Felipe Rigoni: o jovem que quer ser o primeiro deputado federal cego do Brasil

Com discurso em defesa da igualdade de oportunidades, eficiência de governo e investimento em educação, engenheiro de 27 anos propõe mandato coletivo para renovar a política brasileira

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Aos 15 anos, depois de 17 cirurgias para tentar reverter os problemas causados por uma uveíte, inflamação provocada nos olhos, Felipe Rigoni ficou completamente cego. Os obstáculos, contudo, nunca impediram o capixaba de Linhares de sonhar, fazer suas escolhas e alcançar objetivos. Desta vez, aos 27 anos, depois de se formar engenheiro mecânico, fazer mestrado no exterior e participar de momentos importantes em movimentos de renovação política nacionais, ele quer ser protagonista em um feito inédito: ser o primeiro deputado federal cego do Brasil e desempenhar um mandato compartilhado, em que as decisões seriam divididas entre representantes de uma centena de instituições e representações da sociedade civil. O pré-candidato concedeu entrevista ao InfoMoney em julho.

“Lembro-me até hoje que estava em uma aula de português quando um amigo virou para mim e disse: ‘Felipe, você acabou de escrever três vezes na mesma linha’. Olhei para o caderno e já não enxergava o que havia escrito. Ficar cego gradualmente é muito duro, porque você fica com aquela ponta de esperança de voltar a enxergar o tempo todo. E esse foi o momento em que a corda da esperança teve que ser cortada”, conta o jovem capixaba, que chegou a entrar em um quadro depressivo, mas virou o jogo com o próprio esforço, o apoio da família e amigos e oportunidades que agarrou com afinco.

Rigoni formou-se em Engenharia de Produção pela UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto) como um dos destaques em sua turma. Durante a graduação, presidiu a empresa júnior do curso e foi um dos responsáveis por aumentar o número de projetos de consultoria executados e o faturamento do grupo em um ano. O bom desempenho o credenciou para voos mais altos no comando da Federação Mineira de Empresas Juniores, e, mais tarde, foi escolhido por lideranças de outras federações como o presidente do Conselho da Brasil Júnior em 2015.

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“Logo que saí da Brasil Júnior e acabou minha trajetória no movimento, saí com uma vontade de transformar o Brasil muito forte. Percebi uma coisa muito importante, que foi o que me levou à política: além das próprias decisões de uma melhor performance, as pessoas precisam de um ambiente que dê oportunidades para elas tocarem aquelas decisões em frente, terem suporte e opções de escolha. Foi a partir daí que comecei a estudar toda essa questão de igualdade de oportunidades e de como criar ambientes favoráveis para isso”, explica Rigoni.

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Após uma tentativa de se eleger vereador por Linhares em 2016, chegando bem próximo do êxito, Rigoni volta à corrida eleitoral para tentar um assento na Câmara dos Deputados pelo PSB. De lá para cá, ele deixou seu antigo partido, participou da fundação do Acredito, movimento suprapartidário em defesa da renovação política, fez mestrado em políticas públicas em Oxford e foi bolsista do programa RenovaBR. Hoje, ele se diz mais preparado para os novos desafios. “Tenho plena convicção de que, em 2019, teremos uma chance real de colocar o país em um acelerador de desenvolvimento ou em um abismo real. Vai ser uma responsabilidade gigantesca”, afirma o capixaba.

Para arcar com as despesas da campanha em tempos de proibição em doações empresariais, Rigoni organizou um crowdfunding. O programa de financiamento coletivo conta até o momento com pouco mais de R$ 16 mil em 118 doações, valor ainda abaixo da meta do pré-candidato. Antes do início efetivo do período de campanha, o capixaba tem usado as redes sociais para disseminar ideias a partir de vídeos nas redes sociais e aproximação de eleitores via aplicativos, como o Whatsapp. No mês passado, ele esteve na redação do InfoMoney para uma entrevista. Confira os destaques:

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BIOGRAFIA

Eu nasci em Linhares, nordeste do Espírito Santo, em 1991. Minha história começa com o fato de eu ser cego. Aos seis anos, meus pais começaram a perceber que tudo que eu precisava fazer tinha que ser de muito perto, porque senão não conseguia enxergar. Foi então que descobrimos que eu tinha uma infecção chamada uveíte, sem cura na época. Isso foi evoluindo e acarretando problemas como cataratas, descolamentos de retina etc. Até que, aos 15 anos, após 17 cirurgias para tentar corrigir o problema, acabei ficando cego. Lembro-me até hoje que estava em uma aula de português, fazendo um exercício de ortografia, quando um amigo meu virou para mim e disse: ‘Felipe, você acabou de escrever três vezes na mesma linha’. Olhei para o caderno e já não enxergava o que havia escrito. Foi neste momento que tive que reconhecer: ‘Felipe, pare de se enganar. Você está cego’.

