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SÃO PAULO – A primeira pesquisa Ibope realizada após o indeferimento do pedido de registro da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e com o início do horário de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão trouxe algumas novidades para a corrida presidencial a um mês do primeiro turno (Veja o resultado na íntegra). Embora o quadro geral da disputa não tenha apresentado expressivas modificações, há questões que merecem maior atenção. Vamos a elas:
1. “Não voto” menor
O volume de votos brancos, nulos e indecisos caiu 10 pontos percentuais em relação à pesquisa divulgada em 20 de agosto. Agora, o grupo dos “não voto” soma 28%, ainda 6 p.p. acima da taxa registrada na simulação com Lula candidato, no levantamento anterior. Isso indica que o número de eleitores lulistas que ainda não declaram apoio a nenhum outro nome caiu, mas ainda existe. Também é necessário ressaltar que candidatos que hoje recebem o endosso deste grupo de eleitores não devem contar com a garantia de voto na urna em 7 de outubro. Primeiro, porque o processo de transferência de votos de Lula para seu vice, Fernando Haddad, ainda não ganhou musculatura. Segundo, em função do fato de volume expressivo dos eleitores decidir em quem votar a poucos dias da ida às urnas.
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2. Ciro equilibra jogo na esquerda
O ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) cresceu 3 pontos percentuais na disputa e agora aparece empatado com a ex-senadora Marina Silva (Rede) na segunda posição, a 8 p.p. do líder Jair Bolsonaro. Os dois estão tecnicamente empatados com o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB), que agora tem 7% das intenções de voto, em uma oscilação positiva de 2 p.p. em relação à última pesquisa.
O desempenho de Ciro indica uma possível herança maior de votos do lulismo, equilibrando o jogo com Marina, que se mostrava uma das grandes beneficiárias da ausência de Lula na disputa. A candidata da Rede saltava de 6% para 12% entre um cenário e outro na última pesquisa. Como não foi feita simulação com o ex-presidente, não é possível hoje fazer a mesma comparação, embora se observe que ela manteve os 12% no cenário sem o líder petista. Na mesma pesquisa, Ciro tinha 5% das intenções de voto quando Lula aparecia no páreo e 9% sem ele. A abertura dos dados do Ibope poderá corroborar com essa hipótese de migração de eleitores lulistas.
Outro fator a se destacar no desempenho de Ciro Gomes pode ser a insistência em uma agenda para ajudar brasileiros com o nome sujo no SPC a regularizarem sua situação. A proposta foi alvo de piadas nas redes no início, mas pode ter começado a atrair o interesse de parcela do eleitorado na medida em que o pedetista apresentou detalhes sobre como viabilizar a medida.
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3. Transferência de votos a Haddad
O ex-prefeito de São Paulo também apresentou uma oscilação positiva de 2 pontos percentuais na pesquisa, mesmo movimento apresentado por outros candidatos, como Bolsonaro, Alckmin e João Amoêdo (Novo). O levantamento indica que a migração de votos de Lula para Haddad ainda não aconteceu. Contudo, vale ressaltar que nem mesmo o PT se esforçou o suficiente para que o movimento começasse. Afinal, o “plano B” ainda não foi transformado em “plano A”, o que deverá ocorrer apenas em 11 de setembro. Ainda não se sabe a eficácia do processo e como o tempo pode jogar contra o partido.
Embora conte com militância orgânica, máquina partidária, capilaridade e boa estrutura, sobretudo no Nordeste, com candidaturas competitiva e controle de governos estaduais, o PT corre riscos nesta estratégia: 1) As movimentações de Ciro Gomes podem capturar uma fatia do eleitorado lulista, que pode não voltar ao controle do petismo; 2) A preocupação do eleitorado com pautas relacionadas à segurança podem até gerar um fenômeno de migração de uma faixa de votos lulistas para Bolsonaro no Nordeste. Eles votariam em Lula para presidente; 3) A própria candidata Marina Silva pode contribuir para a dispersão dos fiéis lulistas. Como ele não disputará, escolhem outro nome, independentemente da indicação feita pelo líder. Essas são apenas algumas hipóteses que ameaçam a capacidade do PT de conduzir eleitores pelos caminhos que deseja.
