Pix impede sucesso de criptomoedas com pagamentos no Brasil, diz assessor do Banco Central

Fábio Araújo, coordenador dos trabalhos sobre a moeda digital do Banco Central, participou ontem de painel na Brazil Conference, nos EUA

Paulo Barros

Pix é o pagamento instantâneo brasileiro (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Pix é o pagamento instantâneo brasileiro (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

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O Bitcoin (BTC) cresce como meio de pagamentos e já foi até mesmo adotado como moeda oficial de El Salvador, mas, na avaliação do Banco Central, não deve ter o mesmo sucesso no Brasil – ao menos não como meio de troca.

Segundo Fábio Araújo, coordenador dos trabalhos sobre a moeda digital do Banco Central, o uso de criptomoedas para pagamentos no país perde o propósito dada a rápida penetração do Pix. No primeiro ano de operação, 104,4 milhões de pessoas, ou mais de 60% da população, realizaram pelo menos uma transferência por meio da plataforma de pagamentos instantâneos do BC.

“Fica meio sem sentido pensar em cripto para fazer pagamento no Brasil”, afirmou Araújo em participação na Brazil Conference, no domingo (10). “A gente tem um sistema de pagamento muito avançado, o Pix foi um fenômeno de adoção”.

O especialista do BC afirmou que as criptos são uma solução interessante para países que têm problemas de pagamento, como vários da América Latina, especialmente quando os cidadãos têm acesso a uma stablecoin denominada na moeda local. No entanto, o mesmo não valeria para o Brasil porque “o sistema de pagamentos brasileiro é muito moderno”.

Para o Banco Central, o que atrai nas criptomoedas é a tecnologia que permite criar soluções financeiras inovadoras com muito menos recursos e em menos tempo quando comparado com o mercado tradicional.

“O que a gente no Banco Central vê no mercado de cripto de valor é a programabilidade, a flexibilidade que você tem com essas ferramentas. Uma fintech pode pegar essas ferramentas de programação, fazer um produto financeiro novo e colocar no mercado de uma maneira muito mais rápida do que pode ser feito hoje no mercado tradicional. Vai trazer mais eficiência e contestabilidade para o mercado”, apontou Araújo.

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Embora ressalte as qualidades do Pix, o coordenador do BC diz que o sistema de pagamentos é apenas um primeiro passo rumo a uma inclusão mais ampla da população no sistema financeiro. Diante disso, o BC enxerga no Open Banking e nas criptomoedas a possibilidade de inaugurar uma segunda fase de expansão de serviços financeiros no país.

“Tem que dar opções de investimento, de crédito, de seguros. E é isso que a gente vê que a tecnologia de cripto pode oferecer para um mercado que ainda não está coberto hoje. É esse o foco que a gente tem para a tecnologia de Web3 e cripto no Brasil”, disse ele.

Não é a primeira vez que o coordenador dos trabalhos sobre moeda digital do Banco Central elogia as qualidades de programabilidade das criptomoedas. Em em maio de 2021, durante coletiva de apresentação do projeto do Real Digital, Araújo disse que o Real Digital deve nascer integrado a produtos de finanças descentralizadas (DeFi), compatível com contratos inteligentes desde a origem.

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Paulo Barros

Jornalista pela Universidade da Amazônia, com especialização em Comunicação Digital pela ECA-USP. Tem trabalhos publicados em veículos brasileiros, como CNN Brasil, e internacionais, como CoinDesk. No InfoMoney, é editor com foco em investimentos e criptomoedas