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No último domingo, o Ministério de Energia da Arábia Saudita anunciou que irá realizar um corte voluntário de 500 mil barris por dia de maio até o final de 2023. A ação irá acontecer em coordenação com países membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e não membros da organização (Opep+) que participam da declaração de cooperação.
As informações foram publicadas por meio de nota no site oficial do ministério. “Esse corte voluntário é adicional à redução na produção acordada na 33ª Reunião Ministerial da Opep e não Opep em 5 de outubro de 2022”, diz o comunicado. “O responsável do Ministério da Energia enfatiza que se trata de uma medida de precaução destinada a apoiar a estabilidade do mercado petrolífero.”
Esse anúncio totaliza cortes de 1,66 milhão de barris por dia, que entrarão em vigor de maio até o final de 2023.
As reduções serão feitas no Iraque (211 mil bpd), Emirados Árabes Unidos (144 mil bpd), Kuwait (128 mil bpd), Casaquistão (78 mil bpd), Argélia (48 mil bpd), Omã (40 mil bpd) e Gabão (8 mil bpd). Além disso, a Rússia, que integra a Opep+, estenderá o atual corte de 500 mil bpd em sua produção até o fim de 2023, trazendo a redução total na oferta a 1,66 milhão de bpd, detalhou a Opep.
Com isso, o contrato futuro do petróleo Brent com vencimento em junho fechou com alta nesta segunda-feira (3) de 6,31%, a US$ 84,93 o barril, após chegar a subir mais de 8% no início da sessão.
O petróleo nos EUA WTI para maio subiu 6,28% a US$ 80,42, depois de atingir o nível mais alto desde o final de janeiro.
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“A Opep+ tem um poder de precificação muito significativo e o corte surpresa é consistente com sua nova doutrina de agir preventivamente sem perdas significativas de participação de mercado. Como já assumimos que os cortes na Rússia se estenderiam até a segunda metade de 2023, estamos reduzindo nossa previsão de produção da Opep+ para o final de 2023 em 1,1 milhão de barris por dia”, apontam os analistas do Goldman Sachs.
Incorporando essa oferta significativamente menor, demanda ligeiramente menor e o modesto lançamento da reserva estratégica da França, os analistas do Goldman elevaram suas previsões para o petróleo brent em US$ 5 o barril, de US$ 90 para US$ 95 para dezembro de 2023 e de US$ 97 para US$ 100 para dezembro de 2024.
“Não alteramos nossa previsão de produção na Rússia, pois já assumimos que o corte de 500 mil barris por dia (em relação aos níveis de fevereiro de 2023), que é cada vez mais visível em nossa visão de alta frequência na Rússia, se estenderia até a segunda metade de 2023″, apontam os analistas do banco.
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O UBS também espera que o Brent chegue a US$ 100 até junho.
“O plano da Opep+ para um novo corte na produção pode levar os preços do petróleo para a marca de US$ 100 novamente, considerando a reabertura da China e os cortes de produção da Rússia como um movimento de retaliação contra as sanções ocidentais”, disse Tina Teng, analista da CMC Markets, à CNBC.
Teng observou, no entanto, que o corte também poderia reverter o declínio da inflação, o que “complicaria as decisões de taxas de juros dos bancos centrais”.
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Em março, os preços do petróleo caíram para o nível mais baixo desde dezembro de 2021, já que os investidores temiam que a crise bancária pudesse prejudicar o crescimento econômico global. O cartel do petróleo e seus aliados estão tentando evitar uma repetição do crash de 2008, disse um analista ao portal.
“Eles estão para o segundo semestre deste ano e decidindo que não querem reviver 2008”, disse Bob McNally, presidente do Rapidan Energy Group, citando a queda dos preços do petróleo de US$ 140 para US$ 35 em seis meses naquele ano. McNally acrescentou que, embora não seja seu caso base, os preços do petróleo podem “subir para US$ 100 … e assim por diante”.
