Por que o Ozempic é tão caro? Veja quanto custa o medicamento

Quebra de patente da fórmula dos medicamentos da Novo Nordisk é esperada no início de 2026 e deve baratear preços

Victória Anhesini

Caixas de Ozempic, droga usada para o tratamento de diabetes produzida 
 pela Novo Nordisk (Foto: George Frey/Reuters)
Caixas de Ozempic, droga usada para o tratamento de diabetes produzida pela Novo Nordisk (Foto: George Frey/Reuters)

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Os medicamentos Ozempic e Wegovy, ambos da farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk, revolucionaram o tratamento de diabetes e obesidade. Porém, o valor dos tratamentos, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, gera controvérsias. 

No início de 2024, uma pesquisa feita pela Organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) e publicada no Journal of the American Medical Association (Jama) afirmou que a farmacêutica chega a adotar preços até 200 vezes maiores do que o necessário. 

Segundo a pesquisa, medicamentos com o hormônio GLP-1, como o Ozempic, são vendidos com um markup de quase 40.000% nos Estados Unidos, mas estão indisponíveis em países de baixa e média renda. 

A MSF aponta que o medicamento poderia ser vendido com lucro por apenas US$ 0,89 por mês, em comparação com o preço de US$ 95 por mês cobrado no Brasil, US$ 115 por mês na África do Sul, US$ 230 na Letônia e US$ 353 nos EUA. 

Além disso, o lucro líquido da Novo Nordisk no terceiro trimestre subiu 21%, para 27,3 bilhões de coroas (US$ 3,93 bilhões). Segundo dados compilados pela Bloomberg, as receitas da Novo Nordisk com Ozempic e Wegovy já alcançaram quase US$ 50 bilhões até o segundo trimestre de 2024 e devem atingir US$ 65 bilhões até o final do ano. 

O jornal destaca que o valor é quase equivalente aos US$ 68 bilhões que a empresa investiu em pesquisa e desenvolvimento dos medicamentos desde a década de 1990. 

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Pesquisas caras ou lucros altos? O que encarece o Ozempic

A Novo Nordisk argumenta que os preços elevados do Ozempic e do Wegovy são necessários para financiar o desenvolvimento de novos medicamentos. 

De acordo com a farmacêutica, mais de US$ 10 bilhões foram gastos ao longo de três décadas para desenvolver essas terapias.

Há questionamentos sobre a real necessidade de manter os preços tão elevados, já que a análise da Bloomberg revela que os recordes de vendas dos medicamentos Ozempic e Wegovy já rivalizam com o total investido pela Novo Nordisk em pesquisa e desenvolvimento ao longo de décadas. 

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Além disso, a empresa destinou mais de US$ 30 bilhões desde 2024 para expandir sua capacidade de fabricação, refletindo o crescimento da demanda. 

A situação no Brasil

No Brasil, os preços do Ozempic e do Wegovy são igualmente elevados. Atualmente, o Ozempic custa cerca de R$ 1,2 mil, enquanto o Wegovy, indicado para obesidade, chega a R$ 2,3 mil, em seus preços máximos.

Apesar do Mounjaro, da farmacêutica Eli Lilly, ainda não ter começado a comercializar o medicamento por aqui, o preço máximo previsto pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) será de R$ 3.952.37.

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“Os preços máximos ao consumidor para Ozempic, Wegovy e Rybelsus, considerando as alíquotas de impostos estaduais, já foram definidos pela CMED e publicados em seu site. No entanto, os preços praticados pelos pontos de venda podem variar”, disse Priscilla Mattar, vice-presidente da área médica da Novo Nordisk no Brasil.

Expectativa de queda de preço 

A molécula semaglutida da Novo Nordisk está protegida por patente desde 2006, concedida em 2019, com validade até março de 2026 no Brasil. Já a tecnologia SNAC, utilizada no Rybelsus, tem patente válida até 2031.

A patente estava prevista até 2029, mas uma decisão do Supremo Tribunal Federal em 2021 considerou inconstitucional um artigo da Lei de Propriedade Industrial, em que era autorizado que as patentes perdurassem por mais de 20 anos.

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“Devido a uma decisão do Supremo Tribunal Federal (ADI 5529) em 2021, o tempo real de aproveitamento da patente foi reduzido em cerca de três anos e meio, limitando-o a menos de sete anos, mesmo com previsão inicial de 20 anos”, disse Priscilla.

A Novo Nordisk tentou prorrogar o período da patente até 2036, mas foi negado pelo Tribunal Regional Federal da 1ª região, no início de 2023.

“Eu fico muito otimista com o surgimento de novas medicações, principalmente sendo produzidas por laboratórios diferentes e tendo efeitos benéficos da mesma maneira”, disse Tarissa Petry, endocrinologista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. 

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“Isso com certeza irá melhorar o acesso, nem que seja em médio prazo, com a quebra de patentes. São medicações que além de perda de peso e melhora metabólica, reduzem risco cardiovascular. Ou seja, a melhora do acesso a elas irá com certeza impactar a morbidade e mortalidade da população, bem como diminuir os gastos em saúde.”

A quebra da patente pode significar o barateamento do medicamento, com versões genéricas e seguras. Segundo o portal de notícias Neofeed, a queda do valor pode chegar a 35%, alcançando preços de até R$ 1,5 mil.