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4. Bolsonaro vive paradoxo
Apesar de manter a liderança na corrida presidencial e apresentar oscilação de 2 pontos percentuais para cima em suas intenções de voto, o deputado Jair Bolsonaro (PSL) também viu seu índice de rejeição alcançar a marca de 44%, 18 p.p. a mais que a candidata Marina Silva, detentora do segundo percentual mais elevado. Na pesquisa anterior, quando o nome de Lula ainda era considerado, 37% dos eleitores diziam que não votariam no parlamentar “de jeito nenhum”.
Este parece ser um reflexo da imagem de radicalismo que está sendo associada ao candidato, muito preocupado em manter seu atual apoio para ir ao segundo turno. Os últimos levantamentos mostram um movimento simultâneo de cristalização do apoio a Bolsonaro entre seus eleitores e de afastamento de outras faixas que hoje não declaram apoio a ele. As mulheres se destacam entre o grupo mais resistente à candidatura de Bolsonaro. E este quadro tende a piorar com a campanha negativa feita por Alckmin.
Outro problema com o qual Bolsonaro deve se preocupar é o fato de ser derrotado por todos os principais candidatos em eventual disputa de segundo turno. A única exceção é a simulação feita contra Haddad. Neste caso, o quadro é de empate técnico, com o deputado numericamente à frente por 1 ponto percentual. Não será surpresa, no entanto, que Bolsonaro apareça atrás também nesta simulação à medida que o processo de transferência de votos de Lula para Haddad se intensifique e o ex-prefeito se torne mais conhecido pelo eleitorado.
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5. Alckmin (ainda?) não despertou
Embora também tenho oscilado positivamente 2 pontos percentuais, movimento dentro da margem de erro da pesquisa, Geraldo Alckmin (PSDB) segue abaixo dos dois dígitos na disputa, sem empolgar o eleitorado. Ainda é cedo para observar efeitos de sua propaganda no rádio e na televisão (principal aposta do tucano para a corrida) sobre a escolha dos eleitores. A pesquisa Ibope foi feita entre 1º e 3 de setembro, portanto nos 3 primeiros dias de campanha nos meios tradicionais.
O tempo, contudo, é curto e a pressão sobre o tucano deve crescer ao longo do processo. Há expectativas de que Alckmin comece a se movimentar nas pesquisas a partir da semana que vem, com mais tempo de propaganda na TV. O tucano pode usar, como carta na manga o “voto útil” contra o PT, já que conta com menor rejeição que Bolsonaro, o que pode lhe conferir vantagem em uma eventual disputa de segundo turno com um nome indicado por Lula. Por outro lado, é difícil convencer o eleitor disso quando se tem menos de 10% das intenções de voto na simulação de primeiro turno.
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Embora conte com expressiva fatia de tempo no rádio e na televisão, monitoramentos feitos por empresas especializadas mostram que Alckmin ainda não conseguiu atingir de forma significativa o eleitorado e pautar o debate da corrida presidencial. Nas redes sociais, por exemplo, o tucano ainda é um fantasma, ao passo que seu adversário Bolsonaro conta com estrutura eficiente e fãs engajados. Pode ser o retrato de uma falta de discurso do ex-governador, que tem dificuldades em recuperar eleitores que votaram no PSDB em outras disputas presidenciais. Como se isso não bastasse, Alckmin precisará lidar com a dispersão de votos tucanos entre outros candidatos, como o senador Álvaro Dias (Podemos), que aparece forte na região Sul, e João Amoêdo, que cresceu nas últimas semanas e tem desempenhado trabalho profissional nas plataformas digitais.
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