Petrobras (PETR4): resultado e dividendo comprovam “máquina de geração de caixa”, mas isso pode mudar com plano de negócios?

Esta é a grande questão para o mercado com a estatal, sendo que a divulgação do seu plano será o próximo grande evento a ser monitorado

Lara Rizério

Logo da Petrobras em tela de celular (Shutterstock)
Logo da Petrobras em tela de celular (Shutterstock)

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Balanços, dividendos, revisão da curva de produção e capex de 2023. Além do resultado do terceiro trimestre de 2023 (3T23), considerados neutros (mas ainda sólidos), a Petrobras (PETR3;PETR4) fez outros anúncios que devem ter repercussão no mercado, enquanto espera por um outro evento crucial para a estatal e que tem movimentado o mercado nos últimos dias.

A companhia teve um lucro líquido de R$ 26,6 bilhões no terceiro trimestre, número menor do que os R$ 46,1 bilhões do mesmo período do ano passado, configurando uma queda de 42,2%. Além disso, anunciou que fará a distribuição de R$ 17,5 bilhões aos acionistas na forma de dividendos e juros sobre capital próprio (JCP). Serão R$ 0,672183 pagos por ação ON e PN pagos em uma primeira parcela e R$ 0,672182 em uma segunda – que somam R$ 1,344365 por ação.

A estatal ainda elevou a projeção de produção média total de óleo e gás neste ano para 2,8 milhões de barris de óleo equivalente por dia (boed), ante 2,6 milhões de boed previstos anteriormente.

A XP aponta que a Petrobras reportou outro forte desempenho financeiro assim como uma rodada de dividendos robusta, com um dividend yield (dividendo sobre valor da ação) de cerca de 4% para PETR4, sendo 15% em termos anualizados.

O lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) atingiu US$ 13,5 bilhões (+18% na base trimestral), em linha com o consenso e ligeiramente abaixo da expectativa da XP (-6%).

O Bradesco BBI aponta que a geração de caixa voltou a ser muito forte, em US$ 6,2 bilhões. “A empresa encerrou o período com uma posição de caixa e equivalentes de US$ 17 bilhões, que deve ser ampliada coma geração de caixa durante o 4T23 e, novamente, coloca a empresa em boa posição para anunciar pagamentos complementares de dividendos com os resultados de 2023”, avalia o BBI.

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Sobre o guidance de produção especificamente de petróleo, que foi elevado em 100 mil barris por dia, para 2,2 milhões de barris por dia em 2023, isso já era esperado dada a forte produção do 3T23. O nível de investimento foi revisto em baixa, para US$ 13 bilhões, ante US$ 16 bilhões, o que está mais em sintonia com o que a empresa tem reportado até agora neste ano, aponta.

O Itaú BBA ressaltou que a companhia reportou números neutros no balanço do terceiro trimestre, com um Ebitda levemente abaixo da sua projeção (em 6%), enquanto o pagamento de dividendos ficou em linha com a nova política de remuneração aos acionistas. “O dividendo anunciado representa R$ 1,34/ação, comparado com a nossa estimativa de R$ 1,47/ação”, aponta.

A Genial também voltou a ressaltar números operacionais foram sólidos, derivados do atrativo preço do brent e da produção recorde.

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O preço realizado do brent no trimestre foi de US$ 86,70 o barril, acima da sua estimava de US$ 82 o barril.

“Somados a produtividade recorde, os números ficaram acima das nossas estimativas e razoavelmente em linha com o consenso”, aponta a casa de análise. Na visão dos analistas da Genial, a ideia dos resultados reportados virem sólidos não deveriam ser uma surpresa.

Entre os destaques, estão, como aponta o BBA:

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▪ Exploração e produção: o segmento apresentou um Ebitda recorrente de R$ 60 bilhões, um aumento em relação aos R$ 49,0 bilhões reportados no trimestre anterior, principalmente devido ao aumento no preço do petróleo e dos volumes produzidos;

▪ Refino: o Ebitda recorrente da divisão totalizou R$ 10,3 bilhões, 31% acima que o do segundo trimestre. O segmento foi impulsionado principalmente devido ao efeito do giro dos estoques com a variação positiva do Brent neste trimestre (US$ 87/barril contra US$ 78/barril no trimestre anterior), em contraposição à variação negativa no trimestre passado;

▪ Gás e energia: o setor apresentou um Ebitda recorrente de R$ 3,6 bilhões, 46% acima do trimestre anterior, explicado principalmente pelo menor custo de aquisição do gás natural, que decorreu da redução dos preços de GNL, da maior oferta de gás nacional e da menor necessidade de regaseificação de GNL;

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▪ Fluxo de caixa operacional: a Petrobras reportou um fluxo de caixa de R$ 41,0 bilhões, sendo o resultado da dedução de R$ 15,5 bilhões de aquisições de intangíveis e imobilizados do fluxo de caixa operacional de R$ 56,5 bilhões.

