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SÃO PAULO – A avaliação que se faz é que a renúncia de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da presidência da Câmara dos Deputados foi vista com alívio pelo governo interino de Michel Temer, representando uma solução para o clima de instabilidade que a Casa vive atualmente. Em seu discurso de renúncia, o próprio deputado ressaltou que somente a sua renúncia poderia “por fim a essa instabilidade”. “A Câmara não suportará esperar indefinidamente”, destacou.
Mas há riscos para o governo Temer com a renúncia de Cunha? O que esperar para o presidente interino e também para o agora ex-presidente da Câmara?
Conforme destaca o analista político da Barral M. Jorge Juliano Griebeler, por um lado, a renúncia de Cunha posterga a agenda de votação que Temer tenta avançar antes da conclusão do processo de impeachment. Mas, por outro, resolve de uma vez por todas a instabilidade política que o presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão, estava causando na Casa. “Sendo assim, é mais positivo que negativo para o presidente interino. Resta saber quando Maranhão dará prosseguimento aos trâmites burocráticos para que o prazo de cinco sessões para novas eleições comece a contar. O deputado demonstrou que não tem pressa em abandonar a posição que está ocupando”, afirma Griebeler.
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Em entrevista para a Bloomberg, o analista político da Tendências Consultoria Rafael Cortez também reforça que a renúncia de Cunha é potencialmente positiva para Temer por dois motivos: efeito prático de levar à convocação de nova eleição e por retirar o custo político que Cunha ainda representava para governo Temer.
Para a Eurasia, a renúncia reduz o risco de desestabilização para Temer: “o risco era de Cunha ser cassado e sair atirando para todos os lados, com o caso dele indo para a esfera do Sérgio Moro”. A consultoria de risco político aponta que a renúncia não deve livrar o deputado da cassação, mas adia a votação em plenário. Assim, o “Dia D de Cunha pode ficar para depois do impeachment de Dilma. “Tudo o que adia é bom para Temer na votação do impeachment e reduz o risco de ter Cunha como homem-bomba”, afirma.
Já Griebeler ressalta: “a renúncia de Cunha veio muito tarde e deve ter pouco efeito prático sobre a cassação de seu mandato. Pode postergar, mas a cassação parece irreversível”.
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Quem será o novo presidente da Câmara?
Para Cortez, a “saída de Cunha abre possibilidade de se ter um nome na presidência da Câmara que não tenha tanto poder concentrado”, uma vez que o baixo clero se organizou com “ator único” no Congresso sob influência de Cunha. “O novo nome terá de ser alguém que transite bem com o baixo clero e que gere efeitos positivos para o governo”, afirma.
Tanto Griebeler quanto Cortez ressaltam que o nome do deputado Rogério Rosso (PSD-DF) aparece como cotado para a posição e tem aparecido como um dos principais para substituí-lo. “O centrão tentará emplacar o presidente da Casa. Ainda assim, Temer tem feito um bom trabalho na negociação com os deputados e deve conseguir aprovar um nome que traga consenso”, ressalta o analista da Barral M. Jorge. Cortez ressalta, por sua vez, que há “risco de não se encontrar um nome minimamente de consenso dentro da coalizão de governo”. Além desse risco de não-acordo, a MCM Consultores destaca que pode haver uma tentativa de retaliação ao governo por parte de Cunha, vazando algumas denúncias.
Para a Eurasia, não seria útil para Cunha tentar minar o governo interino; “o deputado pode tentar pressionar o governo para ajudá-lo no STF, mas tal estratégia não dará certo”. “De toda maneira, é mais útil para Cunha ter Temer na Presidência e tentar um jogo de chantagem do que minar a votação do impeachment”.
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Pelo que parece, o jogo de poder dentro da Câmara apenas começou.
(Com Bloomberg)