“Não sou mais um ser humano, sou uma ideia”, diz Lula antes de ser preso

Prazo para ex-presidente se apresentar à Polícia Federal se encerrou às 17h da última sexta-feira, mas ficou acordado posteriormente que ele se entregaria após missa em homenagem à ex-primeira-dama Marisa Letícia

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – No dia seguinte ao final do prazo dado pelo juiz federal Sérgio Moro para que se apresentasse voluntariamente à Polícia Federal para iniciar o cumprimento da pena de 12 anos 1 mês de prisão estabelecida pelo TRF-4, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez seu último discurso antes de ser preso, em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP), onde está desde a noite de quinta-feira (5).

Na manhã deste sábado (7), foi realizada missa em homenagem ao aniversário de Marisa Letícia, falecida esposa do líder petista. O ato foi acompanhado por simpatizantes, além de quadros políticos da esquerda. Sobre o carro de som, ao lado de Lula, estavam figuras como a ex-presidente Dilma Rousseff, os pré-candidatos à presidência Manuela D’Ávila (PCdoB) e Guilherme Boulos (PSOL), além dos ex-ministros Gilberto Carvalho e Celso Amorim.

Veja os principais pontos do discurso de Lula:

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12h09 – Lula inicia sua fala cumprimentando quadros da esquerda presentes no carro de som. Os pré-candidatos Guilherme Boulos e Manuela D’Ávila ganharam destaque recebendo elogios do ex-presidente. Na sequência, ele presta uma homenagem à ex-presidente Dilma Rousseff. Neste momento, Lula também, na prática, introduz os principais candidatos da esquerda nestas eleições. Nesse sentido, foram citados Fernando Haddad (tido no partido como principal alternativa à candidatura presidencial de Lula), Celso Amorim (cotado como candidato ao governo do Rio), assim como o senador Lindbergh Farias, dentre uma série de outros nomes do PT e outros partidos do espectro político, como PC do B e PSOL;

12h18 – Após as homenagens aos presentes, o ex-presidente lembra a histórica greve de 1979, pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, seu berço político. Lula disse que viveu seus melhores momentos políticos lá, em referências às bases históricas do PT. A sinalização também foi para momentos de resistência política do partido, que hoje vive seu momento mais delicado com a condenação de sua maior liderança;

12h31 – Lula passa a tratar do processo envolvendo o tríplex no Guarujá (SP), que culminou em uma condenação a 9 anos e 6 meses de prisão pelo juiz federal Sérgio Moro. Posteriormente, a pena foi ampliada para 12 anos e 1 mês por decisão unânime dos 3 desembargadores membros da 8ª Turma do TRF-4. Em seu discurso, o ex-presidente voltou a negar a posse do imóvel no litoral paulista e disse que foi injustamente condenado. Mais além, ele desafiou quem o condenou a debater com ele em qualquer universidade do país. “Eu não tenho medo deles. Eu até já falei que gostaria de fazer um debate com o Moro sobre a denúncia que ele fez contra mim. Eu gostaria que ele me mostrasse alguma coisa de prova”;

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12h40 – O ex-presidente volta a dizer que seu crime foi promover a inclusão social da população pobre brasileira. Ele criticou a atuação da imprensa, de uma ala dos procuradores, policiais federais e juízes. “Eu há muito tempo atrás sonhei que era possível governar esse país envolvendo milhões de pessoas pobres na economia, nas universidades, criando milhões de empregos. Esse foi o crime que cometi”, disse. “Eu cometia esse crime que eles não querem que eu cometa mais. É por conta desse crime que já tem uns 10 processo contra mim. E se for por esse crime, de colocar pobre na universidade, negro na universidade, pobre comprar carro, pobre andar de avião, se esse é o crime que eu cometi, eu vou continuar sendo criminoso nesse país, porque eu vou fazer muito mais”, complementou.

12h43 – Lula disse que não é contra a operação Lava Jato. “Se pegar bandido, tem que pegar bandido mesmo que roubou e prender. Todos nós queremos isso”, afirmou. O problema, na avaliação do ex-presidente seria uma inclinação de magistrados a anseios de partes da opinião pública. “Quem quiser votar com base na opinião pública, largue a toga e vá ser candidato. Escolha um partido político e vá ser candidato”, sugeriu.

12h45 – Lula diz que vai cumprir o mandado de prisão, a despeito dos pedidos dos manifestantes de resistência à ordem. “Não adianta tentar parar o meu sonho, porque quando eu parar de sonhar eu sonharei pela cabeça de vocês”, afirmou. Ele pediu que cada membro da militância “torne-se Lula”. “Eles têm que saber que a morte de um combatente não para uma revolução”. Ele contou que chegou a receber a sugestão de procurar asilo no Uruguai ou em outras embaixadas, mas disse que vai entrentar os adversários “olho no olho”. “Eu não to escondido, eu vou lá na barba deles, para eles saberem que eu não tenho medo, que não vou correr e para saberem que eu vou provar a minha inocência”, reforçou.

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12h49 – “Quanto mais tempo eles me deixarem lá (preso), mais lula nascerá”, afirmou Lula, convocando a militância. “Eu não pararei porque eu não sou mais um ser humano, eu sou uma ideia, uma ideia misturada com a ideia de vocês”. O líder petista disse ainda que tem orgulho de ter sido o único presidente sem diploma universitário e o “que mais fez universidades na história dete país”.

13h – Ao final do discurso do ex-presidente, a senadora Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, introduz o grito de ordem “Eu sou Lula”. O ex-presidente desce do carro de som e é carregado pelos apoiadores presentes ao som de “Apesa de Você”, de Chico Buarque.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.