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Como tem sido recorrente, a Petrobras (PETR3;PETR4) teve um dia bastante movimentado na última segunda-feira (27).
Além da aprovação do novo CEO, Caio Paes de Andrade, pelo Conselho de Administração, a companhia anunciou ontem, após o fechamento do mercado, o reinício do processo de venda de alguns de seus ativos. Dentre eles, a Refinaria Abreu e Lima (RNEST), em Pernambuco, a Refinaria Presidente Getúlio Vargas (REPAR), no Paraná, e a Refinaria Alberto Pasqualini (REFAP), no Rio Grande do Sul, além dos ativos logísticos a elas integrados.
O processo foi retomado com a divulgação dos teasers de venda das três refinarias. Estes trazem informações de produtividade e especificidades técnicas do ativo, além de determinar os critérios de elegibilidade para aquisição destes. Em termos produtivos, a RNEST corresponde a 5% da capacidade total de refino de petróleo do Brasil, a REPAR, 9%, e a REFAP, 9%. Conforme determinado nos teasers, o comprador de qualquer um dos 3 ativos deverá ter receita de pelo menos US$ 3 bilhões em 2021, caso seja uma empresa do setor de óleo e gás, ou ter pelo menos US$ 1 bilhão em Ativos sob Gestão (AuC), caso seja um investidor financeiro.
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Para o Credit Suisse, se for bem-sucedida, a venda de refinarias pode trazer benefícios significativos para a petroleira.
O desinvestimento mitigaria o risco de preço, que historicamente tem sido o risco mais importante para o caso de investimento, além de reduzir as necessidades futuras de capital em downstream (refino e distribuição).
O Credit Suisse mantém classificação outperform (desempenho acima da média do mercado) para ADRs da Petrobras e preço-alvo de US$ 17 frente a cotação de segunda-feira (27) de US$ 11,78 (ou potencial de alta de 44,3%).
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Contudo, há muitas dúvidas sobre se esse processo de venda ocorrerá. Segundo analistas do Bradesco BBI, há chances do processo falhar novamente devido ao cenário político no Brasil, com as eleições se aproximando e em meio à escalada do debate populista sobre os preços dos combustíveis.
A Levante Ideias de Investimentos também aponta que a reabertura do processo de desinvestimento das refinarias, conforme acordado com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) é positiva, mas com poucas chances de avanço no curto prazo. “Lembrando que a Petrobras já tentou realizar a venda destas refinarias anteriormente e não foi bem-sucedida, além de ser um processo complexo e demorado”, aponta a equipe de research.
A casa de análise aponta que o plano de desinvestimentos da Petrobras, a abertura do mercado de refino e uma maior competição no setor são medidas extremamente positivas para o país e a solução no médio prazo para amenizar o risco
de desabastecimento de combustíveis. “Através da competição, regras claras e segurança jurídica, investimentos são realizados no setor, aumentando nossa capacidade de refino e suprindo a demanda interna, que atualmente necessita importar cerca de 25% dos combustíveis consumidos no país (30% no caso do diesel)”, avaliam os analistas da Levante.
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O Credit também aponta o fato de o Brasil estar em um ano eleitoral e que as discussões atuais sobre os preços domésticos dos combustíveis no pais poderiam efetivamente pesar na atratividade do negócio. Por outro lado, os analistas do banco suíço avaliam que o momento parece ideal do ponto de vista das margens de refino globais, com os crack spreads [diferenciais entre o preço do petróleo e os produtos de petróleo extraídos dele] globais em máximas históricos, o que pode se mostrar muito atraente em termos de geração de fluxo de caixa de curto prazo se tais spreads persistirem.
Para 2023, os analistas da Levante enxergam o plano de desinvestimentos com maior ceticismo, principalmente em uma eventual mudança de governo. O ex-presidente Lula já fez duras declarações contrárias à venda das refinarias e que a Petrobras deve investir em novas refinarias. “Não podemos deixar de destacar o quanto estes investimentos foram prejudiciais à companhia em um passado não tão distante, com desembolsos superfaturados, posteriormente identificados no Petrolão, e alta destruição de valor para os acionistas da companhia”, apontam.
Nomeação de Caio Paes de Andrade
A notícia da aprovação de Paes de Andrade como presidente da estatal também foi destacada, com os investidores de olho nas políticas que o novo CEO da Petrobras deve implementar.
