Por que as ações de educação caem na Bolsa?

Setor educacional tem sofrido com taxas de juros elevadas, cenário macroeconômico desafiador e maior concorrência

Camille Bocanegra

Publicidade

Apesar do otimismo de parte do mercado com as empresas de educação, este ano não tem sido promissor para os investidores das ações deste setor na Bolsa. Isso porque as ações da companhia sofrem, com os principais papéis figurando entre as maiores quedas do ano.

Puxando as perdas está Cogna (COGN3), que desaba 45% em 2024, seguida por Yduqs (YDUQ3), -42,8%; Ser (SEER3), -36,9%; Cruzeiro do Sul (CSED3), -21,1%; e Anima (ANIM3), -19,2%.

Por trás destes desempenhos, encontram-se tanto aspectos setoriais quanto macroeconômicos, além de pontos individuais das companhias.

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de crescimento para os próximos meses e anos

Educação cai na Bolsa por concorrência e migração para digital

Dentre os principais aspectos setoriais destacados por analistas, está o aumento da concorrência, em especial no ensino remoto (que conta com tickets mais baixos). A maior oferta de cursos na modalidade digital não é o único desafio que o setor enfrenta pela mudança do presencial para o Ensino a Distância (EaD).

“Setorialmente, o setor educacional passou por muitas mudanças, como a migração do ensino presencial para o digital. Isso exige mudanças estruturais significativas (físicas e logísticas), além de impactar custos e captação de alunos. O aumento na oferta de cursos digitais também trouxe desafios”, diz Caritsa Moreira, analista da VG Research.

Continua depois da publicidade

Dentre os pontos desafiadores elencados pela analista na transição digital, estão as perspectivas de regulamentações mais rígidas, tanto por limites na relação quantitativa de professor/aluno, o que pode aumentar os custos, quanto pela possível maior burocracia para abertura e manutenção de cursos.

A analista também destaca que a inadimplência de alunos surge como uma dificuldade não somente financeira, mas também operacional. A dinâmica afeta também a captação e manutenção de alunos. Isso implica em mais custos com marketing e com manutenção de estruturas físicas, impactando o desempenho financeiro das empresas.

Cenário macro pressiona ações de educação

Muitas das companhias educacionais apresentam desvalorização forte em 2024 como reação a balanços mal recebidos por mercado. É o caso da Cogna (COGN3) e da Yduqs (YDUQ3), em especial, que acumulam desvalorização no ano superior a 40%. Em maio, a queda segue: COGN3 cai 12,4% e YDUQ3 perde 13,7%.

Continua depois da publicidade

Para além de dificuldades do setor, o cenário macroeconômico tem acelerado a queima de caixa das empresas do setor, de acordo com Caritsa. Somado à taxa de juros ainda elevada, o desempenho financeiro das companhias educacionais tem ficado ainda mais pressionado.

“A necessidade demandada pelo setor educacional, em um ambiente de juros altos, aumenta o custo do capital e reduz a rentabilidade”, ressalta.

Além disso, o setor tem apresentado muita oscilação na Bolsa pelo custo da manutenção das posições por investidores, em especial em um período mais desafiador.

Continua depois da publicidade

Ainda assim, a analista considera que é possível que o pior já tenha passado para o setor, mesmo com a ressalva de que as empresas ainda têm muito trabalho pela frente para superação de desafios.