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SÃO PAULO – Depois de um início de 2020 aparentemente promissor, com a ação preferencial chegando a atingir os R$ 30 em 6 de janeiro, a Petrobras (PETR3;PETR4) passou por um verdadeiro “inferno astral” durante boa parte do ano.
A companhia estatal foi especialmente impactada pela forte queda do petróleo entre a guerra de preços entre dois dos países integrantes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) – notoriamente Arábia Saudita e Rússia – e por conta da forte baixa da commodity com a redução da demanda em meio à pandemia do coronavírus. O ápice do temor do mercado foi em março, quando o papel chegou à casa dos R$ 11 (mais precisamente dia 18, quando a ação fechou a R$ 11,29).
Em abril, o preço do petróleo chegou a ficar negativo, fazendo com que o papel negociasse entre R$ 15 e R$ 16 em boa parte do período.
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Contudo, a resiliência da companhia durante a pandemia apresentada pelos resultados – apesar do alto prejuízo financeiro entre o segundo e o terceiro trimestre – e a recuperação gradual dos preços do petróleo voltou a guiar o otimismo com os papéis da estatal na Bolsa.
A recuperação é ainda mais nítida durante o mês de novembro, em que o otimismo com as vacinas fez com que o contrato futuro do petróleo brent – referência para a Petrobras – voltasse ao maior nível em mais de oito meses na última quarta-feira, a US$ 46,80 o barril. Com isso, na véspera, os papéis PN da companhia chegaram a R$ 26,25, maior patamar desde o início de março. No mês, a ação acumulava ganhos de quase 40%.
Essa forte alta no período, assim como a do petróleo, contudo, também aumentou o debate sobre se a ação da Petrobras ainda está atrativa nesses valores. Isso ainda mais levando em conta que o cenário para o petróleo segue desafiador no curto prazo em meio à segunda onda do coronavírus em grandes economias, como Europa e EUA.
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Com isso, o plano estratégico da Petrobras para o período de 2021 a 2025 era visto como um evento a ser observado com atenção pelos investidores, por trazer mais indicações de como seriam os planos da companhia. A leitura inicial, contudo, não foi de todo positiva.
Entre os destaques, a produção de petróleo foi estimada em 2,23 milhões de barris por dia em 2021, subindo para 2,3 milhões em 2022 e depois para 2,5 milhões de barris ao dia em 2023.
Em relatório, o Credit Suisse considerou um pouco decepcionante a projeção de 2021, assim como o Morgan Stanley, que apontou a projeção como conservadora.
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“No curto prazo, a curva de produção decepcionou nossas expectativas (2,23 milhões de barris por dia versus 2,3 milhões de barris por dia em 2021) e a explicação pode estar parcialmente relacionada a desinvestimentos em 2020 e o adiamento das paradas de manutenção de 2020 para 2021, devido às restrições a bordo relacionadas à Covid-19”, avaliaram os analistas do banco suíço.
No longo prazo, a curva de produção de petróleo é 200 mil barris por dia menor do que o plano anterior, mas ainda cresce até 2,7 milhões de barris por dia, em 2025, este ponto acima das estimativas do banco, de 2,4 milhões de barris por dia. A Petrobras ponderou que a projeção de 2,75 milhões de boed para 2021 não inclui o desinvestimento já ocorrido em Baúna e os desinvestimentos a ocorrerem em 2020.
Assim, a empresa prevê um crescimento em sua produção total de óleo e gás natural de 2,75 milhões de barris equivalentes de óleo por dia (Mboed) para 3,3 Mboed em 2025, um crescimento anual composto de 3,7%. “A companhia tinha citado a meta de 3,5 Mboed e diminuiu. Assim, os investidores aguardam a coletiva da estatal no dia 30 para entender mais as projeções da companhia”, destacou Fabrício Lodi, professor do Projeto os 10%, escola de traders, em referência ao Petrobras Day, que acontece na próxima segunda-feira.
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Tempos desafiadores, medidas duras
Contudo, essa redução na produção pode ser entendida como uma forma da companhia se preservar em meio ao cenário ainda desafiador para o seu mercado.
Conforme destacam Gabriel Francisco e Maira Maldonado, analistas da XP Investimentos, a diminuição da dívida e a desalavancagem financeira continuarão a ser prioritárias, sendo a geração de caixa operacional e os desinvestimentos fundamentais para esses fins. De janeiro de 2019 a setembro de 2020, mesmo com os impactos da Covid-19 e do choque do petróleo em 2020, a empresa conseguiu reduzir a dívida bruta em US$ 31 bilhões e manteve a meta de atingir US$ 60 bilhões em 2022.
A estatal fez um corte em seu plano de investimento de cinco anos em 27% em relação ao anterior para US$ 55 bilhões visando preservar o caixa, uma vez que a pandemia de coronavírus derrubou a demanda e os preços globais do petróleo.
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Ela apontou que vai se concentrar nos produtivos campos de petróleo do pré-sal, uma vez que vende ativos não essenciais para reduzir a dívida. Cerca de 84% dos investimentos, ou US$ 46 bilhões, será em exploração e produção, comparado aos US$ 64 bilhões do programa anterior.
A aprovação de investimentos a novos projetos será limitada para aqueles que possam ser lucrativos com preços do petróleo tão baixos quanto US$ 35 o barril. Antes da pandemia, em novembro de 2019, a Petrobras disse que iria investir US$ 75,7 bilhões entre 2021 e 2024.
