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SÃO PAULO – Depois de ultrapassar a marca dos R$ 80, atingindo novos patamares históricos, a Vale (VALE3) teve queda de até 4,85% das suas ações na sessão desta quarta-feira (2), no dia do seu evento com investidores, o Vale Day, e repleto de anúncios para a mineradora.
A Vale atualizou as estimativas de volumes de produção, custos, capex (investimentos em bem de capital) e dívida. Os números de produção de minério de ferro decepcionaram o mercado, uma vez que a companhia revisou a sua estimativa para baixo, entre 300 milhões e 305 milhões de toneladas.
O número da última meta de produção projetada para o ano era entre 310 milhões e 330 milhões de toneladas, mais provavelmente “na extremidade inferior” da projeção. Em abril, cabe destacar, a companhia já havia reduzido a estimativa de produção por conta do impacto do coronavírus. Com essa nova revisão, a companhia mostra que segue afetada com os desafios para retomar capacidade em meio a efeitos do desastre de Brumadinho (MG), em janeiro de 2019, em um ano em que também sofreu efeitos da pandemia e de chuvas que reduziram a flexibilidade das operações.
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Já para 2021, a produção de minério de ferro da Vale deverá crescer para uma faixa de 315-335 milhões de toneladas, informou a companhia.
Tais números, apresentados antes da fala dos executivos da mineradora com o mercado, decepcionaram os analistas . “Achamos o guidance para 2021 particularmente frustrante, especialmente considerando que a administração declarou recentemente que o ponto de partida para 2021 é de 318 milhões de toneladas.”, apontam os analistas do Bradesco BBI.
Além disso, eles observam que os embarques provavelmente serão menores do que a produção, uma vez que a empresa continua a aumentar estoques devido à sua estratégia de ofertar o blend ao longo de 2021. O blend é um tipo de minério resultante da mistura da commodity do Sistema Norte de Carajás com minério do Sistema Sul que tem altos níveis de sílica.
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Por outro lado, os analistas apontam, o lado positivo dessa produção mais baixa é que ela fornece mais suporte para os preços do minério de ferro em 2021, que parecem estar caminhando para uma média acima de US$ 100 a tonelada (contra a estimativa atual do BBI de US $ 90 a tonelada), impulsionada pela forte demanda contínua da China e crescimento mais fraco da oferta.
Mas, além disso, outra questão foi com relação ao capex. O BBI ressalta que, embora o número agregado para 2020 e 2021 esteja aproximadamente em linha com as estimativas, a Vale mencionou que espera que o investimento em capital seja em média de US$ 5,5 bilhões por ano até 2025, acima da estimativa do banco de US$ 5,0 bilhões.
Na mesma linha, o Morgan Stanley também ressaltou o capex mais alto para os próximos anos do que o esperado – o banco tinha uma previsão de US$ 4,5 bilhões na média até 2025, ante US$ 4,85 bilhões do consenso de mercado. Com isso, os analistas do banco americano, antes mesmo da Bolsa brasileira abrir, apontaram esperar que a ação reagisse negativamente a menor produção de minério e ao maior guidance de investimentos.
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“Embora os volumes mais baixos de minério de ferro sejam positivos para os preços do minério de ferro, acreditamos que isso já esteja na cotação atual da commodity à vista, pelo menos até certo ponto”, afirmaram.
Por outro lado, entre os pontos positivos, os analistas do Morgan destacaram que a dívida líquida expandida da companhia está diminuindo. Ela planeja fechar 2020 com a dívida líquida expandida de US$ 10 bilhões, abaixo da estimativa do banco de US$ 11,6 bilhões. Para os próximos anos, a empresa prevê que esse valor diminua para US$ 8,6 bilhões em 2021 (contra US$ 10,9 bilhões projetados por eles), US $ 7,4 bilhões em 2022 (contra US$ 8,9 bilhões do Morgan) e US$ 6,0 bilhões em 2023 (ante US$ 6,2 bilhões do banco americano).
