O que é valor, o que é crescimento e o que são ambas entre as petroleiras da Bolsa?

Petrobras aparece como história de valor, enquanto 3R e Enauta estão como "cases híbridos"

Lara Rizério Felipe Moreira

(Shutterstock)
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Cenário de juros altos e dólar forte beneficia ações de valor, enquanto corte de juros pelo Federal Reserve deve beneficiar ações de crescimento. Mas como isso se reflete nas empresas do setor de petróleo, gás e outros combustíveis no geral?

O Bradesco BBI fez uma divisão das suas ações de cobertura de óleo e gás na América Latina em três, mostrando as histórias de valor, as histórias de crescimento e empresas “híbridas”, que podem representar ambas as histórias – e como o macro deve impactar os ativos. “As teses de crescimento provavelmente captarão mais fluxos quando (e se) o Federal Reserve começar a cortar as taxas de juros”, reforçam os analistas do banco.

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Com as altas taxas de juros nos EUA, histórias de grande valor como a brasileira Petrobras (PETR4) e a colombiana Ecopetrol atraem mais atenção. Com o tempo, com as taxas dos EUA potencialmente em queda, histórias como a mexicana Orbia, a argentina YPF e Cosan (CSAN3) poderão captar mais fluxos. Enquanto isso, o banco vê histórias como a PRIO (PRIO3) e a Oceanpact (OPCT3) com desempenho relativamente bom em ambos os cenários.

O banco usou os seguintes critérios, como ressaltado no gráfico abaixo, de: (1) FCFE (fluxo de caixa livre ao acionista) anual médio de 5 anos (no eixo X, na horizontal) esperado entre 2025 e 2029, (2) CAGR (taxa de crescimento anual composto) de lucro por ação de 5 anos (no eixo Y, na vertical) em dólar de 2024 a 2029 e (3) rendimento de dividendos de 2025 (tamanho das “bolhas”).

Fonte: Bradesco BBI

Quanto mais à direita as empresas estiverem no gráfico do BBI, mais elas serão uma história do valor. Quanto mais ao norte, mais crescimento as teses de investimento oferecem aos investidores. O tamanho da bolha também é um aspecto importante do gráfico, pois representa a capacidade dessas empresas de pagar dividendos em 2025.

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Indiretamente, isso mostra a saúde dos balanços dessas empresas, o que reforça a tese de valor/crescimento para cada uma delas. “Em outras palavras, quanto maior for a bolha, maior será a convicção de que estas histórias pertencem realmente às suas subdivisões”, aponta o banco.

No grupo de valor (vermelho no gráfico), Petrobras e Ecopetrol são os players de valor incontestados. Enquanto isso, PetroReconcavo (RECV3) e 3R Petroleum (RRRP3) são recém-chegados a esse grupo. A capacidade da Petrobras de reduzir o risco do seu fluxo de caixa ao acionista através do pagamento de dividendos não é contestada nesta fase.

Entretanto, PetroReconcavo é uma recém-chegada a este grupo, com o rendimento do fluxo de caixa do acionista provavelmente já atingindo os dois dígitos em 2024 e chegando a um nível médio de 29% entre 2025-2029, o que poderá desencadear pagamentos de dividendos mais elevados, avaliam os analistas.

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No grupo de crescimento (azul no gráfico), Vista é o destaque. Enquanto isso, Raízen (RAIZ4), Cosan, YPF e Orbia possuem maior “grau de maturidade”, mas ainda têm claras perspectivas de crescimento. Com relação às empresas brasileiras, Cosan pode crescer e pagar dividendos devido aos seus balanços sólidos e ao acesso a capital. Para a Raízen, o crescimento deve vir do maior rendimento do açúcar/etanol e da expansão do E2G (etanol de segunda geração).

No grupo “ambos”, PRIO, Oceanpact e 3R/Enauta (ENAT3) são as principais histórias que unem crescimento e alta dos rendimentos do fluxo de caixa. A PRIO “está mais próxima da faixa de valor do que de crescimento”, dado que o campo Wahoo, que é o principal projeto de crescimento, já reflete a produção de 2025. “Daqui para frente, poderíamos ver o PRIO a avançar no sentido do crescimento, principalmente com fusões e aquisições, ou prosseguir para uma tese de valor mais ortodoxa, convertendo a geração de fluxo de caixa em remuneração aos acionistas através de recompras e pagamentos de dividendos”, aponta.

Enquanto isso, a Oceanpact poderia ser considerada como uma história de crescimento de médio prazo, dado que o principal motor para o crescimento do lucro por ação deveria ser a renegociação dos contratos de navios às taxas diárias atuais do mercado, que espera que seja concluída até 2026, com o rendimento do fluxo de caixa recorrente subindo do atuais baixos dígitos únicos para acima de 25% em 2026.

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Para a 3R/Enauta (ENAT3), a tese passou de um player de crescimento para uma tese “híbrida” de crescimento/valor, considerando a fusão com a Enauta, já que a nova empresa já poderia entregar um marco importante de crescimento no segundo semestre de 2024 (2S24). Enquanto isso, a conexão da nova plataforma em Atlanta, que deverá ajudar na desalavancagem para 1-1,5 vez até 2025, permitirá à empresa começar a pensar no pagamento de dividendos. Assim, mantém ao mesmo tempo algum crescimento do lucro por ação através da expansão dos ativos da 3R, que deverá ser parcialmente compensado pelo esgotamento de Atlanta no longo prazo.

Na distribuição de combustíveis, para Vibra (VBBR3), o crescimento do lucro por ação não se destaca, embora veja o rendimento do fluxo de caixa na faixa de cerca de 15%, que poderá ser convertido em rendimento de dividendos em breve, já que a empresa vem se desalavancando rapidamente desde o ano passado.

Enquanto isso, a Ultrapar (UGPA3) poderia avançar em direção ao crescimento, conforme demonstrado pela recente aquisição de uma participação na Hidrovias do Brasil (HBSA3) e potencialmente outras aquisições de empresas expostas ao agronegócio brasileiro.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.