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A curva de juros brasileira sobe forte no ano até agora, principalmente os contratos com vencimento na ponta longa. As taxas dos DIs para janeiro de 2029, por exemplo, têm alta de 7,30%, indo a 10,80%, as dos para 2031, de 7,99%, a 11,08%, e as dos para 2033, de 7,81%, a 11,18%.
Especialistas apontam diversos motivos para isso, mas o que se fala mais é que a curva brasileira acompanha o que acontece nos Estados Unidos. Luís Barone, sócio e gestor da Galapagos Capital, lembra que os treasuries yields também sobem forte em 2024, com o rendimento título do tesouro americano com vencimento em dez anos, por exemplo, subindo mais de 12%.
“Existe uma correlação muito grande entre o preço do petróleo e o juro americano. Quando o mercado imagina que a inflação pode ficar mais alta, ele acaba pedindo mais prêmio para comprar um título”, explica o especialista da gestora. “O petróleo, que é responsável por quase 50% do índice de commodities, dois meses atrás estava batendo US$ 67 o barril e agora está quase nos US$ 90”.
O petróleo vem subindo ao longo do ano por uma série de fatores. Ontem, os contratos futuros fecharam nos seus maiores níveis desde outubro de 2024, após a surpresa com dados do setor industrial na China e nos Estados Unidos. Fora isso, dados da China, tensões no Oriente Médio e na Rússia também explicam majoritariamente o avanço.
Para Barone, o avanço do petróleo fez investidores ficarem ainda mais reticentes com os dados macroeconômicos mais fortes do que o esperado nos Estados Unidos. O combo de combustíveis mais caros e uma economia ainda aquecida levanta o temor de que a alta dos preços, por lá, pode demorar a voltar para dentro da meta – o que impediria o Federal Reserve de ser mais brando em sua política monetária.
Por fim, ele lembra ainda que existe uma correlação entre os juros americanos e os brasileiros. “Quando lá sobe, a gente tem um reflexo nos juros brasileiros. Uma coisa puxa a outra”, diz.
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Rachel de Sá, chefe de economia da Rico, vai no mesmo sentido. “Por mais que as expectativas para a Selic e para a taxa de juros de curto prazo determinado pelo Banco Central não tenham mudado, o mercado já está olhando para a Selic terminal. Os juros são sempre relativos. Se os títulos soberanos americanos estão pagando mais no longo prazo, o risco relativo do Brasil acaba sendo maior, porque é tudo relativo”, contextualiza.
Com os títulos soberanos brasileiros pagando mais, tentando manter a atratividade frente aos americanos, os contratos privados também passam a ter de oferecer maiores prêmios. “Se o governo pagar X para os investidores, com poucas exceções, as empresas vão pagar além do X, já que o título soberano, também com poucas exceções, é um título com o menor risco”.
Fiscal também ajuda a impulsionar curva brasileira
No que tange às causas locais, principalmente o fiscal brasileiro, os especialistas se dividem ao enxergar impacto na curva de juros. Barone, por exemplo, vê que as questões relativas ao Governo Federal, por enquanto, têm pouca influência na dinâmica das taxas, mas de Sá acha o contrário.
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“Quanto maior a incerteza fiscal, maior tende a ser a precificação de risco no longo prazo. Neste ano a gente viu bastante incerteza sobre as medidas de arrecadação do governo. O ano até começou bem, com uma boa elevação na arrecadação em janeiro, mas em fevereiro já veio com uma alta menor do que o esperada”, explica a economista da Rico.
Ela menciona ainda que há, por enquanto, uma série de medidas paralisadas no Congresso, como a de reoneração da folha de pagamento e o fim do programa de socorro ao setor de eventos. “Tem ainda muitos desafios no Congresso para o governo conseguir manter a meta ambiciosa de equilibrar as contas neste ano”, fala.
Daniel Leal, estrategista de renda fixa da BGC Liquidez, corrobora. “Em que pese o grande driver vir do externo, a nossa curva também tem reagido com a preocupação com a política fiscal principalmente depois do resultado das contas públicas em fevereiro, que vem um pouco pior do que esperado”, fala.