Petróleo: para onde vão os preços entre conflito no Oriente Médio e notícias da Opep?

Analistas veem riscos de alta no curto prazo com escalada recente do conflito no Oriente Médio, mas mantêm projeções

Lara Rizério

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As últimas semanas têm sido de forte volatilidade para o petróleo.

Em um primeiro momento, conforme ressalta a XP, os preços caíram drasticamente devido às preocupações com a fraca economia global e com a diminuição da demanda. No entanto, mais recentemente, os preços subiram novamente devido ao aumento das tensões geopolíticas no Oriente Médio, principalmente depois que os confrontos em andamento entre Israel e o Irã surgiram com o risco de uma nova escalada.

Na véspera, os preços chegaram a amenizar tendo como pano de fundo alívio de restrições voluntárias à produção da commodity por membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) e com a divulgação de dados sobre estoques de petróleo nos Estados Unidos, mas logo voltaram a saltar nesta quinta, devido a novos desdobramentos da tensão no Oriente Médio gerando preocupação dos investidores de que um conflito crescente poderia interromper o fluxo de petróleo da região. Nesta quinta, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, falou que a possibilidade de Israel bombardear instalações petrolíferas do Irã estava sendo discutida com representantes israelenses; e conforme Israel sinaliza nova incursão no Líbano.

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Em meio a tamanha volatilidade e tantas forças de lados opostos mexendo com as cotações, o que analistas de mercado vislumbram para os preços do petróleo?

Especificamente sobre o efeito da reunião da Opep+, Regis Cardoso e Helena Kelm, analistas da XP que assinam relatório sobre o tema, apontam que o petróleo amenizou os ganhos após a reunião da Opep+ uma vez que participantes do mercado estão cautelosos quanto a possíveis brigas internas entre os membros do cartel de produtores, o que poderia fazer com que os preços do petróleo caiam.

O Wall Street Journal (WSJ) relatou uma ameaça velada aos infratores das cotas de produção, com representantes sauditas supostamente afirmando que os preços do petróleo poderiam cair para US$ 50/bbl se os estados membros não cumprissem a declaração.

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A declaração sugere a possibilidade de os sauditas retaliarem aumentando a produção e correndo o risco de inundar os mercados. “Em nossa opinião, esse cenário continua improvável no curto prazo. Achamos que é natural que a Opep+ fique atenta ao cumprimento e que use essa retórica como um instrumento para impor os limites de produção acordados”, avalia a XP. A Opep refutou a reportagem do WSJ posteriormente.

Os analistas da XP avaliam estarem menos pessimistas em relação à oferta e à demanda, pois atribuem uma probabilidade menor de uma rápida desaceleração da demanda que incline os balanços de oferta/demanda para um excesso de oferta grave. “Por outro lado, continuamos esperançosos de que a escalada no Oriente Médio possa ser contida para evitar que o conflito se transforme em uma guerra regional”, apontam.

Enquanto isso, os temores do mercado estão aumentando sobre a possibilidade de Israel ter como alvo a infraestrutura de petróleo iraniana, colocando também no radar a ameaça de retaliação do Irã. Há preocupações de que tal escalada possa levar o Irã a bloquear o Estreito de Ormuz ou atacar a infraestrutura saudita, como fez em 2019, segundo disse para a Reuters o analista da Panmure Gordon, Ashley Kelty.

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Para entender o atual contexto geopolítico, os analistas do Bradesco BBI fizeram uma reunião com Hagai M. Segal, professor da NYU e consultor em geopolítica e Oriente Médio. Eles saíram do encontro com a visão de não ser tão provável que Israel atinja ativos de petróleo críticos no Irã, que poderiam causar uma crise de preços do petróleo.

“Portanto, esperamos que os preços do Brent permaneçam amplamente contidos por agora, talvez na faixa dos US$ 70. No entanto, os cenários de como o Irã decida responder e sua capacidade de atingir ativos de petróleo (e por quanto tempo) permanecem como o principal risco de alta para os preços do petróleo neste estágio”, avalia o banco. Nesta quinta, o contrato futuro do brent (utilizado como referência) mais negociado estava na casa dos US$ 77 o barril.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que o Irã pagaria por seu ataque com mísseis contra Israel na terça-feira, enquanto Teerã disse que qualquer retaliação seria recebida com “vasta destruição”, aumentando os temores de uma guerra mais ampla.

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Em nota, o Goldman Sachs manteve a sua previsão de preços do brent entre US$ 70 e US$ 85 o barril e a projeção média do Brent para 2025 em US$ 77/bbl (revisada no final de agosto), uma vez que assume que a Opep aumentará a produção no quarto trimestre.

Para os analistas do banco, embora a reversão em posições vendida (short) e o prêmio de risco geopolítico elevado possam puxar o preço do petróleo bruto para cima no curto prazo, o prêmio permanece limitado devido à alta capacidade excedente e às interrupções limitadas da produção.

De qualquer forma, acreditam que os preços do petróleo devam permanecer sensíveis a quaisquer interrupções reais no fornecimento, com um possível fechamento do Estreito de Ormuz provavelmente levando a um aumento significativo nos preços do petróleo.

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Sobre as recentes medidas de estímulo anunciadas pelo governo da China, o banco vê um risco limitado de alta na demanda por petróleo pelo gigante chinês, devido ainda à incerteza sobre a flexibilização fiscal e por conta da sensibilidade relativamente menor da demanda global por petróleo às flutuações do PIB real da China.

(com Reuters)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.