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SÃO PAULO – Um dos primeiros grandes impactados no cinema por conta da pandemia do coronavírus, Mulan teve seu lançamento adiado diversas vezes em meio à luta da Disney para lançar um dos filmes mais aguardados do ano nas salas do mundo todo.
Contudo, com a extensão da crise, a companhia criou uma outra estratégia. Ela envolve, mais do que usar apenas o seu serviço de streaming, o Disney+, criar uma nova forma de colocar lançamentos nas plataformas digitais, cobrando uma tarifa além da mensalidade já paga pelos assinantes.
Inicialmente previsto para 27 de março, o lançamento da versão live action da animação de 1998 estreia nesta sexta-feira (4) nos Estados Unidos. E, enquanto os fãs matam a vontade de assistir ao filme, analistas e investidores irão acompanhar com atenção este evento que pode mudar os rumos não só da Disney, mas do setor inteiro de cinemas.
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“O impacto da pandemia nos negócios da Disney criou uma oportunidade única de testar e iterar usando um grande filme e um negócio de streaming em escala. Talvez o mais importante, isso destaca o apetite da empresa para assumir riscos, explorar novos modelos e dobrar no segmento de DTC (direto ao consumidor, na sigla em inglês)”, avaliam os analistas do Morgan Stanley em relatório que reiteram sua recomendação overweight (acima da média do mercado) para as ações da companhia.
Com a impossibilidade de lançar o filme nos cinemas, a Disney decidiu levar a nova versão de Mulan direto para o seu streaming, que custa US$ 6,99 mensais. Porém, diferente de como faz a Netflix, a companhia cobrará US$ 30 para quem quiser ver o lançamento, um custo maior que a média do preço do ingresso do cinema até ano passado, que estava na casa de US$ 12.
Isso lança o primeiro grande desafio para a empresa do Mickey: quantas pessoas estarão dispostas a pagar esse preço para ver o filme em comparação com a bilheteria que teria nos cinemas?
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Este teste ganhou recentemente mais um fator de análise, já que a Disney confirmou para 4 de dezembro a entrada do filme em seu catálogo no Disney+. Ou seja, quem esperar três meses poderá ver o filme sem pagar a mais por isso. Antes da pandemia, existia uma regra informal entre as produtoras em que a janela entre lançamento no cinema de um filme e no streaming era de cerca de sete meses.
O serviço de streaming da Disney se tornou um dos maiores trunfos da companhia desde 2019 e em especial durante a pandemia. Isso porque ele conseguiu compensar bastante o prejuízo de US$ 2 bilhões que a empresa teve com o fechamento de seus parques temáticos. Com menos de um ano desde o lançamento, o Disney+ já soma mais de 60 milhões de usuários.
Isso ajudou a trazer um alívio para as ações, que nos últimos três meses acumulam valorização de cerca de 9%, apesar de no ano ainda registrarem perdas de quase 7%.
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Em compensação, o BDR (Brazilian Depositary Receipt) negociado na bolsa brasileira acumula ganhos de 24,5% em 2020, puxado em maior parte pela disparada do dólar ante o real, sendo cotados atualmente em R$ 720. Apenas em agosto, os cupons da empresa subiram 19,37%, seguindo os ganhos das ações nos EUA com o resultado considerado positivo.
BDRs são certificados que representam ações emitidas por empresas em outros países, mas que são negociados aqui, no pregão da B3 (veja mais clicando aqui). É como se fossem valores mobiliários lastreados em papéis de companhias estrangeiras.
Até a virada do mês passado para este, estes produtos eram restritos a investidores qualificados, com pelo menos R$ 1 milhão em aplicações financeiras, o que deixa os BDRs com uma baixa liquidez. A partir de setembro, porém, qualquer investidor poderá negociar BDRs Nível I (não patrocinados), a depender do mercado em que os valores mobiliários que servem como lastro sejam listados.
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Além disso, as companhias brasileiras negociadas no exterior, como Stone, XP, PagSeguro, Afya e Arco Educação, também terão permissão para emitirem BDRs, se desejarem, seguindo as regras estabelecidas pela Bolsa. Apesar disso, uma mudança real e aumento de liquidez destes ativos ainda deve demorar para acontecer (entenda clicando aqui).
Mais que um streaming?
Além de mostrar sua determinação de arriscar em novas estratégias, a Disney mostra com o lançamento de Mulan no chamado Acesso Premium (PA, na sigla em inglês) que pode estar buscando tornar o Disney+ mais que apenas um serviço de streaming, desta o Morgan Stanley.
Segundo os analistas, “a Disney está pensando nessa plataforma além do caso de uso atual”. “Exemplos adicionais podem incluir monetização direta, como vendas de produtos ao consumidor, ou indireta, como um lugar para clientes dos parques pegarem suas fotos nas atrações. Em segundo lugar, destaca que sua equipe de gestão continua a assumir riscos e interromper os modelos existentes, mesmo quando muitos de seus negócios estão efetivamente fechados devido à Covid-19”, afirmam.
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E estas novas estratégias podem ajudar a Disney na disputa com suas concorrentes. O Morgan diz que é cedo para dizer que a companhia irá abandonar os lançamentos em cinema, especialmente por conta dos grandes eventos feitos para as estreias das grandes franquias.
Por outro lado, a estratégia pode se tornar lançar os filmes no cinema e no streaming ao mesmo tempo, deixando o cliente escolher o que prefere, algo que hoje é bastante criticado pelas produtoras e expositores.
Segundo os analistas, Mulan se tornou uma oportunidade única para a Disney explorar estas opções. Em primeiro lugar porque, com mais de 60 milhões de usuários, a empresa consegue lançar um grande filme em um ambiente de marca, ou seja, que pode atrair o cliente para outras opções dentro da plataforma. Isso sem contar no potencial de atrair ainda mais assinantes.
Em segundo lugar, eles destacam que o negócio cinematográfico da Disney é caracterizado por “um punhado de filmes de grandes franquias que normalmente exploram propriedade intelectual, como Pixar, Lucasfilm e Marvel”.
“Esses filmes geralmente abrem como grandes ‘eventos’ e seu valor se estende muito além da receita direta para parques e produtos de consumo. Esses filmes também se prestam a um preço premium de uma forma que outros estúdios, até mesmo a Netflix, dificilmente conseguem fazer igual”, explicam.
Há cerca de um mês, o Credit Suisse já havia demonstrado seu otimismo com a recuperação da Disney elevando sua recomendação para outperform (desempenho acima da média do mercado) e preço-alvo de US$ 146 (contra US$ 116 anteriormente).
Os analistas retiraram também um desconto de risco de 20% dados aos papéis por conta dos impactos da pandemia. Esta mudança se deu com o resultado forte da empresa e o desempenho positivo e promissor do serviço de streaming, que eles acreditam que irá superar os 100 milhões de assinantes com o lançamento na América Latina e em outras regiões no fim deste ano.
“No geral, com o novo CEO Bob Chapek sinalizando estratégias inovadoras e ousadas para o streaming, esperamos que as ações da Disney sejam ainda mais bem posicionadas como uma história de crescimento no segmento (em que os investidores têm opções de investimento limitadas) e eventual recuperação da Covid-19”, conclui o Credit.
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