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Jair Bolsonaro afirmou ontem que Paes de Andrade dará uma “nova dinâmica” à companhia.
“Caio hoje está tomando posse na Petrobras, teremos nova dinâmica na questão dos combustíveis. Tudo vai ser analisado na base da lei, sem querer mexer no canetaço na Lei das Estatais, sem querer interferir em nada, mas com muito respeito e muita responsabilidade”, disse em cerimônia no Palácio do Planalto.
Conforme aponta a Levante, a escolha de Paes de Andrade não foi uma surpresa, mas gerou revolta em algumas entidades. A Federação Únicas dos Petroleiros (FUP) afirmou que está entrando com uma ação judicial em conjunto com a Associação de Acionistas Petroleiros (Anapetro) contra a nomeação do CEO. As entidades alegam que a escolha do ex-secretário de Desburocratização do Ministério da Economia vai contra a diretriz da Lei das Estatais, que prevê experiência profissional robusta no setor como requisito para determinação de um novo presidente. Ambas também ressaltam motivações políticas para a escolha do nome de Paes de Andrade para o cargo.
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“O que surpreende são os três votos contrários à nomeação [por sete votos a favor e três contra] e o questionamento na justiça pela FUP. Porém, acreditamos que tais problemas podem ser contornados sem maiores dificuldades”, avaliam.
Para a Levante, a eleição de Paes de Andrade, assim como a recente acomodação no preço do petróleo (ainda que com uma alta nas últimas três sessões), alivia momentaneamente a pressão sobre a companhia e devem reduzir a volatilidade de suas ações no curto prazo. “Contudo, não podemos deixar de destacar que ainda há muita incerteza com relação a como será
seu mandato em uma eventual, e provável, subida nos preços do petróleo”, aponta.
Os analistas lembram que a demanda por diesel é sazonalmente maior no segundo semestre, momento em que precisamos colher a safra de inverno e escoá-la. Ao mesmo tempo, se inicia a temporada de furacões nos Estados Unidos, o que pode afetar a oferta de combustíveis. Caso tal cenário se concretize, o que vê como muito provável, um reajuste no preço do diesel se faz extremamente necessário para que não ocorra a escassez do produto em um momento crucial para o país.
Mesmo com o reajuste realizado recentemente, a defasagem no combustível está em torno de 9%, segundo a Abicom.
Outra alternativa seria o abastecimento local do combustível por subsídios da estatal. “Neste caso, ela importa a preços elevados para vender no mercado doméstico a preços artificialmente mais baixos. Esta medida seria extremamente prejudicial à companhia e a seus acionistas, com a conta sendo paga pelos contribuintes brasileiros”, apontam os analistas.
A coluna de Lauro Jardim, do jornal O Globo, destaca que os parlamentares esperam que o novo presidente da Petrobras proponha alguma fórmula que faça o preço dos combustíveis recuar nos postos. Assim como o gás de cozinha nos revendedores – essa seria a “nova dinâmica” citada por Bolsonaro (PL) em sua fala de ontem.
A alternativa mais fácil seria “empurrar um eventual reajuste com a barriga” – caso a cotação do petróleo permita. Porém, do lado dos acionistas, Paes de Andrade será pressionado de “todos os lados” para seguir a política de paridade de preços internacionais. A Folha ressalta que a empresa deve alegar “impacto social” para evitar mais reajustes.
Assim, as expectativas são de maior volatilidade em meio ao noticiário político impactando a estatal. Contudo, ainda há espaço para otimismo, como é o caso do Itaú BBA, que ontem reforçou recomendação outperform para a ação PETR4, com preço-alvo de R$ 43.
“Apesar de sermos sensíveis ao fluxo intenso de notícias sobre a empresa, ajustamos nossas lentes para focar nos fortes fundamentos da empresa e no sólido desempenho operacional”, pontuaram Monique Greco e equipe em relatório a clientes. Esses fatores, segundo eles, combinados com os atuais altos preços do petróleo e volumes de produção crescentes, “provavelmente resultarão em geração de fluxo de caixa forte demais para ser ignorada, especialmente no curto prazo”.
Para os analistas, o preço atual das ações parece descontado o suficiente para acomodar até mesmo cenários muito extremos e, na opinião deles, improváveis.
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