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Petroleira YPF salta 40% em NY após Milei reiterar privatização; ETF da Argentina sobe 11% e mais reações do mercado à eleição

Ações de bancos também dispararam nas bolsas americana; hoje é feriado na Argentina, mas efeito pode ser sentido em outros mercados

Equipe InfoMoney

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Os mercados argentinos não operaram nesta segunda-feira (20) pós-segundo turno das eleições presidenciais por conta de um feriado, mas o desempenho dos ativos em outros mercados dão sinais importantes sobre a reação dos investidores após a vitória do candidato Javier Milei por mais de 11 pontos de diferença frente Sergio Massa.

Boa parte dos movimentos que acontecerão nesta terça-feira foi antecipada ao olhar para os ADRs (American Depositary Receipts) de empresas argentinas negociadas na Bolsa dos EUA.

O destaque de alta ficou para a petroleira estatal YPF, que saltou 40,17%, a US$ 15,04.

No pré-market da Bolsa americana, os papéis subiam cerca de 12%, mas aceleraram os ganhos após Milei reafirmar, desta vez em seu primeiro anúncio sobre o futuro do governo, que irá privatizar a empresa estatal de petróleo YPF e as empresas públicas de comunicação do país.

O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, reafirmou, nesta segunda-feira, os planos de privatizar a estatal de petróleo e gás YPF, em um esforço para cumprir a promessa de campanha de reduzir radicalmente o tamanho do Estado.

Em entrevista à rádio argentina Mitre, Milei explicou que o primeiro passo será garantir a recuperação dos resultados da empresa para assegurar uma venda de maior valor. O libertário pretende também entregar ao setor privado o comando de companhias de comunicação, entre elas a Rádio Nacional e a agência de notícias Telám.

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Segundo Milei, o novo governo começará justamente com as reformas macroeconômicas, em particular o reequilíbrio das contas públicas. O presidente eleito disse que almeja solucionar a questão das Leliqs, os títulos emitidos pelo Banco Central que financiam a dívida pública.

O Bradesco BBI também destaca que Milei é conhecido pelas suas ideias libertárias que poderiam resultar em preços de mercado livre para a energia na Argentina.

“Deixando de lado o risco-país por enquanto, se os preços da energia migrassem para os preços de mercado (mesmo que gradualmente): (i) Os preços da gasolina e do diesel deveriam subir (bom para YPF e Raízen RAIZ4), já que os preços atuais estão cerca de 30% abaixo da paridade, (ii) o preço do petróleo também deverá subir dado que o atual preço interno ronda os US$ 60 o barril, o que seria positivo para petrolíferas como a Vista Oil; (iii) por outro lado, o preço do gás natural cairia, pois atualmente depende de subsídios que provavelmente seriam eliminados”, avalia o banco.

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Os analistas da casa estimam que o preço médio possa cair de US$ 3,50/MMBtu atualmente para US$ 2,50/MMBtu. Portanto, para as empresas junior de exploração e produção com muita exposição aos preços do gás argentino, a remoção dos subsídios seria negativa.

Para a YPF, a empresa opera agora com um lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) anualizado de US$ 4 bilhões. Se a empresa conseguisse precificar a gasolina e o diesel em linha com a paridade internacional, o BBI esperaria um forte impacto positivo no Ebitda da empresa, parcialmente compensado por preços mais elevados do petróleo em linha com o mercado (a YPF é uma refinaria líquida) e preços mais baixos do gás (já que os subsídios provavelmente seriam removidos). “Em suma, veríamos o Ebitda anualizado da empresa subiu para um pouco acima dos US$ 5 bilhões de dólares”, avaliam.

As ações de bancos também tiveram alta.

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Os bancos Grupo Supervielle, Banco Macro, Banco Bbva Argentina e Grupo Financiero Galicia subiram entre 17% e 25%, enquanto o ETF Global X MSCI Argentina, de US$ 50,8 milhões, subia 11,30%, atingindo um pico desde setembro, a US$ 46,87.

