Publicidade
Participantes do mercado reagiam de forma mista nesta terça-feira ao anúncio de um leilão extraordinário no mercado de câmbio pelo Banco Central, com alguns analistas minimizando a atuação e outros duvidando da intenção manifestada pela autarquia de apenas suprir uma demanda pontual, já que a primeira intervenção cambial sob o governo Lula vem depois de um salto do dólar.
Alguns operadores cogitavam a possibilidade de o BC fazer novas operações similares nos próximos dias.
O BC anunciou na noite de segunda-feira que fará nesta sessão um leilão adicional de swap cambial tradicional, no valor de 1 bilhão de dólares, para atender parte da demanda gerada pelo resgate do título NTN-A3, atrelado ao câmbio, previsto para 15 de abril. Essa será a primeira intervenção sem fins de rolagem da autarquia no mercado de câmbio desde o final de 2022.
Continua depois da publicidade
A NTN-A3 é um título público indexado ao dólar que há anos não é negociado pelo Tesouro Nacional, mas ainda há no mercado brasileiro instituições que detêm o papel em suas carteiras. Em 15 de abril, uma segunda-feira, estão programados para vencer um total de 18,534 bilhões de reais em NTN-A3s que foram negociadas em 1997. Em valores atuais, os papeis equivalem a cerca de 3,6 a 3,7 bilhões de dólares, de acordo com participantes do mercado.
Os detentores das NTN-A3s no Brasil, ao longo dos anos, carregaram posições vendidas em dólar para cobrir a exposição a estes títulos, de forma que, com o vencimento dos papéis, é preciso encerrar essas posições — o que é feito por meio da compra de dólares, com potencial de alimentar a alta da moeda norte-americana.
“Esta intervenção não tem nada a ver com a forte alta (do dólar) de ontem e sim com o atendimento de uma demanda pontual”, disse Guilherme Esquelbek, da Correparti Corretora, afirmando também ser essa a visão de outros de seus pares analistas de mercado.
Continua depois da publicidade
Dólar hoje
Mas alguns agentes financeiros avaliam que a recente desvalorização do real — depois de na véspera o dólar ter saltado 0,86%, ao maior valor de fechamento desde 13 de outubro do ano passado, acumulando alta de 1,57% em dois dias úteis — pode ter influenciado a decisão do BC de intervir no mercado.
“Oficialmente o Banco Central está usando como justificativa o vencimento de títulos de dívida para o dia 15 de abril… mas na verdade ele poderia ter feito essa intervenção em qualquer dia entre o dia 2 e o dia 15”, disse Leonel Mattos, analista de inteligência de mercados da StoneX.
“É fato que a desvalorização recente do real deve estar preocupando o Banco Central, que busca na verdade conter um movimento de alta mais expressivo e reduzir a volatilidade para taxa de câmbio”, completou ele.
Continua depois da publicidade
Japão adverte sobre medidas contra volatilidade excessiva do iene
Moeda japonesa tem apresentado tendência de baixa, apesar da decisão do Banco do Japão de encerrar oito anos de taxas de juros negativas
Valorização do real vai depender de decisões do BC americano sobre a taxa de juros
Apesar dos ruídos políticos locais, o grande indutor da alta do dólar foi a mudança das expectativas em torno da política monetária americana
Alfredo Menezes, sócio da gestora Armor Capital, escreveu: “É sabido que o volume da NTNa é em torno de 3,6 bilhões de dólares. O BC costuma atuar quando o mercado está disfuncional. Se é para suprir a demanda em função do vencimento da NTNa, por que não anunciou o lote integral (3,6 bilhões) e sim só 1 bilhão?”
Nesse sentido, alguns participantes do mercado questionam a possibilidade de haver outros leilões semelhantes até o dia do vencimento dos títulos públicos em questão.
“Coube ao nosso BC prover 1 bilhão para compensar parcialmente o vencimento desse ativo em dólar… (Será que o BC) vai completar os 2,6 bilhões até lá? Esse evento ‘enfraquece’ a tese do BC preocupado com o nível do dólar”, disse Roberto Motta, da mesa de futuros da Genial Investimentos.
Continua depois da publicidade
Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital, foi na linha de que o leilão extraordinário uniu o útil ao agradável. Segundo ele, o BC provavelmente monitorou os efeitos do desgaste da NTN, previu que isso pressionaria o câmbio mais ainda — em um momento de já farta procura por dólar — e buscou assim equilibrar a liquidez do mercado.
“Acho que, sob a gestão do Roberto Campos Neto, haverá sempre intervenção mínima e pontual no mercado. A percepção é de que, diante do excesso de liquidez e da embalada economia dos EUA, tentar conter o câmbio será enxugar gelo”, acrescentou Bergallo, referindo-se à possibilidade ventilada nos mercados de que haja novas intervenções extraordinárias do BC à frente.
O mercado de câmbio tinha reação moderada à notícia do leilão. Na abertura deste pregão, o dólar à vista chegou a recuar 0,72%, a 5,0226 reais, com operadores dizendo se tratar de reação ao anúncio dos swaps. No entanto, a moeda foi ganhando fôlego ao longo do dia e caía apenas 0,22% por volta das 11h20 (de Brasília).
Planilha
Resultados do 3º trimestre
Acesse gratuitamente a planilha secreta do InfoMoney para acompanhar a temporada de balanços. Clique no link abaixo para receber a sua por email.