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Thomas Piketty, autor do livro O capital no século XXI e professor da Escola de Economia de Paris, afirmou nesta quarta-feira, 26, que, com base em dados fiscais, há pior distribuição de renda no Brasil do que nos EUA. Segundo ele, a desigualdade é subestimada, sobretudo devido à dificuldade de acesso a dados disponíveis pela Receita Federal. “Como em outros países, o Brasil precisa de mais transparência sobre renda e riqueza. Impostos progressivos sobre renda poderiam ser poderosos instrumentos de informação sobre distribuição de riqueza no País.”
Em palestra na Faculdade de Economia e Administração da USP, ele destaca pontos de seu livro, que estuda a dinâmica da renda e distribuição de riqueza desde o século 18 em 20 países, com dados coletados nos últimos 15 anos por 30 pesquisadores de diversos países, entre eles Emmanuel Saez. Além de avaliações históricas, ele fez alguns comentários sobre o agravamento da má distribuição de renda em nível global nos últimos anos.
“A má distribuição de renda pelo mundo está vinculada ao frágil sistema financeiro internacional”, destacou. “E isto está também relacionado com pobres instituições em educação, governança corporativa e mercado de trabalho. Educação inclusiva e impostos progressivos são bons mecanismos para melhorar a distribuição de renda.”
Piketty afirmou ainda que, apesar de o capitalismo hoje exibir mais mobilidade no segmento que representa o 1% mais rico em diversas economias avançadas do que no século 19, o sistema ainda é “muito concentrador” de renda, o que gera grandes níveis de desequilíbrios de distribuição de riqueza.
“Mesmo que haja mobilidade na camada mais rica, o aumento da riqueza desse segmento da sociedade é três ou quatro vezes mais rápido do que é registrado pela maioria da população”, comentou Piketty, ao responder uma pergunta de André Lara Resende, um dos pais do Plano Real. Na avaliação de Resende, o capitalismo hoje tem muito mais dinamismo social do que no século 19, onde as sociedades tinham uma característica patrimonialista. “Há também maiores elementos de inovação tecnológica, o que amplia a mobilidade social”, comentou o economista brasileiro.
“Pode haver hoje mais mobilidade entre aqueles que estão entre o 1% ou 0,1% mais rico do que há 100 anos. Contudo, a concentração de renda está aumentando muito pelo mundo”, rebateu Piketty. “Mesmo com o aumento da inovação, está ocorrendo mais iniquidade de renda. Então, um dos instrumentos que podem ajudar nesta questão são impostos progressivos sobre renda.”