Por que a CVC perdeu R$ 1,89 bilhão em valor de mercado em uma semana?

Saída da Avianca Brasil do mercado deixou não apenas os passageiros na mão, mas também a operadora de viagens; próximos trimestres ainda serão difíceis

Anderson Figo

(Roberto Tamer / Divulgação)
(Roberto Tamer / Divulgação)

SÃO PAULO —  As ações da CVC (CVCB3) caíram mais de 24% desde que a empresa apresentou seu balanço do terceiro trimestre de 2019, em 7 de novembro. Com o tombo, a companhia viu seu valor de mercado (quantidade de ações multiplicada pelo preço de cada papel) despencar R$ 1,89 bilhão em apenas sete pregões.

O que surpreendeu negativamente o mercado, no geral, foi o tamanho do impacto negativo de dois fatores sobre os números da empresa: a recuperação judicial da Avianca Brasil e a queda expressiva das vendas em mesmas lojas.

A CVC teve lucro de R$ 73,6 milhões no terceiro trimestre, baixa de 9,7% sobre o mesmo período do ano passado. O ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) normalizado somou R$ 183,3 milhões, queda de 0,2%. Já a receita líquida subiu 7,8%, a R$ 447,2 milhões.

Para o analista Richard Cathcart, do Bradesco BBI, a companhia reportou resultados um pouco mais fracos que o esperado com crescimento de reservas subindo 3,1% no Brasil (versus estimativa de alta de 4,8%), além de dados piores de receita e ebitda.

Já o lucro veio um pouco acima do esperado, segundo Cathcart, devido a performance melhor na Argentina (apesar do cenário macroeconômico desafiador no país vizinho) e impostos mais baixos.

“Acreditamos que o efeito Avianca ainda é o principal catalisador para essa desaceleração, que também foi refletida no vendas nas mesmas lojas (queda de 6,4% no trimestre), apesar do seu segmento de lazer mostrar crescimento de 5% em setembro”, disse.

A Avianca Brasil entrou com pedido de recuperação judicial em dezembro de 2018. A partir de abril deste ano, a Avianca deu início ao cancelamento de vários voos pelo Brasil, em virtude da tomada de suas aeronaves pelos credores.

Em 24 de maio de 2019, a ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) suspendeu as operações e todos os voos da Avianca, até que a empresa comprovasse que possuía condições de manter suas atividades. Milhares de voos foram cancelados.

Não apenas os passageiros ficaram na mão: a CVC e outras operadoras de viagens tiveram prejuízos altos com a saída da Avianca do mercado.

A CVC precisou provisionar R$ 45 milhões adicionais no terceiro trimestre para arcar com os custos de cancelamento dos voos da Avianca para seus clientes. A empresa espera que ainda precise de mais R$ 30 milhões a R$ 40 milhões nos próximos meses por causa disso.

A cifra altíssima não era esperada pelo mercado, e pesou no balanço. O episódio também contribuiu para a saída do diretor financeiro e de relações com investidores da companhia, Leopoldo Saboya. Quem assumiu as funções temporariamente foi o CEO da operadora de viagens, Luiz Fogaça.

Para Thiago Macruz, analista do Itaú BBA, embora o efeito Avianca tenha sido uma surpresa, os números apresentados pela CVC no terceiro trimestre, no geral, ficaram em linha com o esperado.

“O cenário mais difícil já era esperado e, de forma consolidada, a ‘take rate’ [percentual que a empresa ganha a cada operação] de 10,1% e a receita líquida de R$ 447 milhões estavam alinhadas com nossas estimativas”, disse.

Quanto ao ebitda, o analista afirmou que o resultado da CVC no trimestre ficou apenas 3% abaixo do esperado pelo Itaú BBA.

“Embora nossas estimativas financeiras estejam amplamente alinhadas com os resultados do terceiro trimestre de 2019 da CVC, estamos preocupados com os impactos nas finanças da empresa com a dinâmica mais rígida das passagens aéreas (principalmente o segmento de lazer)”, afirmou Macruz.

Perspectivas

O consenso do mercado — e da própria companhia — é que os próximos trimestres ainda serão desafiadores financeiramente falando.

As provisões para perdas com a Avianca ainda devem pesar sobre os números do quatro trimestre de 2019, mas a expectativa da CVC e dos analistas é de que haja uma normalização da demanda por viagens ao longo de 2020.

Ainda assim, os analistas estão monitorando outros efeitos que também podem prejudicar da companhia, como o vazamento de óleo no Nordeste, segundo Cathcart, do Bradesco BBI.

“A saída temporária de aeronaves para inspeções de emergência, atrasos nas entregas de novas aeronaves e derramamento de óleo no Nordeste do Brasil tiveram um impacto negativo no crescimento em outubro, portanto as perspectivas para o quarto trimestre de 2019 parecem fracas. Além disso, a concorrência está pressionando para baixo os preços dos pacotes”, afirmou o analista.

Mirando na recuperação em 2020, o Bradesco BBI manteve a recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para a CVC, com preço-alvo de R$ 74 em 12 meses — o que configura um potencial de valorização de 89,7% sobre o valor atual da ação da empresa.

“Continuamos otimistas sobre o crescimento em 2020, principalmente considerando uma base de comparação tão fraca. Continuamos a ver a CVC bem posicionada para capitalizar em uma recuperação do crescimento no Brasil — impulsionada tanto pelo segmento de lazer quanto pelo segmento corporativo — mas reconhecemos que o momentum no curto prazo permanece fraco”, concluiu Cathcart.

Já o Itaú BBA preferiu manter uma recomendação market perform (desempenho em linha com a média do mercado), com preço justo (quanto a ação deveria valer neste momento, de acordo com os cálculos do banco) de R$ 62 — uma diferença de 59% sobre o valor atual.

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Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.