Ficar cego gradualmente é muito duro, porque você fica com aquela ponta de esperança de voltar a enxergar o tempo todo, e aquele foi o momento em que a corda da esperança teve que ser cortada. Foi muito duro reconhecer e superar esse fato, entrei em um processo quase depressivo. Um dia em que estava muito mal com o que estava acontecendo, meu pai sentou-se ao meu lado e disse: ‘Felipe, lembra que você tem uma escolha’. E foi embora. Na época, eu não entendi. Percebi o que ele havia me dito anos depois, quando li ‘Em Busca de Sentido’, de Viktor Frankl, um sobrevivente de Auschwitz, que diz: ‘o homem pode ser despojado de tudo, menos da liberdade de escolher que atitude tomar diante das circunstâncias’. Eu estava quase na hora de fazer uma faculdade. Comecei a mudar de pouquinho em pouquinho, por conta dessas percepções, das amizades que estava fazendo, das pessoas que me ajudaram. Em 2008, passei em Engenharia de Produção na UFES (Universidade Federal do Espírito Santo) de São Mateus e em Física na UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto). Visitamos as duas universidades e decidimos que a última estava mais preparada para receber deficientes visuais.

Sempre gostei de cálculo, adoro fazer conta de cabeça. Estava gostando do curso de Física, mas, no fim do primeiro semestre, percebi que faltava lidar com pessoas, faltava algo ligado a liderança. Foi quando fiz transferência interna para engenharia de produção na UFOP. Antes de começar o curso, decidi fazer um intercâmbio em Bristol, Rhode Island, para melhorar o inglês. Foi uma experiência muito enriquecedora, não digo prazerosa, como muitas pessoas dizem. No meu caso, foi enriquecedor porque fiquei muito sozinho. Isso foi muito importante, tanto para um sentido de reflexão da vida, mas também porque foi desta maneira que aprendi a pedir ajuda, que é algo que eu não sabia fazer antes. Para você ter uma ideia, eu ficava duas ou três horas sentado no campus da UFOP até que alguém que me conhecesse fosse me buscar. Lá nos EUA, ou eu pedia ajuda ou não tinha alguém para me buscar. Acabei tendo que pedir na marra e isso me fez muito bem. Mudei muito minha atitude diante dessa vulnerabilidade. Isso me fez aceitar muito mais quem eu sou, o fato de eu ser cego, o fato de qualquer ser humano depender demais das outras pessoas.

Na volta ao Brasil, em 2010, comecei o curso de engenharia de produção. Estava adorando, mas ainda faltava a questão da gestão, da liderança. Foi quando conheci o pessoal da empresa júnior, ainda incipiente na época. Eles diziam que era uma experiência de mercado antes de entrar no mercado de trabalho, que colocava em prática os conhecimentos teóricos adquiridos em aula através de projetos de consultoria. Eu me encantei por aquilo. Passei no processo seletivo e entrei. Foi no movimento empresa júnior que aprendi que dá pra fazer, dá pra liderar e engajar pessoas. Cheguei à presidência da Projet, da UFOP, em 2013. Foi um ano bem legal, que, por conta de várias coisas que fiz como presidente, das pessoas que conseguimos selecionar e das iniciativas que elas mesmas fizeram, demos um salto brutal, aumentando o número de projetos e o faturamento. Foi até case de sucesso de empresas de juniores em Minas Gerais. Por conta disso, acabei me interessando em percorrer outras instâncias do movimento.

Em 2014, fui eleito para ser presidente do conselho da Federação Mineira. Basicamente, minha função era convergir as opiniões, os interesses e as necessidades das 48 empresas juniores do estado. O maior desafio de todos foi liderar um conselho de 96 pessoas. Naquele ano, percebemos que ou a gente parava de crescer o número de empresas juniores, que não era uma opção, ou a gente mudava o estilo de conselho que tínhamos.Tivemos que desenhar um novo modelo de governança corporativa, um desafio grande de articulação e negociação, já que muitas empresas não entendiam a necessidade queriam que isso acontecesse. Por conta disso, o pessoal das outras federações [de juniores] do Brasil me escolheu para ser o presidente do conselho da Brasil Júnior, em 2015. Foi daí que nasceu essa minha vontade grande de transformar o Brasil. A missão do Movimento Empresa Júnior é formar, a partir da vivência empresarial, empreendedores comprometidos e capazes de transformar o Brasil. Isso eu vivi intensamente por 5 anos e meio.