Sobre a desalavancagem, o BBI ressalta que a companhia segue bastante confiante em reduzir a sua dívida, sugerindo espaço para dividendos extraordinários ao longo do próximo ano. “Também observamos que os preços do minério de ferro continuam surpreendendo positivamente, o que implica dividendos mínimos mais fortes”, avaliam os analistas.
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Nesta quarta-feira, aliás, o minério de ferro teve uma sessão de disparada na Bolsa chinesa, sustentados pela forte demanda pelo ingrediente da siderurgia na China. O minério de ferro mais negociado para entrega em janeiro em Dalian DCIOcv1 ganhou 3,5%, para 934,50 iuanes (US$ 142,44) a tonelada, antes de encerrar a 934 iuanes. A forte demanda também impulsionou os preços do minério de ferro no mercado à vista na China para o nível mais alto desde janeiro de 2014 nesta semana, sendo cotado a US$ 133,50 a tonelada, de acordo com a consultoria SteelHome.
Assim, os analistas destacaram que, mesmo o guidance de produção um pouco decepcionante, isso não justificava nenhuma mudança estrutural na visão para a companhia. O Bradesco BBI tem recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para os papéis da Vale, com preço-alvo de US$ 18 para os American Depositary Receipts (ADRs) da mineradora, o que implica em um potencial de valorização de 17,5% em relação aos US$ 15,32 em que os papéis chegaram a operar no intraday.
Durante o Vale Day, alguns esclarecimentos sobre as novas metas foram dadas, assim como as perspectivas para os próximos anos também sobre outros temas. Marcello Spinelli, diretor-executivo de Ferrosos da mineradora, afirmou que a meta de produção de minério de ferro da Vale em 2021 é “conservadora” e haveria espaço para um aumento maior frente 2020. Entre os pontos para a meta conservadora ao considerar a capacidade atual, estão os possíveis riscos operacionais, de chuvas ou manutenções, considerando nenhuma evolução no plano de recuperação. “É um número bem mais conservador”, explicou.
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“O ponto maior do intervalo, consideramos que vamos receber algumas autorizações e os novos ativos vão entrar em operação dentro do programado. Mas também consideramos algumas contingências, algumas frustrações. Então podemos ter alguns aumentos, mas preferimos ser mais conservadores, colocando 335 milhões como produção máxima para 2021”, acrescentou durante o evento.
O diretor havia apontado que a mineradora estava produzindo em um bom ritmo no quarto trimestre, “na casa de 1 milhão de toneladas ao dia”, mas também havia riscos de atrasos, como o caso do projeto Serra Leste, cuja obtenção da licença para retomada e expansão de Serra Leste só ocorreu no final de novembro.
Descaracterização de barragens e ESG
A Vale também apontou desembolsos de caixa para descaracterização de barragens de US$ 400 milhões em 2021, US$ 500 milhões em 2022 e US$ 300 milhões nos próximos anos até 2025. Com os ajustes nos projetos de descaracterização e obras para melhorias da segurança, a Vale ainda espera registrar uma provisão adicional de aproximadamente US$ 670 milhões (valor nominal) para a execução do plano de descaracterização nas demonstrações financeiras do quarto trimestre.
O BBI aponta que essa provisão adicional, embora não esteja contabilizada no modelo dos analistas, não deveria ser uma grande surpresa, dada a complexidade do processo de descaracterização e a respectiva curva de aprendizagem na execução.
Com isso, o total dessas provisões somará, aproximadamente, US$ 2,7 bilhões de (valor nominal) em 31 de dezembro de 2020, valor que está sujeito a revisão. Essas provisões deverão fazer frente às descaracterizações de 29 estruturas e barragens a montante até 2029. Em 2019, foram feitas três descaracterizações, em 2020 outras duas, e mais três estão esperadas para 2021.
Já a fundação Renova, criada para realizar reparações pelo desastre da Samarco, terá impacto negativo no fluxo de caixa de US$ 550 milhões em 2021, ante US$ 400 milhões em 2020.
