PIB do 2º tri deve manter trajetória de crescimento, puxado por serviços; tendência é desacelerar no segundo semestre

Aperto monetário e desaceleração da economia global prometem desafiar crescimento econômico já no quarto trimestre

Mitchel Diniz

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O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no segundo trimestre promete crescer na mesma intensidade em que avançou nos três primeiros meses de 2022 e ficar acima do nível pré-pandemia. O consenso Refinitiv de mercado aponta para uma alta trimestral de 0,9% e de 2,8% na comparação com o mesmo período do ano passado. Economistas e analistas ouvidos pelo InfoMoney projetam crescimento entre 0,6% e 1%. O dado será divulgado na próxima quinta-feira (1) às 9h (horário de Brasília) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Mais uma vez, a atividade econômica deve ser impulsionada pelo setor de serviços, no lado da oferta. Em junho, o segmento cresceu pelo segundo mês consecutivo, avançando 6,3% na comparação com um ano antes. Os serviços têm sido beneficiados pela normalização da economia, com o relaxamento quase que total das restrições adotadas durante a pandemia. A retomada de atividades presenciais também coincide com medidas de estímulo adotadas pelo governo.

“O destaque deve ficar, sobretudo, com serviços prestados às famílias, segmento que ainda não voltou para o patamar pré-pandemia e deve continuar puxando a economia também no terceiro trimestre”, afirma Andrea Damico, sócia e economista-chefe da Armor Capital. A casa projeta alta de 1% para o PIB do segundo trimestre na comparação com os três primeiros meses do ano.

“Tem ainda a dinâmica dos auxílios, o pagamento de vouchers e o aumento de renda disponível da classe média, com a queda do preço dos combustíveis”, complementa a economista.

O Morgan Stanley prevê crescimento trimestral de 1% e de 2,8% na comparação anual. “A recuperação do mercado de trabalho se provou robusta, impulsionada pela contratação de trabalhadores informais. Além disso, o governo antecipou o pagamento do 13º salário de aposentados e pensionistas”, enumeram os analistas do banco.

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O crédito, elemento importante para a expansão doméstica, vem apresentado crescimento tímido, apesar do aumento da inadimplência de pessoas físicas. “Em geral, quando os serviços vão bem, a parte de consumo das famílias também vai bem, e deve ser isso que vai puxar o PIB pelo lado da demanda”, afirma Raone Costa, economista chefe da Alphatree Capital. A casa prevê crescimento trimestral da economia de 0,9%.

Para Helena Veronese, economista chefe da B.Side Investimentos, ainda que os serviços tenham dado impulso à economia brasileira no segundo trimestre, já devem dar sinais de desaceleração no período. “A reabertura das atividades segue impulsionando, mas a normalização também já começa a ser absorvida pela economia”, afirma. A B.Side prevê crescimento de 0,8% para o PIB entre abril e junho deste ano e de 2,6%, comparando com o mesmo período do ano passado.

Expansão do PIB deve ser disseminada

Mesmo que puxado pelo setor de serviços, a previsão é que outros setores tenham contribuído com a continuidade do crescimento econômico no segundo trimestre.

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“Sob a ótica da oferta, todas os grandes grupos devem mostrar avanço na margem. A agropecuária deve se recuperar após uma safra de soja marcada pelas estiagens no sul do país no 1T22 e, a indústria, deverá mostrar todos os segmentos contribuindo positivamente”, afirma João Savignon, economista da Kínitro Capital. A casa prevê crescimento de 0,8% no PIB do segundo trimestre, comparado com o período imediatamente anterior, e de 2,7% na comparação anual.

De acordo com Savignon, no entanto, ainda há uma “importante heterogeneidade” entre as atividades econômicas, sendo que algumas ainda estão abaixo dos níveis pré-pandemia. Essa é uma questão que também é observada por outros agentes de mercado.

“A indústria deve registrar performance bem mais tímida, pois tem mostrado dificuldade em diversas frentes. Desde problemas nas cadeias de suprimento globais, até arrefecimento do consumo de bens duráveis após o boom observado durante a pandemia”, ressalva Laura Moraes, economista da Neo Investimentos, que prevê um crescimento mais moderado (de 0,6%) do PIB no segundo trimestre.

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PIB tende a desacelerar já no segundo semestre

A força do consumo privado deve se estender ao longo do segundo semestre deste ano, na visão do Morgan Stanley, e também em 2023, ainda que em menor escala.

“Não devemos ver estímulos fiscais impulsionando o consumo doméstico no ano que vem”, afirma a equipe de análise do banco.

Ainda de acordo com o Morgan, os investimentos devem ser impulsionados por uma forte recuperação da China em 2023. Além disso, o banco destaca a entrada de recursos do setor privado na economia, vindas de concessões, vendas de ativos e privatizações realizadas nos últimos anos.

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Raone Costa, da Alphatree, enxerga tendência de inversão já terceiro trimestre. “A expectativa é que o setor de serviços mostre uma força menor, enquanto a indústria deve apresentar uma melhora, sobretudo na parte de bens duráveis. Acredito que vai ser o inverso em termos de abertura de crescimento”.

Os estímulos à renda devem continuar sustentando o crescimento na segunda metade do ano, na avaliação dos analistas, com chances de desaceleração a partir do quarto trimestre. “É quando a política monetária [de juros mais altos] começa a fazer efeito sobre a economia”, afirma Andrea Damico. A Armor Capital, recentemente, revisou suas projeções do PIB para 2022 (de 2% para 2,5%) e 2023 (de 0% para 0,5%).

Para Savignon, da Kínitro, apesar da visão favorável de crescimento no curto prazo, a dinâmica tende a ser desafiada nos próximos trimestres. “Por conta da desaceleração da economia global, do impacto do aperto monetário implementado até então e da dissipação dessas medidas fiscais”, conclui.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados