Por que o mercado de ações tem seguido o setor financeiro tão de perto?

Correlação dos índices acionários norte-americanos com bancos ultrapassa notícias, tendências e bom senso

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SÃO PAULO – É certo que a crise deu status ao setor financeiro. Mas não há algum exagero? Afinal, por que o vaivém atual do mercado de ações está tão correlacionado com as nuances dos bancos em Wall Street?

Os índices acionários nos EUA oscilam conforme a dança do setor financeiro, disparando juntos quando há qualquer sinal de melhora no horizonte dos bancos, e caindo simultaneamente ao se depararem com notícias negativas, por ora não tão ruins, mas com proporções elevadas no pânico generalizado que domina os mercados nos dias atuais.

Quando o inexplicável se torna concreto

Antes do estourar da crise de liquidez, seria inimaginável uma ação fechar com valorização de 30% após a companhia que a representa apresentar um prejuízo líquido na casa dos US$ 2,6 bilhões. Irreal ou não, a última quarta-feira (28) mostrou o quão possível à situação pode acontecer, ao passo que o protagonista desta ilustração insonhável, Wells Fargo, viu seus papéis dispararem no pregão.

Talvez o nome mais pronunciado na imprensa no alvorecer deste ano, Barack Obama e sua equipe trazem consigo uma das justificativas pela forte alta bancária na última sessão, ao passo que a expectativa da criação de um bad bank, cujo objetivo é limpar os balanços das instituições financeiras pela compra de ativos podres, disseminou confiança entre os investidores de que o Estado não deixará Wall Street a ver navios.

A despeito das assombrações latentes de Lehman Brothers e Bear Stearns no purgatório matrimonial, a crença de que os bancos são o engenho de um sistema capitalista traz algum alivio sobre a sobrevivência das instituições financeiras, podendo até pagar pelo custo de tal existência a perda da autonomia, na probabilidade de estatização – único credor em meio à crise de crédito.

Se o Tesouro dos EUA, através do programa Tarf (Troubled Asset Relief Program), aparece como salvador, o seguinte tripé deverá dificultar o trabalho: a restrição orçamentária do Estado, vide que dispêndios acima de US$ 1 trilhão são concretos, o preço a ser pago por estes ativos podres e a confiança dos bancos, dado o aporte, em realizar financiamentos novamente.

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Preparo se faz necessário

Ao direcionar o olhar para a renda variável doméstica, certas características realmente não desaparecem, mesmo com a pior crise desde a Grande Depressão. Até o último pregão, o Ibovespa acumulava valorização aproximada de 6% durante este ano, ao passo que as ações dos três maiores bancos do Brasil – Unibanco, Itaú e Bradesco – amargavam quedas respectivas de 8,1%, 6,8% e 5,3% no mesmo período.

Por último, duas certezas em meio ao horizonte nebuloso: a permanência da alta volatilidade nos mercados e de sua correlação com o setor financeiro; e a elevada probabilidade de ralis a qualquer notícia positiva.