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SÃO PAULO – Em evento “Diálogos para o futuro”, realizado pela Carta Capital, o Nobel de economia de 2008, Paul Krugman, afirmou que o Brasil vem mostrando resiliência diante das crises internacionais. Porém, por ter uma grande parte de sua economia voltada para a exportação de commodities, deve sofrer um choque vindo da China.
Durante o evento, realizado em São Paulo nesta terça-feira (18), ele ressaltou que a grande preocupação é a China, “mesmo porque as estatísticas não são totalmente confiáveis”. E o país não vai crescer às mesmas taxas, aponta, uma vez que os investimentos serão reduzidos.
Neste cenário, ele aponta que o Brasil, que é uma economia exportadora de commodities, deverá sofrer por causa da crise chinesa. “Estou preocupado com esse choque vindo da China. Não estamos falando de crise – no Brasil. É algo que pode ser manejado, mas não seria bom para o País”, afirmou.
Ele destacou ainda que a economia chinesa emite sinais claros de desequilíbrio e assim, não deve manter as altas taxas de crescimento econômico. Krugman ainda afirmou que os dados chineses são uma espécie de ficção científica e que nem o governo central sabe mesmo quais são os dados.
Porém, mesmo com os riscos incorridos pela China, o Brasil já não apresenta mais tantos motivos para se preocupar, uma vez que tem se mostrado mais resistente, assim como nas crises anteriores. “[A crise na China] não seria uma catástrofe”.
Preocupações com o Brasil não se justificam
“O Brasil saiu da crise mundial muito bem e não se justificam preocupações com sua economia”, afirmou, divergindo de boa parte dos economistas internacionais que aponta que o País é uma das nações mais frágeis ao cenário de maior fragilidade global.
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A menor exposição em dívida denominada em moeda estrangeira e a dívida externa do País, perto de US$ 300 bilhões, já não são um fator tão determinante para a economia. Além disso, há maior confiança de que a política fiscal será mais responsável.
Crítica ao conceito Brics
Krugman fez ainda críticas ao conceito Brics (Brasil, Rússia, Índia e China), criado pelo economista Jim O’Neill em 2001 para representar os países que guiariam o crescimento mundial. O Nobel apontou que o conceito é muito peculiar, uma vez que representa um conjunto de países que não são semelhantes.
“O novo normal”
O Nobel de Economia ainda traçou um panorama sobre a economia norte-americana, destacando que o país está melhor após a crise de 2008, mas continua tendo um desempenho fraco. E afirmou que o Federal Reserve, presidido agora por Janet Yellen, tem uma preocupação bem maior com esta situação e busca recuperar a demanda nos EUA, o que não está sendo digerido pelos investidores.
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Krugman destacou que a atual presidente do Fed deve manter as taxas de juros baixas por muito tempo e que os mercados estão errados, fazendo menção a uma corrente que acredita que o Fed deve voltar a elevar os juros em breve.
Para ele, a fraca recuperação econômica dos EUA não é um fenômeno isolado, pois é considerado um novo padrão de crescimento conhecido como o “novo normal”. As economias estão fracas de forma persistente e há dificuldades na realização do ajuste. Enquanto isso, a Europa não parece enfrentar uma catástrofe, mas também está em um movimento de recuperação débil.
Krugman destacou ainda que há um fator positivo neste crescimento baixo da economia avançada: “as autoridades de países avançados pelo menos evitaram a destruição do sistema financeiro global”, citando a ação coordenada entre as autoridades monetárias dos EUA, zona do euro e Japão.