Durante o ValeDay, Luciano Siani, diretor financeiro da companhia, ressaltou ainda que a mineradora segue buscando um acordo global junto ao Estado para reparações pelo desastre de Brumadinho, e que a empresa separou US$ 19 bilhões para isso. Contudo, ressaltou ele, isso não impedirá pagamentos de dividendos extraordinários referentes ao ano de 2021.
A empresa apresentou também metas para melhorar a segurança, com a projeção de queda em 50% da exposição de empregados a riscos até 2025, e citou que terá uma abordagem mais proativa na gestão de riscos, ao suspender nove operações e projetos preventivamente para melhorar a segurança.
A Vale também apresentou pela primeira vez meta dentro do escopo 3 de redução de 15% as emissões líquidas relativas à sua cadeia de fornecedores e clientes, até 2035, tendo como base o ano de 2018, quando foram contabilizadas 586 milhões de toneladas de CO2 equivalente (MTCO2eq) oriundas da sua cadeia de valor.
A meta, que já considera o aumento de capacidade de produção para 400 milhões de toneladas de minério de ferro a ser atingida ao final de 2022, será revista em 2025 e, depois, a cada cinco anos. Hoje, 98% das emissões de CO2 da Vale são provenientes de escopo 3.
Neste sentido, a Vale anunciou também nesta quarta um projeto de geração de energia solar em Jaíba (MG), denominado Projeto Solar Sol do Cerrado, que prevê a construção de uma usina fotovoltáica, incluindo 17 subparques que totalizam uma capacidade instalada de 766 megawatts pico (MWp), com um investimento previsto em US$ 500 milhões, sendo elegível a linhas de financiamento sustentáveis.
“O investimento é alternativa estratégica que, além de auxiliar no alcance das metas de sustentabilidade e competitividade, irá proporcionar redução de cerca de US$ 70 milhões por ano nos custos de energia elétrica”, comentou a empresa, destacando que faz parte da estratégia de investimentos de US$ 2 bilhões para redução das emissões de carbono.
O próximo evento a ser acompanhado de perto para a companhia acontece no dia 9 de dezembro, com mais uma tentativa de acordo entre a empresa e o governo de Minas Gerais sobre o caso do rompimento da barragem em Brumadinho. A última tentativa ocorreu no dia 17 de novembro, em que o governo de Minas rejeitou a proposta apresentada pela mineradora de cerca de R$ 21 bilhões para reparar os danos causados pela tragédia. O pedido de reparação por danos materiais e morais é de R$ 54,6 bilhões.
A expectativa é de que a conclusão desse evento possa ser benéfico por diminuir uma das principais incertezas em torno da Vale: quanto e por quanto tempo a companhia terá que pagar pela reparação da tragédia, de forma a “virar a página” de vez para a empresa.
Enquanto isso, a expectativa de um elevado retorno de caixa para 2021 e por um bom pagamento de dividendos, assim como as cotações do minério de ferro em alta, seguem sustentando a visão positiva dos analistas para as ações da Vale, que fecharam a sessão da última terça-feira em alta de mais de 4%, para a máxima histórica de fechamento a R$ 81,25. Durante o ValeDay, por sinal, os papéis amenizaram as perdas de quase 5% vistas mais cedo, fechando com desvalorização de 1,74%. No ano, os ativos sobem 56%, sendo a quinta maior alta do Ibovespa no período.
De acordo com compilação feita pela Refinitiv com 6 casas de análise que cobrem o papel ON da mineradora negociado na B3, 100% delas possuem recomendação de compra para o ativo, com preço-alvo médio de R$ 85,56, o que corresponde a um potencial de valorização de 7% em relação ao valor de R$ 79,94 que o papel chegou a ser negociado no intraday. Já para o ADR, há cobertura de 22 casas, com todas recomendando compra com preço-alvo médio de US$ 16,30, ou um potencial de valorização de 6,40% em relação aos US$ 15,32 dos papéis da mineradora negociados na Bolsa de Nova York.
(com informações da Reuters e da Agência Estado)
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