Em paralelo a isso, me formei e comecei a trabalhar com coaching e desenvolvimento humano. Fiz vários outros cursos sobre esses temas durante a faculdade, junto do Movimento Empresa Júnior, e percebi que era o que eu queria fazer, pelo menos nos anos seguintes. Logo que saí da Brasil Júnior e acabou minha trajetória no movimento, saí com uma vontade de transformar o Brasil muito forte. Só que percebi uma coisa muito importante, que foi o que me levou à política: além das próprias decisões de uma melhor performance, as pessoas precisam de um ambiente que dê oportunidades para elas tocarem aquelas decisões em frente, terem suporte e opções de escolha. Se não houver um ambiente que faça isso por você, que lhe dê essas oportunidades, os bem-sucedidos sempre serão exceções. Foi a partir daí que comecei a estudar toda essa questão de igualdade de oportunidades e de como criar ambientes favoráveis para isso.

PRIMEIRA EXPERIÊNCIA

Decidi entrar na política e fui candidato a vereador pelo PSDB em 2016. Foi uma experiência muito importante. É muito intenso, física e emocionalmente, porque você se expõe o tempo inteiro para as pessoas, coloca suas ideias sob o escrutínio de todos, além do próprio caráter, formação etc. Recebi 1.156 votos em um pool de 80 mil votos válidos, fui o 14º mais votado, sendo o mais votado da minha coligação, mas não fizemos votos suficientes para eleger nenhum vereador. Inclusive, fui mais votado que dois dos eleitos. Muita gente não conseguiu ficar sabendo da minha candidatura, decidi ir um dia antes [do limite] de registrar a candidatura. Eu realmente tive 45 dias de campanha, sem pré-campanha.

Uma lembrança que tenho daquele período é de uma visita que fiz à casa de um amigo em um bairro pobre da minha cidade. Falei das minhas ideias para 20 pessoas, tinha uma agenda clara de responsabilidade fiscal na prefeitura e de um plano municipal de acessibilidade. Em determinado momento, uma senhora chamada Gerusa disse: ‘Felipe, tenho 53 anos, estou desempregada. Só faço bico, tenho cinco filhos, dois dos quais são deficientes, um está internado aos quatro anos, outro está preso porque roubou na rua aos 16 anos. Como seu mandato, sozinho, vai fazer diferença na vida de pessoas como eu?’. Existe uma relação: quando você melhora a responsabilidade fiscal da prefeitura, aumenta a capacidade de entregar serviços públicos. Só que não é tão direto assim. Eu saí daquele dia muito triste, era uma quinta-feira antes das eleições. A percepção que tive foi que, se for eleito, não adianta ser sozinho.

RENOVAÇÃO POLÍTICA

Foi quando encontrei um pessoal que estava fundando o ‘Acredito’, movimento de renovação política que luta por igualdade de oportunidades. Naquele momento, eu planejava meu mestrado em Oxford (após passar em outras duas universidades britânicas), que pôde se concretizar graças a uma bolsa da Fundação Estudar e da Fundação Lemann, e a volta para o Brasil com esse sonho de fazer renovação política. Lançamos o Acredito em setembro de 2017, mesmo mês em que fui para Oxford. Comecei a fazer vários vídeos de políticas públicas nas redes sociais, para ver como funcionaria se eu realmente fosse candidato. Em outubro, foi lançado o RenovaBR. Eles fizeram um evento de apresentação, abriram processo seletivo e fui um dos 100 aprovados na época. Naquele momento, pensei: ‘agora não tem mais jeito, vou ser candidato a deputado federal’.

Eu já havia me desfiliado do PSDB, no primeiro semestre de 2017, também não estava pensando muito mais em partido naquela época. Tivemos vários problemas com as diretorias nacional e estadual do partido, tentamos várias atividades e fomos bloqueados diversas vezes, como na de lançar uma candidatura à prefeitura de Linhares em 2016. O resultado foi que, contra a vontade da diretoria municipal, o PSDB se coligou ao prefeito atual, atendendo à vontade das diretorias nacional e estadual.

