Por que ações da Merck disparam enquanto fabricantes de vacinas registram quedas diante de novo remédio anti-Covid

Pessoas resistentes à vacinação em países desenvolvidos podem se ancorar no novo tratamento

Ricardo Bomfim

O remédio anti-Covid Molnupiravir, da Merck (crédito: Divulgação)
O remédio anti-Covid Molnupiravir, da Merck (crédito: Divulgação)

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SÃO PAULO – A notícia que anima os mercados desde a manhã desta sexta-feira (1) é a de que a farmacêutica Merck pedirá autorização à FDA (a Anvisa dos Estados Unidos) para comercializar seu remédio molnupiravir, que pretende combater o coronavírus.

Isso após a companhia informar que seu remédio experimental contra a Covid-19 reduziu as hospitalizações e mortes em pessoas no início da infecção com o coronavírus.

Em relatório, os analistas Matthew Harrison, Charlie Yang e Kostas Biliouris, do Morgan Stanley, lembraram que a Merck já possui um acordo de US$ 1,2 bilhão com o governo americano para tratamento de Covid.

“Vemos esses dados como um fator positivo significativo para os pacientes e para a percepção de risco do Covid por parte do público. Esperamos que a ação da Merk suba com essas notícias”, previram os analistas.

Como resultado óbvio desse anúncio, as ações da companhia disparam na Bolsa de Valores de Nova York. Às 16h32 (horário de Brasília) os papéis da farmacêutica se valorizavam em 9,33% a US$ 82,12.

O resultado menos óbvio é que as ações das empresas que desenvolveram vacinas contra a Covid-19 estão caindo, ainda que em intensidades diferentes. Papéis da Pfizer têm queda de 0,7% a US$ 42,71, ações da Johnson & Johnson recuam 0,48% a US$ 160,73, após chegarem a cair mais forte durante a manhã. Mas, enquanto isso, a Moderna desaba 11,07%, a US$ 342,25, e a BioNTech perde 8,31%, a US$ 250,30.

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Vinícius Araújo, analista internacional da XP, diz que esse movimento ocorre por uma perspectiva de que com a aprovação de medicamentos possa haver uma demanda reduzida pelas vacinas. “É uma droga em fase três de estudos e, portanto, já é considerada segura. Isso significa que algumas pessoas podem preferir o tratamento à imunização”, explica.

É importante lembrar que a penetração das vacinas em países desenvolvidos não tem sido tão grande quanto na América do Sul. Os Estados Unidos, por exemplo, apesar de terem um excesso de vacinas, contam com apenas 65% da sua população vacinada com ao menos uma dose (56% de totalmente imunizados). A Alemanha, por sua vez, tem 34% de totalmente imunizados.

Já o Brasil, apesar de ter largado atrás na corrida das vacinas, já conta com 71,1% de vacinados com uma dose e 42,7% de totalmente imunizados.

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“As pessoas desconfiam do tempo em que foram desenvolvidas as vacinas, e agora com a possibilidade de outro tipo de tratamento pode ser que essas pessoas mais resistentes tenham ainda menos interesse em se vacinarem”, acredita Jennie Li, estrategista de ações da XP.

Vinícius Araújo comenta que a disparidade nas quedas de farmacêuticas envolvidas no desenvolvimento de imunizantes também tem razões explicáveis. “Johnson & Johnson e Pfizer são menos dependentes do sucesso das suas vacinas para terem bons resultados, ao contrário da Moderna, que tem como único tratamento aprovado pela FDA a sua vacina anti-Covid”, destaca.

Apesar disso, Araújo lembra que a existência de um tratamento não deveria ser motivo para as pessoas deixarem de lado as vacinas, uma vez que o imunizante é uma prevenção, ao passo que o molnupiravir da Merck é um remédio que deve ser usado somente em casos de hospitalização por conta do coronavírus. “A principal fonte de imunização permanece sendo a vacina.”

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Ele aponta ainda que o mercado não precificou totalmente a possibilidade não só da necessidade de uma terceira dose, como também de doses anuais de reforço das vacinas contra a Covid-19. “O próprio CEO da Pfizer falou que enxerga uma vacinação anual para manter a imunização como ocorre com outras vacinas”, argumenta.

Rafael Nobre, também analista internacional da XP, lembra que alguns estudos já comprovaram que a imunidade providenciada pelas vacinas começa a decair depois de dois meses, e que a nova droga da Merck não determina de forma alguma o fim da demanda por imunizantes como alguns agentes do mercado começam a enxergar.

O que é o molnupiravir?

Segundo a Merck, sua pílula anti-Covid reduziu pela metade a taxa de hospitalização e morte de pacientes com sintomas de coronavírus que receberam o medicamento até cinco dias após o início da manifestação da doença.

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O remédio teria sido eficiente não só contra a cepa original da Covid, como também no enfrentamento das variantes Gama, Delta e Mu.

Esses resultados ainda precisam ser checados por outros cientistas e não foram publicados em nenhuma revista especializada.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.