Por que os investidores da BRF não se assustaram desta vez com a Operação Carne Fraca

Melhor momento da companhia e fato da empresa colaborar com investigações fazem com que ações não registram momento de pânico como em ocasiões anteriores

Lara Rizério

Planta da BRF (Divulgação)
Planta da BRF (Divulgação)

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SÃO PAULO – As ações da BRF (BRFS3) registram queda de cerca de 1% na sessão desta terça-feira (1), um dos destaques de baixa do índice, em meio à quarta fase da Operação Carne Fraca, a Romanos, que foi deflagrada nesta manhã e investiga o pagamento de vantagens pela companhia a auditores fiscais agropecuários para que atuassem em benefício da companhia.

Apesar da queda, os papéis BRFS3 desfrutam de relativa calmaria quando se compara a outras fases da mesma Carne Fraca. Em 17 março de 2017, quando foi deflagrada a primeira fase da Operação, os papéis da companhia chegaram a cair quase 8% e, cerca de um ano depois, quando foi deflagrada a Operação Trapaça (no dia 5 de março de 2018), a queda dos ativos foi ainda maior, de 16%.

Na Trapaça, por sinal, o ex-presidente da empresa Pedro de Andrade Faria, que veio da Tarpon, e o ex-diretor-vice-presidente Hélio Rubens Mendes dos Santos Júnior chegaram a ser presos temporariamente, por cinco dias.o que aumentou ainda mais a aversão ao risco.

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Com isso, corroborou-se um ambiente já complicado para a companhia, que sofria em apresentar bons resultados ao registrar contínuos prejuízos e com a alta do preço dos insumos., o que encarecia a criação de frangos e espremia as margens da empresa.

Contudo, o ambiente parece ser mais positivo para a empresa no momento – apesar do fato de mais uma vez estar envolvida na Carne Fraca não ser uma boa notícia para a empresa.

Ventos mais favoráveis

A BRF enfrenta um cenário macroeconômico mais positivo, assim como os frigoríficos brasileiros em geral, muito por conta da gripe suína na Ásia, o que aumenta e muito a demanda pelos produtos oferecidos pela empresa.

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As carnes de aves, carro-chefe da companhia, são consideradas substitutas claras à carne suína como alternativa mais barata, sendo fundamental para a geração de caixa da companhia.

Ao falar do setor em geral em relatório publicado na noite da última segunda-feira (30), os analistas do Bradesco BBI haviam destacado estarem otimistas com o setor de proteínas, mantendo justamente a preferência em BRF, com recomendação outperform (desempenho acima da média) e preço-alvo de R$ 50, o que configura um potencial de valorização de 31% frente o fechamento da última segunda-feira (30). Para JBS (JBSS3) e Marfrig (MRFG3), a recomendação é neutra, com preferência pela primeira em relação à segunda empresa.

De acordo com Leandro Fontanesi, do Bradesco BBI, as expectativas é de que os preços da carne de porco continuem em alta, o que deve ajudar nos preços no Brasil e  nos EUA. Na China, os preços subiram 5% em setembro e 75% no acumulado do ano – e a expectativa é de que os preços dobrem em 2019 na comparação com o ano passado.

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Além disso, os investidores estão mais otimistas com o segmento de proteínas no Brasil versus nos EUA e na China – as ações brasileiras no setor em geral registram ganhoa de 90% no acumulado do ano, versus alta de 45% nos EUA e 65% na China.

Vale ressaltar que, no acumulado do ano, os ativos da JBS já saltaram 183% (a maior alta do Ibovespa), Marfrig tem ganhos de 109%, enquanto a BRF tem valorização mais modesta, mas ainda expressiva, de 72%.

O Bradesco BBI destaca que parte do desempenho superior dos nomes brasileiros pode ser explicado pelo fato de que algumas dessas empresas passaram ou estão passando por um processo de desalavancagem, enquanto outras também melhoraram sua governança corporativa.

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A BRF, no caso, passou por um grande programa de venda de ativos no ano passado. A companhia fez um plano com meta de atingir R$ 5 bilhões com os desinvestimentos e, apesar de ter arrecadado menos do que o esperado (R$ 4,1 bilhões), a iniciativa foi bem-vinda.

Mas, além disso, voltando ao noticiário sobre a Carne Fraca, a operação desta terça-feira foi considerada mais “tranquila” pelos investidores uma vez que a BRF colaborou com as operações, prestando informações sobre o pagamento das vantagens aos servidores públicos e apontou quais eram os auditores favorecidos.

De acordo com a PF, cerca de R$ 19 milhões foram destinados a pagamentos indevidos, sendo pagos em espécie por meio do custeio de planos de saúde e por contratos fictícios firmados com pessoas jurídicas que representavam o interesse dos fiscais.

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As práticas ilegais ocorreram até 2017 e, conforme o comunicado da PF, pararam depois de uma reestruturação internada realizada no grupo.

Em comunicado ao mercado, a BRF esclareceu que nenhum de seus escritórios ou instalações ou de seus administradores foi alvo de “medidas de busca e apreensão no âmbito dessa operação e suas atividades seguem em plena normalidade”.

Ela ainda reforçou que tem colaborado com as autoridades para o esclarecimento dos fatos apurados nas investigações conduzidas pela Polícia Federal e Ministério Público.

Assim, o otimismo com a BRF segue pautando os investidores, apesar da manchete a princípio negativa com o renascimento da Carne Fraca hoje.

De acordo com compilação feita pela Bloomberg com 18 casas de análise, 11 possuem recomendação de compra para os ativos BRFS3, 6 têm recomendação neutra e apenas uma recomenda venda. As indicações não apontaram mudança com a notícia de hoje, em meio ao ambiente macro e micro positivo para a companhia.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.