No ‘Acredito’, temos nosso manifesto programático. Somos basicamente liberais progressistas: liberais na economia e mais progressistas nos costumes. Fizemos cartas de compromisso com alguns partidos, entre eles PV, Rede, PSB, PPS, e o PDT de São Paulo, requerendo que os candidatos do movimento tivessem independência programática no partido escolhido. Filiei-me ao PSB [em abril de 2018]. Tenho boa relação com nomes do partido, como Renato Casagrande, tenho facilidade de convergência com as ideias deles e me dão independência programática.

RENOVABR

Houve muitas críticas infundadas ao RenovaBR. Falaram que seria um grupo de empresários financiando liberais para tomar o governo. Não tem nada a ver. Somos 19 partidos, da esquerda à direita, dos liberais aos conservadores. É realmente da sociedade para a sociedade, uma iniciativa incrível. A formação foi muito boa, muito bem pensada. Hoje existem faculdades de ciência política, administração pública, políticas públicas, mas não há uma escola de política, de como fazer campanha, de como atuar no Congresso, sobre política partidária. Eles selecionaram pessoas que já são líderes em seus estados, comunidades, ou líderes mais técnicos, para ensinar como fazer isso de forma ética e eficiente. Lá, percebemos que discordamos muito, mas há também uma brutal quantidade de coisas que concordamos. E é nelas que podemos convergir e fazer o país dar certo. Em 70% das coisas concordamos, e estamos brigando por conta dos 30% que não concordamos. Vamos fazer os 70% e depois conversamos sobre o restante. Talvez discordemos dos detalhes, mas, no princípio, na formulação da política pública, é muito fácil haver convergência.

MOVIMENTOS vs. PARTIDOS

Não acho que os movimentos serão os novos partidos, mas vão ser grandes parceiros. Os movimentos Acredito, Agora e no RenovaBR, que é mais um instituto do que um movimento, não são novos partidos, mas grandes parceiros das siglas, porque democracia sem eles não existe. Nosso desafio é fazer com que os partidos sejam bons: programáticos, democráticos internamente, que realmente sejam espaços de discussão e absorção das necessidades da população. Hoje não são assim.

O nível de preparo que as pessoas que estão saindo do Renova têm em comparação com as novas que estão em partidos é muito maior. Porque o Renova se dedicou muito para fazer isso acontecer. E não é o que os partidos fazem, porque todo o sistema de incentivos e estímulos é distorcido. Você não estimula o partido a se virar para o cidadão e atender as necessidades, ouvir o cidadão para que ele mesmo seja parte e sustente o partido, financeiramente, inclusive. O estímulo é: ‘vamos eleger gente para tomar mais parte do fundo eleitoral’.

SISTEMA ELEITORAL

Sou a favor do voto distrital misto. Acho que precisamos de uma proporcionalidade no Brasil, porque, além de muito grande, é muito diverso, e só o sistema proporcional consegue abarcar uma diversidade tão grande. Mas o jeito que é feito aqui gera muita distorção, é muito caro, distancia o eleito do eleitor e a governabilidade vai quase a zero. Além de muitas siglas com representatividade no Congresso, a disciplina partidária é quase nenhuma. O distrital misto, com adaptações à realidade, seria uma solução muito boa. Aproximamos o cidadão do eleito, reduzimos os custos de campanha e o número de partidos, e forçamos os partidos a terem suas ideias concretas. Hoje temos inúmeros partidos sem ideias concretas. Inclusive, é por isso que tantos movimentos de renovação programáticos nasceram, como o ‘Acredito’, do qual faço parte. Existe uma falta de programa brutal em vários partidos.

É claro, não tem como fazer um sistema distrital misto sem fazer uma reforma partidária, se não vamos criar outra distorção. Haveria um período de transição duro, mas forçamos ela. Talvez essa seja a coisa mais difícil, senão impossível, de ser feita, porque partido não é democrático. Sinceramente, o elo entre o poder e o cidadão é muito mais imperial do que democrático. Também defendo a realização de prévias nos partidos. É mais difícil para o candidato, porque são duas eleições, mas muito melhor para a democracia.

O sistema político brasileiro, felizmente, na minirreforma do ano passado, acabou com as coligações para 2020. Isso é o supra-sumo do absurdo eleitoral que temos. O sujeito vota em quem ele quer e elege quem nem conhece. Isso não pode acontecer. Outra coisa [importante de fazer] seria um limite ao autofinanciamento. Em 2016, quando se proibiu o financiamento por empresa (o que eu concordo), explodiu o caixa dois e o autofinanciamento. Deveria haver limite, é mais uma desigualdade que precisa ser corrigida.