“Em nossa visão o novo plano estratégico da Petrobras reitera seu compromisso de se tornar uma companhia mais financeiramente robusta, com menor endividamento, focada em ativos de exploração e produção mais rentáveis no pré-sal. Também vemos como positiva a divulgação de metas para indicadores ESG”, destacam os analista da XP, em referência aos parâmetros de investimentos responsáveis em termos ambientais, sociais e de governança.
Conforme ressalta a equipe de análise da Levante Ideias de Investimentos, o principal ponto sobre a agenda de sustentabilidade são os indicadores a serem monitorados para definição da remuneração variável dos executivos e funcionários terem um misto de metas ambientais e financeiras, de maneira objetiva e clara, o que reforça o compromisso e alinha interesses internos em relação às metas definidas para a companhia.
Os principais indicadores são: i) Intensidade de emissões de gases de efeito estufa (IGEE); ii) Volume vazado de óleo e derivados (montante que “escapa” do processo produtivo para o meio ambiente); iii) dívida bruta de US$ 67 bilhões a ser atingida em 2021 e iv) variação positiva do EVA (Valor econômico adicionado – métrica medida pelo diferencial do custo de capital e o lucro econômico da companhia) de US$ 1,6 bilhão anuais.
“O plano mantém os principais pilares como a redução do custo e maximização do retorno do capital empregado atrelado à segurança na operação e busca por eficiência. Acreditamos que a atual gestão provou sua capacidade de execução e continuará gerando valor para a companhia daqui em diante, cumprindo com as metas divulgadas”, ressalta a Levante.
Vale destacar que, no início dessa semana, o Bank of America elevou a recomendação para os papéis preferenciais da petroleira de neutra para compra, passando o preço-alvo de R$ 28 para R$ 38. Já o American Depositary Receipt (ADR) também teve recomendação e preço-alvo elevados, passando de US$ 10,50 para US$ 14.
O analista Frank McGann avalia que a petroleira terá um cenário mais favorável para os preços do petróleo nos próximos doze meses, além de ver uma demanda mais forte por produtos refinados com a retomada da economia e em meio às tendências de alta da produção, principalmente no pré-sal.
Na avaliação de McGann, depois de um ano bastante desafiador os preços de petróleo devem subir para US$ 50 no ano que vem, também destacando a redução gradual da pandemia em meio ao desenvolvimento e posterior distribuição de vacinas.
Com relação à produção a ser apresentada no plano estratégico, o analista do BofA já destacava que ela deveria ser menor do que a esperada anteriormente em meio a metas financeiras mais rigorosas da companhia, mas que deveria proporcionar uma perspectiva financeira forte, com concentração em empreendimentos do pré-sal de baixo custo.
Na mesma linha, o Bradesco BBI aponta que, apesar do plano ser um pouco decepcionante em termos de produção, mantém uma visão positiva para o nome, destacando que a Petrobras está em um processo forte de desalavancagem o que, em algum ponto, deve levar a um significativo aumento no pagamento de dividendos.
No fim de outubro, a companhia alterou a política de remuneração de acionistas, com o objetivo de permitir que a administração proponha pagamento de dividendos mesmo em exercícios em que não for registrado lucro contábil, desde que atendida uma meta de endividamento.
A distribuição de recursos extraordinários, superando o dividendo mínimo legal obrigatório ou o calculado a partir de uma fórmula, poderá ocorrer quando o endividamento bruto da petroleira estiver inferior a US$ 60 bilhões, mesmo em caso de não haver lucro.
Conforme ressalta o Bradesco BBI, com as medidas, será permitido que a Petrobras antecipe o pagamento de mais dividendos, algo que é fundamental para as empresas de petróleo. Vale destacar que, no terceiro trimestre, mesmo registrando prejuízo, a companhia teve uma redução nos custos de produção e uma forte geração de caixa o que, segundo os analistas do BBI, justifica essa nova política de dividendos da estatal (veja mais clicando aqui).
Na ocasião, e também entre os pontos destacados como positivos no resultado, estiveram mais uma queda no custo de extração de petróleo do pré-sal, chegando a US$ 2,27 dólares, sem os custos de frete e participação governamental.
Um dos pontos a serem monitorados pelos investidores ainda é que, com o cenário mais calmo com as perspectivas para a demanda de petróleo, a Opep pode se sentir menos pressionada a estender o programa de corte de produção de 7,7 milhões de barris por dia. Um novo encontro entre o cartel deve acontecer na próxima semana mas, na avaliação do BBI, o caso base é de o corte seja estendido de três para seis meses, adentrando 2021.
Desta forma, conforme destacado no quadro abaixo com as projeções de analistas consultados pela Refinitiv, o cenário para a companhia segue positivo, ainda que de volatilidade em meio ao ambiente incerto por conta da pandemia.
Assim, na próxima semana: dois eventos serão monitorado de perto pelos investidores da companhia: o Petrobras Day, com mais detalhes sobre o cronograma das plataformas, as projeções de fluxo de caixa e de economia de despesas, assim como a reunião da Opep sobre sua política de produção, em 30 de novembro e 1° de dezembro.
Confira abaixo as projeções para as ações da Petrobras, segundo compilação da Refinitiv:
Ação | Recomendação de compra | Recomendação neutra | Recomendação de venda | Preço-alvo médio | Potencial de valorização* |
Petrobras ON | 7 | 0 | 0 | R$ 33,07 | +27% |
Petrobras PN | 8 | 0 | 0 | R$ 37,59 | +46% |
ADR PBR (equivalente ao ON – NYSE) | 13 | 0 | 0 | US$ 14,16 | +42% |
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