Para o JPMorgan, a parte mais surpreendente do anúncio é ele não ter sido feito antes. Desde novembro passado, o equilíbrio entre oferta e demanda global de petróleo sugeria que uma forte ação política era necessária para manter os excedentes globais de petróleo sob controle, avalia.
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“Por exemplo, a primeira verificação dos equilíbrios de oferta e demanda por trás de nossa previsão de petróleo para 2023 em novembro passado resultou em um preço médio do brent no 1T23 de US$ 78 o barril (WTI a US$ 72/bbl). Acreditávamos que o baixo nível de preços desencadearia duas respostas de política. Primeiro, o governo dos EUA entraria no mercado para comprar 60 milhões de barris de petróleo para reabastecer parcialmente os estoques da reserva estratégica. Em segundo lugar, acreditávamos que, para manter o mercado equilibrado em 2023, a aliança Opep+ precisaria cortar sua meta de produção de outubro em mais 0,8 a 1,0 milhão de barris por dia (mbd), reduzindo efetivamente a produção em 0,4 mbd”, apontam os analistas.
Na ausência de mudança de política, o JPMorgan estimava que o preço do petróleo Brent ficaria confinado à faixa de US$ 70-80 o barril no curto prazo, com risco de preços significativamente mais baixos caso os eventos recentes nos mercados financeiros dos EUA (caso do SVB) se espalhassem pelo setor bancário regional.
O impacto combinado do anúncio de domingo é de aproximadamente 100 mil barris por dia (em base anualizada) menos petróleo fluindo para o mercado do que os analistas do JP esperavam anteriormente. Consequentemente, mantiveram sua previsão de preços de longo prazo. Para o segundo trimestre, veem os preços do petróleo Brent em média a US$ 89 o barril, subindo para US$ 94 no 4T23 e fechando o ano em US$ 96.
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Os cortes estão ocorrendo dois meses depois de sua suposição inicial. O momento da resposta política é fundamental e o JP assumia que tanto o governo dos EUA quanto a Opep agiriam no primeiro trimestre. “Agir mais tarde diminui o impacto nos saldos gerais e, portanto, leva mais tempo para que o impacto do preço ocorra”, apontam.
Com o governo do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, descartando publicamente novas compras de petróleo em breve, a aliança Opep+ precisa fazer o trabalho pesado para equilibrar o mercado, avaliam.
Questionamentos
O governo do presidente dos Estados Unidos reagiu ao anúncio da Opep+ e disse que a medida anunciada pelos produtores era desaconselhável, enquanto alguns analistas questionaram a justificativa da Opep+ para o corte extra na produção.
“É difícil aceitar o raciocínio ‘preventivo’ e ‘cautelar’ — especialmente agora, quando a crise bancária diminuiu e o Brent voltou a subir para US$ 80 em relação a mínimas de 15 meses no início de março”, disse Vandana Hari, fundadora do provedor de análise de mercado de petróleo Vanda Insights.
Para o Citi, o corte surpresa na produção da Opep+ parece destinado a apertar os mercados de petróleo. “Continuamos a estimar que o custo marginal de fornecimento de longo prazo do petróleo fica muito mais próximo de US$ 60 o barril; ao manter os preços altos, a Opep+ está garantindo que os planos de crescimento do xisto dos EUA acelerem”, avaliam os analistas.
Segundo eles, é difícil explicar totalmente a decisão da Opep de cortar a produção. “Talvez tenha sido a preocupação sobre o que tem sido um aumento de estoque razoavelmente considerável no 1T,, com um indício de menor demanda nos EUA contribuindo para o desequilíbrio. Apesar disso, porém, as próprias previsões do grupo mantinham a expectativa de que uma demanda chinesa em alta. Escolher cortar agora sugere preocupações de que essas previsões são propensas a riscos ou simplesmente um movimento oportunista para elevar os preços”, aponta.
Os analistas esperam que esses cortes tenham mais impacto nos preços imediatos do petróleo do que nos preços de longo prazo.
Além disso, a velha questão para o setor é quais empresas podem realmente responder ao sinal de preços do petróleo mais altos, podendo estimular a produção de xisto nos EUA.
(com Reuters)