POR QUE DEPUTADO FEDERAL?

Logo após a eleição para vereador, por conta de ter passado em Oxford, de algumas iniciativas que tive na Câmara Municipal e ter passado como bolsista da Fundação Estudar, acabei ganhando projeção no Espírito Santo. Outro fator é que todas as coisas que mais estudo que precisamos mudar no Brasil precisam necessariamente passar pela Câmara Federal. É o caso das reformas tributária, política, administrativa, além de melhorias no sistema educacional. Se eu quero realmente causar impacto real, preciso estar na Câmara Federal. O terceiro motivo é que a concorrência é maior na disputa para deputado estadual, porque o número de candidatos é muito maior. O fato de ter menos candidatos a deputado federal facilita campanhas programáticas como a minha.

CAMPANHA

Preciso de 80 mil votos. Para fazer uma campanha efetiva, calculamos que preciso de R$ 800 mil. Isso é muito dinheiro, mas, na média (em comparação com outras campanhas), é barato até. Espero arrecadar cerca de R$ 100 mil com crowdfunding. Temos uma frente com pessoas no Espírito Santo, como empresários e pessoas da sociedade civil que querem ajudar a construir um projeto como o meu. Há também pessoas de São Paulo, do Rio de Janeiro, empresários, empreendedores que acreditam que precisamos renovar o Brasil. Na campanha, vamos focar em três principais públicos: 1) as pessoas de Linhares, porque sou de lá e tenho uma história lá; 2) universitários, pessoas que estudam bastante e veem em mim uma identificação; 3) o público com deficiência. Isso é muito importante para mim, não só para a eleição, mas com relação a políticas públicas.

RESPONSABILIDADE

Sempre lembre que você tem uma escolha. Meu pai me disse isso, depois fui aprender o significado com Viktor Frankl. Sempre temos a escolha de que atitude tomar diante das circunstâncias. A responsabilidade é enorme, não só porque posso ser o primeiro cego a ocupar uma cadeira na Câmara Federal, mas porque vou ser um deputado federal em um momento de transição muito grande no Brasil. Tenho plena convicção de que, em 2019, teremos uma chance real de colocar o país em um acelerador de desenvolvimento ou em um abismo real. Vai ser uma responsabilidade gigantesca. É por isso que meu mandato vai ser compartilhado.

MANDATO COMPARTILHADO

Vou convidar um total de 100 instituições do Espírito Santo e nacionais para fazer parte de um conselho parlamentar, que será responsável por definir, junto comigo, quantas e quais serão minhas emendas, como votar em determinada PEC. O partido será uma das instituições, mas minha liberdade já está combinada com ele, porque tenho a independência via movimento Acredito. Haverá instituições de empresários, trabalhadores, deficientes, cidades. Para eu poder compartilhar isso com as pessoas e fazer o máximo possível.

Tenho três eixos de princípios para o mandato e a campanha também: eficiência de governo, educação básica e empregabilidade. Tudo isso coberto por um guarda-chuva de igualdade de oportunidades. Dentro disso, vamos definir o que vai ser feito em específico. Esses grupos não se limitam a quem apoiou a candidatura. Se for decidida alguma coisa que eu e minha equipe não achávamos o correto, está decidido. Algumas questões já estarão postas para o eleitor que votar em mim, mas a maioria das coisas não estarão e serão decididas no conselho.

Por que eu acho tão importante fazer isso? Porque uma das principais falhas da nossa democracia é a distância entre o eleito e o eleitor. E se você já tem instituições que representam e ajudam as pessoas dentro de várias classes e áreas da sociedade, por que não trazê-las para dentro do mandato mesmo, com poder real? Vai ser uma experiência intensa. Com certeza discutiremos demais, mas acho que vai valer a pena.

REFORMA TRABALHISTA

No geral, ela foi boa, embora tenha sido feita a toque de caixa. Um problema específico gerado diz respeito ao acesso à Justiça, já que um dos principais objetivos era reduzir a quantidade de ações trabalhistas. Antes, a pessoa podia entrar com uma ação e, se perdesse, o Estado pagava os honorários do advogado. Hoje, não existe mais isso. Antes, havia um estímulo muito grande para todo mundo processar as empresas e um ônus muito grande para a Justiça do Trabalho, era um exagero real. Agora, caiu drasticamente a quantidade de processos. A gente corre um sério risco de estar restringindo o acesso à Justiça para pessoas que têm menos dinheiro. Não tenho essa solução, mas tenho discutido sobre isso. Como fazemos para não ter o estímulo de muitas ações, mas também um sistema que permita a pessoa a ter acesso à Justiça, principalmente quem não tem recurso?

