Posição defensiva de Energia e Saneamento em 2011 dependerá de regulação

Revisões tarifárias colocam em dúvida previsibilidade de resultados no próximo ano; fusões podem ser drivers

Giulia Santos Camillo

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SÃO PAULO – Visto como tradicionalmente defensivo por ter uma maior previsibilidade de resultados e dividendos atrativos, o setor de energia elétrica e saneamento tem uma perspectiva mais incerta para 2011. Com o risco regulatório maior, as dúvidas substituem as certezas e os analistas olham com maior cautela para as empresas.

Ainda assim, há opções atrativas no segmento e o consenso é de que, se o investidor procurar com atenção, encontrará boas oportunidades para o próximo ano. “No geral, nós permanecemos indiferentes em relação às perspectivas do setor para 2011 e recomendamos ao investidor que foque seletivamente em casos individuais de upside regulatório potencial e ações que forneçam proteção à inflação”, resume o analista Ben Laidler, do JP Morgan.

Para ele, os descontos das empresas de energia e saneamento brasileiras em relação aos pares globais são sustentados pelos maiores juros domésticos, o que não deve mudar em 2011. Em termos de motivos para novas quedas para as ações no próximo ano, Laidler cita as questões regulatórias e, embora o movimento de fusões e aquisições e corte de custos seja positivo, o analista mostra ceticismo sobre sua execução já em 2011.

Com características, riscos e drivers diferentes, o segmento de energia e o de saneamento merecem ser tratados separadamente.

Energia elétrica: regulação, inflação e aquisições em foco
Observando as análises em relação ao setor de energia elétrica, é possível apontar quatro pontos importantes no que diz respeito a 2011: a revisão tarifária das empresas de distribuição, a questão da renovação das concessões das geradoras, o impacto da inflação na procura por empresas do setor e os movimentos de fusões e aquisições.

De maneira geral, no entanto, o setor deve ver uma média de crescimento de 5% na oferta entre 2010 e 2019, conforme o plano decenal da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), enquanto a demanda deve crescer em ritmo superior ao do PIB (Produto Interno Bruto), de acordo com a analista de elétricas da SLW, Rosângela Ribeiro.

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“O crescimento da demanda deve ser acima do PIB, com destaque primeiro para o segmento residencial e depois para o comercial”, explica Rosângela. “O segmento industrial vai continuar crescendo acima do PIB também, mas não tanto quanto em 2010”, completa a analista da SLW.

Rosângela ainda frisa que o setor tem perspectivas positivas no próximo ano, devido ao provável foco do governo Dilma na infraestrutura e energia. Além disso, ele não está exposto aos problemas internacionais e não tem impactos profundos em termos de consumo devido à inflação ou ao esperado aperto monetário.

Por outro lado, com o aumento do risco regulatório, Renato Pinto e Sami Karlik, do Banco Fator Corretora, afirmam que os anos de 2011 e 2012 mostrarão redução nos resultados das empresas.

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O terceiro ciclo de revisão tarifária das distribuidoras começará com a Coelce, em abril, e posteriormente com a Eletropaulo, em julho. As audiências públicas sobre a questão começaram em setembro de 2010 e apontaram uma WACC (custo de capital médio ponderado) regulatória de 7,15% ao ano, abaixo da expectativa do mercado.

Segundo a Ativa Corretora, a taxa é “excessivamente punitiva para as distribuidoras”, comprometendo a saúde econômico-financeira e desencorajando o investimento em melhorias da malha de distribuição. Dessa forma, até o final das discussões sobre o assunto, o analista Ricardo Corrêa, da Ativa, vê o aumento da WACC proposta para 7,6% ao ano.

“Podemos ainda ter surpresas quanto a um eventual tratamento individualizado para cada empresa em termos de base regulatória de ativos, empresa de referência e Fator X”, ressaltou a Fator.

