Quem é Cabo Daciolo, o candidato nacionalista que quer transformar o Brasil em uma teocracia

O candidato tem um perfil fortemente nacionalista, focado em defender os interesses dos militares, além de ideias que buscam acabar com o estado laico

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Benevenuto Daciolo Fonseca dos Santos, mais conhecido como Cabo Daciolo, é candidato à presidência da República pelo Patriota. Nascido em 30 de março de 1976, ele é bombeiro militar e está em seu primeiro mandato como deputado federal pelo Rio de Janeiro. O candidato não tem alianças e contará com 8 segundo no horário eleitoral e mais uma inserção de 30 segundos a cada quatro dias na TV.

Daciolo apareceu nos noticiários em 2011, quando ajudou a liderar a greve dos bombeiros no Rio de Janeiro. Na ocasião, os grevistas ocuparam o quartel-general da corporação e ainda acamparam nas escadarias da Alerj, levando ele a ser preso por nove dias no presídio de Bangu I. O atual deputado já foi integrante do PSOL (2014–2015) e PTdoB (2016-2018) – que virou Avante no ano passado – antes de ir para o Patriota

Quando estava no PSOL, partido pelo qual foi eleito deputado com 49 mil votos, Daciolo gerou atrito no partido ao defender a libertação de doze policiais acusados de participar da tortura e morte do pedreiro Amarildo Dias de Souza.

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Mas foi em 2015 que a relação estremeceu de vez, quando o diretório nacional do partido decidiu, por 53 votos a 1, expulsá-lo da sigla depois que ele propôs uma emenda constitucional para alterar o parágrafo primeiro da Constituição Brasileira de “todo poder emana do povo” para “todo poder emana de Deus”, o que segundo o PSOL, fere o estado laico.

O candidato tem um perfil fortemente nacionalista, focado em defender os interesses dos militares. Além disso, suas ideias buscam acabar com o estado laico e transformar o Brasil em uma teocracia: após a proposta de mudança na Constituição que o expulsou do PSOL, Daciolo quis incluir o estudo da Bíblia como disciplina obrigatória no ensino fundamental e médio.

Eleito em 2014 para deputado federal pelo Rio de Janeiro com 49.831 votos (0,65% do total), Daciolo foi o 31º deputado mais votado. Em coletiva realizada dia 4 de agosto deste ano, quando o Patriota lançou sua candidatura, o deputado afirmou que a educação será o carro-chefe de sua campanha presidencial.

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“Nós vamos investir em educação, ciências, tecnologia, inovação, institutos federais. Isso muda uma nação, isso muda um povo. Uma das teses para você escravizar um povo é tirar a identidade desse povo. Você tira o amor à pátria, você tira o amor ao nacionalismo, ao civismo, e nós vamos trazer isso de volta”, disse na ocasião.

Entre as diversas propostas de seu plano de governo, Daciolo quer: valorizar as Forças Armadas; investir 10% do PIB nas Forças Armadas; investir 10% do PIB em educação; erradicar o analfabetismo; criar carreira de Estado para médicos que atuam na rede pública; aumentar o efetivo das polícias Federal, Rodoviária Federal e Ferroviária Federal; reduzir a taxa de juros; reduzir a carga tributária; e reduzir a despesa pública.

Confira o discurso feito por Cabo Daciolo no lançamento de sua pré-candidatura à presidência, no dia 15 de março de 2018:

Glória a Deus!
Eu quero falar, neste exato momento, com a Nação brasileira.
Povo brasileiro, eu sou Cabo Daciolo, servo do Deus vivo. Sou cristão e estou falando para uma Nação que tem mais de 160 milhões de cristãos. O Brasil tem solução. Eu acredito ter um plano de nação para a colônia brasileira, e por isso, hoje, sou pré-candidato à Presidência da República. Mas preciso dizer a todos que estão nos ouvindo neste exato momento que existe uma guerra espiritual.
Eu não estou aqui para pregar religião para ninguém, até porque a única religião que é pregada na Bíblia é cuidar dos órfãos e das viúvas nas suas dificuldades e não se corromper com este mundo. O resto é o homem comercializando a palavra. Mas eu quero falar da guerra espiritual contra principados e potestades.
Existe o mundo carnal, mas existe também o mundo espiritual. Existem o mundo carnal e o mundo espiritual. A minha pergunta é: as autoridades brasileiras, a quem estão adorando? A qual deus elas estão adorando?
Deixem-me fazer aqui uma leitura da palavra de Deus. A palavra de Deus vai dizer, em Levítico, Capítulo 18, versículo 21: “Não entregue os seus filhos para serem sacrificados a Moloque. Não profane o nome do seu Deus. Eu sou o Senhor”.
“Daciolo, por que você está falando disso?” Porque no Brasil desaparecem, por ano, mais de 40 mil crianças. Para onde vão essas crianças?
Nação brasileira, escute isso: homens e mulheres no País, adoradores de Satanás, sacrificam crianças. Infelizmente – está escrito, está aqui -, eles cometem esse crime nos dias de hoje, muitas vezes até mesmo contra seu próprio primogênito!
“Daciolo, vocês está falando isso com que autoridade?” Com a autoridade que há no nome do Senhor Jesus Cristo. Eu venho repreender toda a fúria de Satanás na Nação brasileira!
Querem saber um pouco mais? Brasília é a réplica de uma cidade egípcia. Brasília é a réplica de Akhetaton, uma cidade que foi construída antes de Cristo, há mais de 1.300 anos. Brasília tem o Lago Paranoá, um lago artificial. Essa cidade de que estou falando, Akhetaton, também teve o primeiro lago a ser construído no mundo. Essa cidade foi construída em 4 anos; o construtor dela morreu 16 anos depois de sua construção. Brasília foi construída em 4 anos; depois de 16 anos, Juscelino Kubitschek morreu.
“Daciolo, que loucura você está dizendo?” Olha, não tente entender, apenas tente viver! O certo não é fixar os olhos no que você está vendo, e sim naquilo que você não vê, pois aquilo que você vê é transitório, mas aquilo que não vê é eterno.
Falo aqui, com autoridade, em nome do Senhor Jesus. Satanás, tu perdeste esta batalha! Saia do Congresso Nacional e saia da Nação brasileira, em nome do Senhor Jesus Cristo!
Quero dizer a todos que feliz é a nação cujo Deus é o Senhor!
Juntos somos fortes! Nem um passo daremos para trás, e Deus está no controle.
Obrigado, Presidente.
Glória a Deus!

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.