De resto, vejo muito pouco problema. Isso que falaram de tirarem direitos dos trabalhadores não acho que aconteceu, vai facilitar as empresas a contratarem. Agora, uma coisa muito importante que não foi feita na reforma trabalhista e deve ser feita na tributária é reduzir o custo da folha, uma das principais reclamações, sobretudo das micro e pequenas empresas.

Também sou totalmente a favor do fim do imposto sindical. É a mesma coisa dos partidos: os sindicatos não tinham estímulo nenhum de realmente representar seus filiados. Inclusive, Gandhi dizia que nenhuma instituição representativa deveria ser financiada por obrigatoriedade. O fim do imposto sindical vai forçar os sindicatos a representarem e olharem para quem eles representam. Isso vai ser muito bom para o Brasil. Temos sindicatos demais, igual partido demais, e representação de menos. O início é um período duro, mas acho que vai valer a pena. Todos os trabalhadores representados pelos sindicatos vão se beneficiar com isso.

REFORMA DA PREVIDÊNCIA

No fim das contas, não serviu para muita coisa aquela reforma que foi proposta. A reforma da Previdência tem que atacar três problemas: 1) O fim dos privilégios, quase absolutamente no setor público; 2) Instituir uma idade mínima, mesmo que transitória. Há muita discussão sobre isso dentro do Acredito; 3) Mudar o regime. O regime de repartição que temos hoje não faz sentido nenhum. O bônus demográfico está acabando e a proporção de trabalhador para aposentado está diminuindo cada vez mais. Então, é simplesmente insustentável, será necessário um regime de transição do modelo de repartição para capitalização. Eu gosto muito do regime em que as pessoas, independentemente de contribuir ou não, recebam pelo menos um salário mínimo, mas isso exige um período de transição grande.

GOVERNO HARTUNG

A gestão de Paulo Hartung tem uma qualidade muito grande, que é a gestão eficiente. Ele tem uma escola de governo dentro do governo, que é muito boa. Há pessoas do meu partido que não acham, mas eu particularmente vejo no Escola Viva um programa fantástico. É claro que ele não pode ser escalado para toda a população ainda, mas vai ser gradualmente. A transformação que causa nos adolescentes é muito grande. Agora, o que faltou foi diálogo com a população. Ele fechou o governo principalmente com o setor empresarial e excluiu outros setores, como, por exemplo, o da segurança. Se tivesse havido um diálogo aberto, franco e muito bem alinhado desde o início, acredito que não teríamos tido aquele estado de guerra em 2017, com a greve de segurança.

OPERAÇÃO LAVA JATO

Talvez a Lava Jato seja o vetor de mudança mais importante dos últimos anos no Brasil. Houve erros crassos, com certeza. Eu realmente acredito que a liberação dos áudios por Sérgio Moro não poderia ter sido feita, apesar de que, para alguns, o resultado foi bom. No fim das contas, foi provada corrupção de Lula e ele está preso. Naquela época, ele teria sido protegido pelo ministério, mas não acho que teria fugido disso. Não precisava ter tido o exagero, e Moro poderia ter sido figura menos polêmica do que é. Mas a Lava Jato tem créditos absurdos que não podem ser tirados dela. O primeiro foi escancarar a corrupção estrutural que tínhamos no Brasil, só isso já foi um avanço absurdo. E isso só foi possível por um movimento pela transparência de muito tempo no Brasil. Isso é até crédito do PT, que fez ações que permitiram que a CGU tivesse independência maior e levasse o Brasil ao nível de transparência que teve. Talvez tenha sido um tiro pela culatra, mas foi um benefício muito grande para o País.

PERSPECTIVAS

A gente sempre tem liberdade de escolher que atitude tomar diante das circunstâncias. E as circunstâncias hoje no Brasil não estão favoráveis. Corremos um risco seríssimo de levar o país a uma crise ainda mais profunda, de colocar em cheque nossa democracia. É o momento de mudar, não dá mais para negar a política. Está suja, é muita corrupção, mas ou quem é bom gosta da política ou quem gosta da política vai mandar em quem é bom. Voto nulo não anula nada, só anula a capacidade de o Brasil renovar e mudar. Se você acha que todo mundo é ruim, vote no menos pior, mas tem que votar.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.