Os títulos internacionais em dólar da YPF também estavam sendo negociados com alta de 1,5 centavo.

Milei, que só assumirá o cargo em 10 de dezembro, não se referiu à “dolarização” em seu primeiro discurso, levantando dúvidas sobre a rapidez com que poderia tentar eliminar totalmente o peso.

Ele prometeu reformas rápidas para consertar uma economia atolada em crise. A inflação está em 143%, as reservas de moeda estrangeira estão em mais de 10 bilhões de dólares no vermelho e uma recessão se aproxima. Ele também sinalizou moderação e agradeceu a seus principais apoiadores conservadores, Mauricio Macri e Patricia Bullrich.

“É indiscutível que é imperativo uma mudança rápida das políticas econômicas fracassadas do passado. Os desequilíbrios acumulados na economia cresceram demais e devem ser tratados prontamente”, disse Sergio Armella, do Goldman Sachs, em uma nota.

O peso perdia terreno nas bolsas de criptomoedas, observadas pelos investidores como um parâmetro do mercado paralelo. O preço de um tether – uma criptomoeda atrelada ao dólar – subiu para 1.120,40 pesos argentinos no domingo e era negociado a 1.067,90 nesta segunda-feira, em comparação com o preço de abertura de sexta-feira de 913,7, de acordo com o site da Binance.

Bruno Gennari, especialista em Argentina da KNG Securities, disse que a precariedade das reservas internacionais provavelmente forçará uma rápida desvalorização; o Morgan Stanley disse que espera um ajuste de pelo menos 80% do câmbio oficial da Argentina em dezembro.

Milei aproveitou uma onda de raiva dos eleitores, prometendo planos agressivos para reduzir os gastos estatais e o tamanho do governo.

Investidores disseram que estarão a se ele vai cumprir as promessas de corte de gastos – e rapidamente – para impulsionar os mercados, apesar do temor quanto ao sofrimento causado pela austeridade, com dois quintos da população já na pobreza.

Riccardo Grassi, da Mangart Advisors, afirmou que Milei também precisa iniciar imediatamente as negociações para colocar o programa de empréstimo de 44 bilhões de dólares do Fundo Monetário Internacional de volta nos trilhos.

“O FMI não pode falhar desta vez.”

Milei será impulsionado por uma votação maior do que o esperada de 56% no segundo turno, depois de ter obtido 30% no primeiro turno no mês passado. Mas ele ainda enfrenta um Congresso dividido, onde seu bloco tem apenas uma pequena parcela de assentos.

“Ter um resultado retumbante como o de ontem (…) dá a ele um forte mandato público, especialmente devido à sua posição de fraqueza no Congresso”, disse Jimena Blanco, diretora das Américas da Verisk Maplecroft.

As ações do Despegar (ou Decolar) avançaram 7,59% (US$ 8,65), Loma Negra (de cimento) subiu 14,39% (US$ 6,80).

Central Puerto (+19,97%);  Transportadora de Gas del Sur (+24,43%); Pampa Energía (+17,65%); Edenor; Telecom Argentina (+22,8%) também sobem forte, enquanto Mercado Libre (+2,35%), Irsa (+13,45%) e Bioceres (+4,17%) têm reações mais modestas.

Sobre o Mercado Libre (ou Mercado Livre, no Brasil), o BBI aponta que, desde os resultados do 2T23, a empresa publicou sua própria análise de sensibilidade para a desvalorização do peso e vê um impacto negativo de aproximadamente 15-20% no Ebit (lucro antes de juros e impostos), mas “praticamente nenhum impacto no lucro por ação”.

“Existe um efeito secundário, com uma questão sobre quais serão os impactos no comportamento de consumo do país, que é muito difícil de prever com precisão nesta fase. De qualquer forma, isso ajuda a reforçar as nossas opiniões fundamentais positivas sobre a companhia, independentemente deste evento”, apontam os analistas.

(com Reuters)