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As eleições deste domingo (2) surpreenderam boa parte das pessoas e, também, dos gestores. O cenário que vinha se pintando, de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) iria para o segundo turno com ampla vantagem, ou até mesmo ganharia no primeiro, caiu por terra. Além disso, as disputas pelos cargos do legislativo e de governadores também divergiram do esperado.
Com isso, o Ibovespa avançava cerca de 4,5% por volta das 13h (horário de Brasília) desta segunda. O dólar comercial, no mesmo horário, perdia 4,11% frente à moeda brasileira, sendo negociado a R$ 5,172 na compra e a R$ 5,173 na venda. O real era a moeda com o melhor desempenho global nesta sessão.
Se o DataFolha do último sábado mostrou Lula com 50% das intenções de voto no primeiro turno e Bolsonaro com 36%, a realidade das urnas trouxe algo muito apertado, com o petista com 48,4% dos votos e o atual presidente com 43,2%.
Já na disputa pelo governo de São Paulo, por exemplo, a surpresa foi ainda maior. Tarcísio de Freitas (Republicanos), aliado de Bolsonaro que nas pesquisas era o segundo lugar e vinha perdendo espaço nas últimas semanas, ficou em primeiro lugar na disputa com quase 7% a mais do que Fernando Haddad (PT).
Na corrida ao Senado pelo estado, Marcos Pontes (PL), também aliado de Bolsonaro, teve 49,91% dos votos válidos, contra 31% da projeção da última pesquisa DataFolha. Márcio França (PSB) teve 36,27%, menos do que os 45% calculados pelo instituto de pesquisa.
“O cenário base continua sendo de uma vitória do Lula. Temos uma diferença de seis milhões de votos, que é difícil tirar no segundo turno. Mas as eleições foram mais apertadas do que o esperado”, explicou Marcos Peixoto, gestor da XP Asset, na edição especial desta segunda-feira (3) do InfoMorning, programa exibido pelo canal do InfoMoney no YouTube.
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Segundo ele, porém, a própria chance maior de o atual presidente ganhar acaba por impactar positivamente a precificação dos ativos brasileiros bem como da moeda – isso porque o atual mandatário vem tomando medidas consideradas mais amigáveis ao mercado. O PT, partido do ex-presidente Lula, do outro lado, tem um histórico de preferir medidas heterodoxas na economia, com intervenção do estado em diversos setores, menor responsabilidade fiscal e maiores gastos públicos.
Gastos fiscais exacerbados, por exemplo, tendem a criar um fluxo de saída de capital do país, com investidores temendo que o Governo não cumpra suas responsabilidades financeiras (deixando de pagar as dívidas, por exemplo). Isso enfraquece a moeda e pressiona a curva de juros, com “empréstimos” ao país ficando mais caros.
“O mais importante foi, contudo, a composição do congresso, com a direita ganhando força no Senado e na Câmara. Isso limita bastante o medo de o Lula vir mais a esquerda. Dificilmente vai conseguir, nesse cenário, mudar algo como a lei das estatais ou tomar atitudes mais ousadas, como estatizar a Eletrobras, coisas que ele vinha defendendo”, debate o gestor da XP.
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As ações ordinárias e preferenciais das estatais sobem, respectivamente, 7,71% e 7,62%. As ordinárias do Banco do Brasil (BBAS3) sobem 7,09%.
“Indo direto ao ponto, a probabilidade de o Lula fazer um governo muito à esquerda ficou muito pequena. As chances de termos um presidente mais radical, mais raivoso, com governo liderado pela Gleisi Hoffmamn ou pelo Aloísio Mercadante, por exemplo, caiu muito. O Congresso é de direita e de centro direita, conservador e emponderado”, acrescenta Paolo di Sora, CIO da RPS Capital.
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A expectativa, com tudo isso, é que Lula terá de articular muito mais com quem diverge dos seus planos para a economia.
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Para a Petrobras, por exemplo, o petista vinha se posicionando é contra a política atual de preços da estatal, que segue a paridade internacional do petróleo. Para o Banco do Brasil, Lula defendeu que a instituição “tem de focar menos no lucro para ter maior responsabilidade social”.
“Acho que o Lula tem de 70% a 80% de chance de ganhar, mas, mesmo assim, terá de conversar muito com o Congresso. Vamos caminhar pelo centro, seja quem for o presidente eleito”, diz di Sora. “E esse cenário de centro ainda não está precificado na maioria dos ativos. A bolsa está relativamente barata e o dólar ainda caro”.
O especialista da RPS, no entanto, alerta para o fato de que Lula pode, uma vez que terá menor poder legislativo, aumentar o uso dos recursos administrativos, que não dependem do Congresso.
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“Se o Lula ganhar, acho que o cenário para as estatais piora no relativo ao anterior, porque ele só terá a Petrobras e o Banco do Brasil para governar ‘mais a esquerda’. A possibilidade dele utilizar essas companhias, uma vez que não vai conseguir usar o Congresso, aumentou. Eu não estaria participando deste rally de hoje”, alerta o gestor.
Para o setor de educação, di Sora vê um cenário muito binário – no caso de Lula eleito, o petista deve voltar a impulsionar o FIES e beneficiar companhias como a Cogna (COGN3) e Ydqus (YDUQ3), que hoje caem, na sequência, 1,02% e 1,10%.
“Já o setor de construção de baixa renda vai bem nos dois cenários. Bolsonaro aprovou uma turbinada no Casa Verde Amarela. É um negócio que vai bem na eleição de qualquer um dos dois”, afirma.