Como seria o governo Temer? LCA traça 3 cenários – e seus grandes impactos para mercado

Consultoria elevou chance de impeachment de Dilma de 70% para 85% e enxerga três cenários para um eventual governo Temer - do mais adverso para o mais benigno

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em meio ao agravamento da crise política e a saída do PMDB da base aliada do governo nesta semana, a LCA Consultores fez uma revisão dos seus cenários base e alternativos para a política e a economia brasileira. Agora, os consultores veem uma chance de 85% do impeachment ocorrer, ante 70% na pré-saída do PMDB do governo. 

Lembrando que, normalmente, há um período de “lua-de-mel” em meio à mudança política, com aumento da confiança e da avaliação do governo, a LCA calcula uma chance de 40% de que a governabilidade continuará deteriorada ao menos até 2018, mesmo que haja troca de presidente. 

Por outro lado, estima-se uma probabilidade de 60% de arrefecimento gradativo da crise política a partir de meados de 2016. Sob essa premissa, há dois cenários: o base, no qual o governo conquistará um apoio razoavelmente sólido no Congresso (muito provavelmente contando com o PSDB e outros partidos da atual oposição em sua base) e conseguirá aprovar algumas reformas, sobretudo após as eleições municipais deste ano, mas que não seria suficiente para viabilizar a aprovação de mais reformas. A outra trajetória, com chance de 5%, contemplaria uma melhora significativa e rápida da governabilidade, com o novo governo conseguindo implementar, de maneira bastante célere.

Veja abaixo os cenários-base para a política no Brasil num pós-Dilma:

55%: Cenário-base – governabilidade, mas nem tanto
No cenário-base, com chance de 55% de ocorrer, haveria arrefecimento da crise política. Para a LCA Consultores, o novo governo conquistará um apoio razoavelmente sólido no Congresso (muito provavelmente contando com o PSDB e outros partidos da atual oposição em sua base) e conseguirá aprovar algumas reformas, sobretudo após as eleições municipais deste ano.

O “capital político” seria ainda que maior do que o do governo atual, mas não o suficiente para viabilizar a aprovação célere de reformas altamente impopulares – como a da previdência (que seguiria em banho-maria, com chance modesta de aprovação antes de 2018) –, mas somente de outras reformas que tendem a gerar menor ônus político, mas também têm peso, como a independência do Banco Central e a adoção de uma agenda agressiva de concessões e privatizações. Estas medidas poderiam ajudar a melhorar consideravelmente as contas públicas no curto prazo.

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Neste cenário, a cotação do dólar tenderia a se manter em torno de R$ 3,70, aumentando bastante a chance de que o IPCA em 2016 registre elevação mais próxima do teto da meta (que é de 6,5%) e permitindo alguma redução da Selic já a partir do final deste ano ou do começo de 2017 – diante de uma perspectiva de inflação abaixo de 5% em 2017. O recuo do PIB neste ano ainda seria expressivo (próximo de 3%), mas já em 2017 a economia brasileira voltaria a crescer perto de 1,5%, acelerando para algo no intervalo de 2% a 3% de 2018 em diante, afirma a consultoria.

Já o Ibovespa iria para 54.425 pontos para 2016, alta de 6,20% frente ao fechamento da última quarta-feira e a 58.316 pontos no final de 2017 (upside de 13,79% com relação ao fechamento da véspera). 

5%: Cenário benigno – melhora significativa
O cenário benigno, com chance 5%, contemplaria uma melhora significativa e rápida da governabilidade, com o novo governo conseguindo implementar, de maneira bastante célere, boa parte da agenda de cunho liberal detalhada no documento do PMDB “Uma ponte para o futuro”.

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Neste cenário, a LCA vê o dólar se aproximando dos 3,30 nos próximos meses (mesmo com o BC tentando evitar uma revaloriza- ção tão pronunciada do real), antecipando em cerca de um ano a desinflação e a retomada do crescimento do PIB vislumbrados no cenário base, de probabilidade bem maior. O Ibovespa iria para os 58.234 pontos ao final de 2016, alta de 13,63% com relação ao fechamento de quarta; em 2017, o índice atingiria os 62.399 pontos, valorização de 21,76% frente ao fechamento da véspera. 

40%: Cenário adverso – deterioração continua
No cenário adverso, com chance de 40%, mesmo que haja troca de presidente, a governabilidade seguirá bastante deteriorada, ao menos até 2018. Desta forma, a crise política teria continuidade até as próximas eleições gerais, e configuraria um cenário macroeconômico que denominamos adverso. A LCA aponta que são vários os elementos que podem configurar esse cenário adverso.

São eles: novos desdobramentos sobre o sistema político da Operação Lava-Jato (a LCA lembra que atores importantes de quase todos os partidos políticos relevantes parecem estar envolvidos nos esquemas de corrupção que a investigação vem desbaratando); o eventual avanço no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e no STF, do processo de cassação da chapa eleitoral Dilma-Temer (valendo notar que, caso isso aconteça após o início de 2017, haveria uma eleição indireta, pelo Congresso, de um novo presidente); ou um prolongamento do quadro de impasse entre governo e Congresso (havendo ou não troca no comando do Executivo). 

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Neste quadro politicamente muito conturbado, a LCA acredita que a cotação do dólar poderia caminhar em direção aos R$ 4,50 rapidamente, piorando ainda mais o quadro inflacionário e exigindo uma nova rodada de elevação da taxa Selic pelo BC – de modo a tentar conter, ainda que parcialmente, uma deterioração adicional das expectativas de inflação. O PIB recuaria mais de 4% neste ano, apenas se estabilizaria em 2017 e voltaria a crescer de forma bastante moderada somente a partir de 2018, afirma a consultoria.  Neste cenário, o Ibovespa chegaria aos 29.018 pontos ao final deste ano, queda de 43,38% frente ao fechamento de ontem e chegaria a 32.523 pontos em 2017, queda de 36,54% em relação à cotação da véspera. 

A LCA afirma que é importante notar que a principal variável macroeconômica exógena utilizada para operacionalizar nestes três cenários é o comportamento do risco-País. “Isso significa dizer que estamos atrelando três trajetórias distintas de risco às premissas políticas descritas”.

Porém, pode haver nuances neste cenário. A consultoria cita o exemplo de que uma eventual nomeação de um “ministério de notáveis” por um novo governo, ao emprestar grande credibilidade para a política econômica, poderia fazer com que o comportamento do risco se aproximasse mais daquela trajetória atribuída ao cenário benigno do que ao base, mesmo com uma governabilidade apenas razoável (que é uma premissa qualitativa do cenário base).

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Veja as estimativas para indicadores econômicos feitas pela LCA:

Cenários LCA

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.