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SÃO PAULO – Arrumar as coisas em sua própria casa não é o único desafio do governador Geraldo Alckmin nos primeiros passos de sua pré-candidatura presidencial antes de deixar o Palácio dos Bandeirantes. Enquanto busca arbitrar interesses distintos dentro do próprio PSDB, com quatro nomes para a disputa das prévias estaduais, e entre partidos que compõem a coalizão de seu governo em São Paulo, o tucano tenta fazer as costuras políticas necessárias para garantir uma estrutura favorável ao crescimento durante a disputa pela sucessão de Michel Temer.
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Algumas das conversas avançaram, mas ainda é muito cedo para a confirmação de alianças sem que haja riscos de mudanças ao longo do processo. Antes disso, o governador paulista tem a dificuldade de provar que sua candidatura é viável, já que no momento não apresenta o desempenho desejável nas pesquisas de intenção de voto. De acordo com pesquisa Datafolha realizada entre os dias 29 e 30 de janeiro, nos cenários em que o nome do ex-presidente Lula é considerado, o tucano pontua entre 6% e 7%. Sem o petista, ele teria entre 8% e 11% das intenções de voto.
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Situação mais desconfortável ainda é apresentada por levantamento CNT/MDA realizado entre os dias 28 de fevereiro e 3 de março. Com Lula, Alckmin pontuaria 6,4%, ao passo que sem o ex-presidente, o tucano teria entre 8,6% e 8,7% das intenções de voto. Embora o governador não tenha iniciado uma campanha efetiva, em algum momento ele terá de crescer nas pesquisas e se apresentar como nome capaz de aglutinar a centro-direita reformista. Apesar de ainda haver tempo, a ampulheta já foi virada.
Neste momento, Alckmin enfrenta dificuldades até mesmo de pontuar em São Paulo. Conforme apontaram levantamentos da MDA Pesquisa e do Instituto Paraná, o tucano hoje teria menos votos que o deputado federal Jair Bolsonaro, embora ambos estejam tecnicamente empatados no estado.
“São Paulo é um estado que tinha domínio total do PSDB. Agora, o partido retomará esse prestígio? As brigas no estado prejudicarão Geraldo Alckmin? Essas são perguntas que as próximas pesquisas ajudarão a decifrar”, observou Murilo Hidalgo, diretor do Instituto Paraná em entrevista ao programa Conexão Brasília. Além disso, ele chama atenção para o fato de os tucanos também perderem espaços no sul do país, à medida que o senador Álvaro Dias avança no Paraná e em Santa Catarina, assim como o próprio Bolsonaro. Na avaliação do pesquisador, pesam contra o partido o envolvimento de importantes nomes em denúncias de corrupção e, no caso paulista, o desgaste do tempo no comando do governo estadual.
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“Alckmin hoje vai enfrentar grandes problemas nessas eleições. Era para ele ter muito mais intenção de voto do que tem. Em 2006, quando foi candidato a presidente, começou a campanha em fevereiro/março com 20% das intenções de voto, e hoje patina de 6% a 9%. É preciso entendermos também o contexto em que o PSDB está inserido e as diferenças de 2006 para agora. Hoje vemos um partido com uma rejeição muito mais alta”, analisou Marcelo Souza, diretor do instituto MDA Pesquisa, em entrevista ao programa Conexão Brasília. Para ele, os riscos de fragmentação da centro-direita em função das dificuldades de construção de uma candidatura sólida em tempo não podem ser ignorados.
Para isso, é preciso resolver as disputas por sua sucessão em São Paulo e aumentar seu potencial de votos no estado. Conforme sustentam aliados do governador, é obrigação vencer com conforto no estado para compensar esperadas derrotas em outras regiões do país, como o Norte e o Nordeste. Além disso, seria importante para Alckmin não ter de gastar muitas energias em sua casa para poder concentrar a campanha o quanto antes onde seu nome é mais fraco.
O fantasma de Aécio Neves
Nesse sentido, segue fresca a memória da derrota tucana nas últimas eleições presidenciais. Agora, o partido tem o desafio de mostrar que aprendeu a importância de fazer bem a lição de casa. Em 2014, Aécio Neves sofreu derrota para a eleita Dilma Rousseff por 550 mil votos em sua própria casa, o estado de Minas Gerais. O desempenho ruim no segundo maior colégio eleitoral do país representou quase 16% da diferença total de 3,46 milhões de votos que separou a vencedora do derrotado. Caso queira superar seus adversários na corrida pelo Palácio do Planalto, Alckmin tem a obrigação de vencer em São Paulo, seu estado e o maior colégio eleitoral do país.
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Eis, em números, o duro golpe sofrido pelos tucanos em solo mineiro na última disputa:
Candidato | Votos em MG | % em MG | Votos totais | % total |
Dilma Rousseff | 5.979.422 | 52,41% | 54.501.118 | 51,64% |
Aécio Neves | 5.428.821 | 47,59% | 51.041.155 | 48,36% |
diferença | 550.601 | 4,82 p.p. | 3.459.963 | 3,28 p.p. |
*Fonte: TSE
“É preciso estar bem em casa primeiro para depois poder tentar conquistar votos em outros locais. E foi o que aconteceu com Aécio Neves na última eleição. Se tivesse vencido em Minas Gerais, hoje ele seria nosso presidente”, lembrou Souza.
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O caso de Aécio Neves, porém, não traz apenas lições que remetem ao passado tucano. No presente, a derrocada do senador já traz dores de cabeça à candidatura presidencial do partido. Com a derrota apertada para Dilma Rousseff na última corrida presidencial, a postura relevante assumida durante o processo de impeachment da petista e o protagonismo dentro do PSDB, poderia ser natural que o senador fosse o candidato tucano à presidência neste ano.
Contudo, as delações dos irmãos Joesley e Wesley Batista e de executivos da JBS minaram quaisquer planos de voos mais ousados de Aécio Neves. O tucano foi gravado pedindo R$ 2 milhões aos donos da empresa para pagar sua defesa na Operação Lava Jato. Com esses episódios, a perda de espaço dos tucanos em Minas se aprofundou. Hoje, qualquer candidato do PSDB não terá vida fácil naquele que é o segundo maior colégio eleitoral do país.
O partido corre o risco de nem ter candidato ao governo estadual, o que pode ameaçar a situação de Alckmin na região pela falta de palanques sólidos para campanha. O presidenciável busca, juntamente com outros tucanos, convencer o senador Antonio Anastasia, que resiste, a disputar o governo local. Caso os esforços não surtam efeito, o partido tem duas alternativas: apoiar a candidatura do deputado Rodrigo Pacheco, que deve aproveitar a janela de migrações partidárias para deixar o MDB e se filiar ao DEM, ou buscar outro nome próprio.
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