Plano de negócios vem aí: ele é mesmo um risco para as ações?

O Bradesco BBI aponta que a combinação de notícias de revisão do guidance e dados sólidos agrada ao mercado, pois favorece o pagamento de dividendos complementares em 2024.

“O pagamento de dividendos de US$ 3,5 bilhões foi superior à nossa estimativa de US$ 3 bilhões, devido principalmente aos investimentos menores que o esperado”, avalia.

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Contudo, a atenção dos investidores até o final do mês deverá se voltar para o novo plano de investimentos, que poderá representar um grande aumento nos desembolsos daqui para frente.

“Contudo, é importante determinar como este desembolso será repartido ao longo dos próximos cinco anos, uma vez que o mercado tende a prestar mais atenção aos pagamentos de dividendos de curto prazo”, avalia o BBI, que segue com recomendação de compra e o preço-alvo de R$ 38,00 por ativo PETR4.

A Genial também vê este como o maior risco de curto prazo para a tese da empresa, uma vez que o plano deve não apenas incrementar o volume esperado atual de investimentos (US$ 78 bilhões 2023-2027) como ter um foco maior em transição energética (que a Genial não julga um negócio tão interessante quanto o segmento de Exploração & Produção do ponto de vista de geração de valor).

Nos últimos dias, notícias de que o plano de negócios superaria os US$ 100 bilhões também repercutiram no mercado, gerando temores sobre um menor pagamento de dividendos dado o maior capex e maior deslocamento de capitais para segmentos sem tanto retorno.

“Nosso grande receio diz respeito ao percentual desse novo valor a ser divulgado em breve [do plano de negócios] que deverá ser alocado nos negócios de transição energética e sobre como todo esse processo deverá afetar a distribuição de dividendos da empresa (lembrando que a formula atual é de 45% o Fluxo de Caixa Operacional – Investimentos desde que a dívida fique abaixo de US$ 65 bilhões)”, avalia a Genial. Sendo assim, a casa se mantém conservadora e espera o evento, seguindo assim com recomendação de manutenção para o ativo, com preço-alvo de R$ 38 para o ativo ON. O Itaú BBA também possui recomendação neutra para PETR4, com preço-alvo de R$ 38.

A XP, por sua vez, segue com recomendação de compra para Petrobras, mas tem PRIO (PRIO3) como top pick do setor.

“Embora um pouco abaixo de nossas estimativas, este foi mais um trimestre de geração estelar de fluxo de caixa livre para a Petrobras”, avalia. Os analistas ressaltam que o próximo plano estratégico deve ser anunciado em 28 de novembro e a julgar por sua recente pesquisa com investidores, a maioria do buy-side não espera um plano de capex superior a US$ 100 bilhões. Ou seja, algo nessa linha pode ter impacto negativo no mercado.

“Continuamos vendo a Petrobras como uma tese de investimentos complexa que, por um lado, proporciona uma remuneração trimestral ao acionista na faixa de 10% a 20% (anualizado) e, por outro, tem uma probabilidade não tão baixa de uma intensa perda de valor, devido a vários riscos, como fusões e aquisições, capex acima do esperado, dentre outros”, avalia.

O BTG Pactual aponta também que, embora veja um plano podendo exceder US$ 100 bilhões  (ante sua estimativa de US$ 86 bilhões) e incluindo projetos inorgânicos em segmentos fora do negócio principal da companhia com grande cautela, dado o histórico de alocação de capital da empresa, tal número (se confirmado) não muda a visão de que a Petrobras permanecerá capaz de realizar pagamentos extraordinários.

“A empresa muitas vezes acaba investindo menos do que o previsto. Nos últimos 6 anos, os investimentos foram, em média, 25% inferiores ao previsto”, ressalta.

Assim, a sua visão ainda otimista em relação à tese é sustentada pela capacidade da empresa de continuar a gerar mais dinheiro do que investe/gasta.

“As fusões e aquisições e os potenciais acordos fiscais (CARF) poderão reduzir os pagamentos extraordinários. Mas, mesmo que os dividendos sejam distribuídos de acordo com a sua política atual, ainda enxergamos uma história convincente de geração de caixa”, aponta, mantendo recomendação de compra para PETR4, com preço-alvo de R$ 39, destacando que a empresa é uma “máquina de geração de caixa”.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.