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Dentro do ambiente regulatório – e dessa vez impactando as geradoras – os analistas preveem a volta das discussões sobre a renovação das concessões com vencimento a partir de 2015. De acordo com a Fator, a questão está diretamente atrelada à energia que será descontratada e qual será o formato da sua recontratação.

“A nossa expectativa não é positiva”, alertam Pinto e Karlik. “Esses ativos que atualmente têm sua energia contratada ao preço de cerca de R$ 85 por megawatt/hora poderão ter redução de 30% a 35%”, ressaltam, apontando que as empresas a serem mais afetadas são Cesp (63% da capacidade de geração), Eletrobras (39%) e Cemig (16%).

Se até agora foram os riscos que estiveram em foco, o analista do JP Morgan ressalta um dos principais drivers para os papéis das elétricas em 2011: a necessidade de proteção frente à alta dos preços. “Se as expectativas de inflação aumentarem no próximo ano, a maioria das companhias do setor fornece proteção devido às suas tarifas indexadas a índices de preços”, explica Ben Laidler.

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Outro possível catalisador para os papéis – que não deixam de trazer riscos – seriam os movimentos de fusões e aquisições, especialmente no segmento de distribuição, segundo a analista da SLW, Rosângela Ribeiro.

Concordando com esse argumento, a Fator prevê que “a revisão tarifária será o propulsor da consolidação do setor elétrico, que inclusive poderá ser acelerada com a saída de alguns grupos estrangeiros, como por exemplo a Endesa (Coelce, Ampla), Duke Energy (Geração Paranapanema), Energias do Brasil (Bandeirante e Escelsa)”.

Para os analistas da corretora, outro ponto que facilita o processo é o baixo endividamento das empresas. Dessa forma, Pinto e Karlik elegem os principais grupos consolidadores como sendo a CPFL, a Cemig e a Light.

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Saneamento: risco regulatório diminui certezas
“O ano de 2011 será decisivo para o setor de saneamento, em razão da definição da estrutura de tarifas a ser estabelecida pelos órgãos regulatórios Arsesp, em São Paulo; e Arsae, em Minas Gerais”, resumem os analistas da Fator.

Renato Pinto e Sami Karlik ressaltam alguns pontos principais a serem observados nesse processo, como a presença de subsídios cruzados e a renovação das concessões de municípios, que podem dificultar a adoção tarifária que remunere os investimentos precisamente.

Por outro lado, como o setor atualmente é intensivo em capital devido à intenção de universalização, especialmente da coleta e tratamento de esgotos, é possível que os governos criem isenções fiscais. “De qualquer forma, a impressão é que, devido à necessidade de grandes investimentos no setor, os novos projetos em água e esgoto deverão ter um retorno atraente para novos investimentos”, destacam os dois analistas.

Eric Scott, da SLW Corretora, ressalta ainda outros pontos que devem ficar em foco em 2011, como o investimento mais pesado em esgoto. Além disso, há os investimentos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e o fato de que o governo tende a incentivar a entrada de investidores privados no setor, já que atualmente há pouca adesão – a maioria das empresas é estatal. Entre os obstáculos, Scott ressalta a expansão – tanto dos serviços de água como de esgoto – para áreas de periferia.

Para a Fator, observando o panorama que se desenha atualmente, a perspectiva para o segmento de saneamento em 2011 ainda não é positiva, “pois a visibilidade em relação à rentabilidade futura das empresas segue reduzida em razão das incertezas regulatórias”.

Recomendações
Confira as recomendações que cada um dos analistas ouvidos pela InfoMoney fez para o setor de energia e saneamento. 

A Ativa tem como sua top pick a Tractebel, “que nos dá segurança para uma aposta efetiva”. Além de ser uma empresa estável, segundo o analista Ricardo Corrêa, a empresa tem baixo risco relacionado à sua operação e está posicionada para beneficiar-se de cenários de explosão de preços spot.

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Fonte: Banco Fator Corretora
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Fonte: JPMorgan
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Fonte: SLW Corretora