Por que esta é a semana mais importante de 2024 para mercados globais (e para a B3)

Eventos globais e locais, incluindo eleições nos EUA e decisões de juros, podem definir o cenário econômico nos próximos meses, com impacto direto no Brasil

Murilo Melo

Painel de cotações na B3. Fonte: Amanda Perobelli/REUTERS
Painel de cotações na B3. Fonte: Amanda Perobelli/REUTERS

Publicidade

Esta semana concentra uma série de eventos que podem moldar o cenário econômico global e nacional nos próximos meses, destacando-se como um período determinante para investidores e mercados. Entre os acontecimentos de maior impacto estão as eleições nos Estados Unidos, as decisões do Federal Open Market Committee (FOMC) e do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a taxa de juros, a Selic, os anúncios de cortes de gastos pelo governo brasileiro e uma cúpula de líderes globais na China. Além disso, a agenda corporativa intensifica-se com a temporada de balanços, trazendo mais volatilidade ao mercado.

Conforme aponta a Ágora Investimentos, essa talvez seja a semana mais importante de 2024 em meio a dúvidas entre os investidores com as eleições americanas, mas o Brasil também tem seus próprios elementos que vão mexer o mercado – principalmente no caso da decisão da Selic e anúncio do governo. Confira abaixo os principais pontos para ficar de olho nesta semana:

Eleições nos EUA: as apostas para 2024

As eleições nos EUA, que acontecem nesta terça-feira (5), têm sido acompanhadas de perto pelo mercado, dado seu potencial impacto sobre as políticas econômicas e comerciais. Concorrem ao posto de presidente Kamala Harris e Donald Trump. Segundo o agregador geral de pesquisas do New York Times, Harris tem 49% contra 48% de Trump.

A influência dos resultados pode afetar a política monetária e econômica do país, que, por sua vez, molda os fluxos globais de capital e pode impactar diretamente o Brasil. Para o mercado brasileiro, uma administração americana voltada para políticas mais protecionistas ou menos comprometida com o combate à inflação pode gerar tensões no câmbio e na economia doméstica.

No Brasil, o mandato de Harris pode beneficiar setores brasileiros relacionados a minerais críticos e investimentos verdes, tende a priorizar investimentos em infraestrutura e apoio a pequenas empresas, o que pode aumentar o apetite dos investidores por mercados emergentes. Com Trump como chefe de Estado, setores de exportação de commodities, como o agronegócio, mineração e siderurgia podem se destacar, segundo analistas.

FOMC e Copom: uma semana de decisões sobre juros

Na quinta-feira (7), o FOMC deve anunciar sua decisão sobre a taxa de juros nos Estados Unidos. Dados recentes, como a taxa de desemprego de outubro, que se manteve estável, reforçaram a expectativa de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) possa cortar os juros em 0,25 ponto percentual (p.p.), porque o mercado de trabalho norte-americano continua aquecido.

Continua depois da publicidade

Embora a inflação mostre sinais de desaceleração, o consenso é de que o Fed opte por manter a taxa ou realizar um corte moderado. Ainda assim, o discurso dos membros do comitê será fundamental para captar o tom e a orientação futura da política monetária.

Já no Brasil, o Copom se reúne também na quarta-feira para definir a taxa Selic, com expectativa de mais um corte moderado, que, segundo a Ágora Investimentos, poderia ajudar a impulsionar a economia interna, reduzindo custos de crédito para empresas e consumidores.

Caso as previsões dos economistas se confirmem, a nova taxa de juros ficará em 11,25%. A reunião terá início amanhã e se encerrará no dia seguinte. A expectativa de elevação de 0,5 ponto percentual, partindo do nível atual de 10,75%, está refletida no boletim Focus semanal, divulgado nesta segunda-feira (4).

Continua depois da publicidade

A combinação das decisões dos bancos centrais dos EUA e do Brasil pode afetar o câmbio e, no caso brasileiro, pressionar o real. A volatilidade nas taxas de juros e no câmbio já tem elevado os custos para setores dependentes de importações e com dívidas em dólar, como o aéreo e o de construção civil.

Brasil: cortes de gastos e expectativas de ajustes fiscais

No cenário doméstico, o governo brasileiro planeja o anúncio de cortes de gastos em um esforço para alcançar o superávit fiscal. Na sexta-feira, Lula orientou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para antecipar sua viagem para a Europa, marcada para esta semana.

A iniciativa do corte de gastos é vista como uma tentativa de controlar o déficit e sinalizar comprometimento com a responsabilidade fiscal — uma medida que economistas acreditam que pode “acalmar o mercado”.

Continua depois da publicidade

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou, no fim da manhã desta segunda, após uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que o governo está “na reta final” para anunciar as medidas.

Haddad acredita que haverá condições para o anúncio do corte de gastos ainda nesta semana, e que o processo está em fase final. Por respeito ao presidente, diz o ministro, ele aguarda a organização da comunicação das medidas e pediu algumas horas para que Lula encaminhe essa última etapa.

A sinalização de disciplina fiscal é especialmente importante num contexto de alta volatilidade cambial e de juros elevados, afetando desde o custo da dívida pública até as expectativas de inflação.

Continua depois da publicidade

Haddad e Lula destacaram, em eventos recentes, o empenho em um ajuste mais austero e equilibrado. Segundo especialistas, tal decisão poderia aliviar a pressão sobre o Banco Central para manter uma política monetária restritiva e estabilizar a confiança dos investidores no Brasil

China: uma oportunidade para o Brasil?

Outra peça importante nesta semana é o encontro de líderes do Comitê Permanente do Congresso Nacional do Povo (NPC), na China, onde espera-se que temas como o comércio global e o crescimento econômico estejam no topo da agenda.

Para o Brasil, que tem na China um dos seus principais parceiros comerciais, qualquer anúncio de estímulo ou crescimento do país asiático pode favorecer as exportações brasileiras de commodities, como o minério de ferro.

Continua depois da publicidade

Nesta segunda, os futuros do minério de ferro registraram ganhos, já que o mercado aguarda ansiosamente pela reunião.

Uma sinalização positiva da China poderia estimular setores estratégicos da economia nacional, especialmente o agronegócio e a mineração.

Temporadas de balanços: resultados trimestrais em foco

Por fim, a semana traz também uma agenda carregada de balanços do terceiro trimestre deste ano (3T24), com empresas de diversos setores apresentando seus resultados trimestrais. O peso desta semana é amplificado pela concentração de grandes nomes reportando seu desempenho, o que adiciona volatilidade extra aos mercados e permite uma leitura mais precisa das tendências de setores específicos.

Nesta segunda-feira (4), nomes como Itaú Unibanco (ITUB4), e TIM (TIMS3) divulgam seus balanços do 3T24. No dia 5, Iguatemi (IGTI11) e outras empresas de peso como Gerdau (GGBR4), PRIO (PRIO3), Pão de Açúcar (PCAR3), Raia Drogasil (RADL3), e Telefônica Brasil (VIVT3) também farão suas divulgações.

Para o dia 6, algumas das maiores empresas a apresentarem seus resultados incluem Eletrobras (ELET3), Braskem (BRKM5), TOTVS (TOTS3), Copel (CPLE6), e Taesa (TAEE11).

No dia 7, destacam-se nomes como Petrobras (PETR4), Grupo Natura (NTCO3), Assaí (ASAI3), Lojas Renner (LREN3), Magazine Luiza (MGLU3), Rumo (RAIL3), e Alupar (ALUP11). Para fechar a semana, na sexta-feira (8), a Embraer (EMBR3) divulga seus resultados antes da abertura.