,5 vezes o preço em relação ao lucro esperado para 2023), o que justifica a visão positiva.
O Bradesco BBI, por sua vez, acredita que Tarciana enfrentará o desafio de manter o ROE (Retorno sobre o patrimônio líquido) do banco em cerca de 20%, em linha com seus pares privados com uma política de crédito disciplinada e controle de custos.
Os temores são de expansão da carteira de crédito em cenário de juros altos e inadimplência em alta, apesar de analistas verem o cenário mais arriscado para outras financeiras estatais, como a Caixa Econômica Federal. Por sinal, um eventual perdão das dívidas de famílias de baixa renda que contrataram o empréstimo consignado do Auxílio Brasil deve ser discutido em conjunto com a Caixa Econômica Federal, um dos principais operadores da política, segundo disse à Folha o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron. Ele não descarta que o próprio banco tenha de arcar com os prejuízos, caso a inadimplência dispare em meio a dificuldades de beneficiários em pagar as prestações.
O BBI vê que a Caixa deva ser mesmo o principal banco a enfrentar qualquer impacto dessa medida, visto que poucos bancos se dispuseram a oferecer essa linha de crédito consignado, mas também nota que ainda não está claro como o programa será implementado e financiado. “Portanto, precisamos aguardar mais informações sobre o modelo a ser adotado”, afirma.
Para os analistas do Goldman, o banco está mais bem protegido contra grandes mudanças em sua estratégia do que no passado devido às melhorias em sua governança corporativa.
O Goldman reforça que as ações estão listadas no Novo Mercado da B3, o mais alto padrão de governança corporativa. Isso inclui apenas ações ordinárias, com direito a voto, independentemente do acionista. Além disso, quatro em cada oito conselheiros são independentes, sendo dois representantes de acionistas minoritários. O estatuto também prevê que o CEO deva ter pelo menos 10 anos de experiência ocupando um cargo de alto escalão no setor público ou privado ou quatro anos como membro do conselho ou função similar.
Enquanto isso, outras medidas no radar, como o projeto de lei institui teto no rotativo e programa de renegociação de dívidas podem ter impacto geral no mercado (incluindo o BB), assuntos estes que são monitorados de perto pelos investidores.
(com informações de Reuters e Estadão Conteúdo)