Potências globais e a grande questão: como estancar a fortuna do Estado Islâmico?

G-20 quer reforçar combate ao Estado Islâmico pelo campo econômico - mas não há solução fácil

Lara Rizério

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SÃO PAULO – As principais economias mundiais querem, mas há muita dificuldade para estancar o capital que sustenta o território e as ações terroristas do grupo Estado Islâmico. 

Após os ataques terroristas da última sexta-feira (13) em Paris, que vitimou 129 pessoas, os líderes mundiais presentes na reunião do G-20, no início da semana, mobilizam-se para reforçar a luta contra o terrorismo. E estrangular as fontes do financiamento do grupo são essenciais para tanto: a revista “Forbes”, por exemplo, classificou o EI como a organização terrorista mais rica do mundo, com um volume de receita de US$ 2 bilhões por ano. Já de acordo com o jornal americano “The Washington Post”,estima-se que o EI tenha registrado uma renda mensal diária estimada entre US$ 1 milhão (R$ 3,79 milhões) e US$ 3 milhões (R$ 11,37 milhões) por dia em 2014.

“Não há um melhor fórum para falar sobre o financiamento do terrorismo. As redes terroristas não podem planejar ou operar sem dinheiro que seja movimentado através do sistema financeiro de muitos países”, declarou o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, em entrevista coletiva realizada em Antalia, na Turquia, no final de semana. Porém, as soluções não parecem fáceis.

Isso porque a organização conta com várias fontes de financiamento. Se, na sua origem, o EI recebu dinheiro de famílias abastadas da Arábia Saudita e outras monarquias arábes hoje, há três fontes de receita principais, o que dificulta a tentativa do isolamente do EI como congelamento dos ativos do grupo.

Aparentemente, são quatro as fontes de receita principais: i) taxação ou extorsão da população e da atividade econômica nos territórios controlados; ii) saques a empresas e bancos dos territórios ocupados, tendo como caso notório o saque à filial do Banco Central de Mossul, segunda maior cidade do Iraque em junho de 2014, em que encontrou US$ 500 bilhões; iii) sequestro, com a cobrança por seus resgastes, que chegam a somar milhões de euros e que são pagos por vários países da Europa e iv) contrabando de petróleo vindo dos campos controlados pelo EI.

Em entrevista para o New York Times, Boaz Garnor, diretor do instituto internacional de investigação no Centro Interdisciplinar em Herzliya, Israel, destacou que o ISIS é uma organização híbrida, um grupo que também tem um território e que, tem pseudo-atividades legítimas de prestação de serviços para a população, tais como educação e saúde, o que leva a se ter mais cuidado para que ela continue como uma organização terrorista. 

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A extorsão ganha destaque para a economia do EI, que controla uma área de 6 milhões de habitantes, que mantém sua economia e taxa atividades cotidianas como agricultura e transporte. Em 2014, o centro de estudos Washington Institute for Near East Policy destacou que o EI poderia extorquir cerca de US$ 8 milhões por ano.

O EI também controla terras férteis no Iraque e na Síria e produz trigo e cevada, além de ocupar áreas ricas em fosfato, enxofre e cimento. De acordo com a Reuters, se a produção de trigo e cevada for vendida no mercado ilegal pela metade do preço, o lucro seria de US$ 200 milhões ao ano; no caso dos minerais, além de ácidos sulfúricos e fosfóricos, a receita seria de US$ 350 milhões ao ano. 

Para Garbon, há uma necessidade de lutar mais eficazmente contra as fontes de renda da organização e questiona: “por que não vemos ‘chamas’ sobre as instalações petrolíferas do ISIS? ISIS não está na costa. É razoável supor que o grupo está vendendo óleo através da Turquia. Como isso não parou?” Porém, há quem veja com ressalvas ataques a áreas petrolíferas, uma vez que civis podem ser atingidos e haveria riscos de desastres ao meio ambiente. 

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Garnon também vê a necessidade de ataques terrestres. Ele ressaltou que entende a relutância americana para “colocar as botas no chão”, depois de passar por conflitos no Iraque e no Afeganistão. “Mas uma organização híbrida não pode ser derrotado apenas com ataques aéreos”.

Por esses motivos, congelar os ativos e deter os fluxos de capitais parecem ser desafios grandes. Mesmo assim, os ministros das Finanças do G-20 realizam medidas para conter o grupo: em fevereiro, eles encarregaram o Gafi (Grupo de Ação Financeira) medidas concretas para fortalecer os instrumentos financeiros de combate. Em outubro, o Grupo divulgou relatório destacando medidas para combater a lavagem de dinheiro usado para bancar estas atividades. Eles destacam que as medidas contra a lavagem são fundamentais para asfixiar economicamente o EI, já que parte de seus recursos provêm da exploração de poços de petróleo na Síria.

Enquanto isso, as soluções de curto prazo seguem no foco e o esforço militar deve ser o mais decisivo neste momento: na última terça-feira (17), os presidentes da Rússia e da França, Vladimir Putin e François Hollande, concordaram em coordenar ações militares de seus países na luta contra os terroristas do Estado Islâmico e mais ataques aéreos devem estar por vir. Enquanto isso, o Estado Islâmico deve continuar fortalecido economicamente. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.