Petrobras quer comprar RLAM de volta – e reacende temor de intervenção do governo

Estatal está próxima de recomprar Mataripe (antiga RLAM), segundo notícias na mídia; em 2021, a petroleira vendeu a refinaria para o Mubadala

Felipe Moreira

Refinaria de Mataripe da Acelen na Bahia (Divulgação)
Refinaria de Mataripe da Acelen na Bahia (Divulgação)

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A Petrobras (PETR4) e o Mubadala estão perto de anunciar um acordo vinculativo no qual a estatal recompraria 100% da refinaria de Mataripe (antiga RLAM), segundo reportagem do Estadão. Em 2021, a petrolífera vendeu a refinaria para o Mubadala por US$ 1,8 bilhão.

De acordo com a reportagem, a Petrobras já teria concluído a devida diligência e, no melhor cenário, poderia fazer uma oferta vinculante até setembro, com o fechamento da transação previsto para 2025. No entanto, isso ainda requer aprovação do conselho de administração da Petrobras.

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O Goldman Sachs avalia que a notícia pode suscitar preocupações quanto a uma potencial intervenção governamental na empresa, uma vez que o governo federal atual criticou as vendas de ativos da Petrobras anteriormente.

Além disso, o Goldman destaca que, embora o plano estratégico atual da Petrobras incorpore um capex adicional de até cerca de US$ 11 bilhões para potenciais fusões e aquisições (e outros investimentos) no ciclo de 2024-2028 (capex em avaliação), isso pode limitar a extensão dos dividendos extraordinários no curto prazo.

Na avaliação do Bradesco BBI, o valor atual da empresa de Mataripe poderia ser de US$ 1,6 bilhão a US$ 2,8 bilhões, o que não inclui investimentos no projeto de biodiesel.

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Segundo o BBI, a questão chave é se a Petrobras terá permissão para adquirir o controle acionário do ativo, dado o recente aditivo de acordo com o tribunal do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que aprovou a renegociação dos Termos de Compromisso de Cessação (TCC) assinados com o órgão anteriormente. O aditivo desobriga a Petrobras de desinvestir as refinarias que ela ainda não vendeu (REPAR, REFAP, RNEST, REGAP e Lubnor). Por outro lado, mantém a obrigação de desinvestimentos das que já foram vendidas (RLAM, REMAN, SIX). 

Embora um tanto esperado, o BTG Pactual avalia esse movimento como negativo, uma vez que Petrobras obteve retornos mais baixos no segmento de refino em comparação com o seu negócio principal de produção (E&P). E por mais que alguns possam argumentar que existem gargalos que impedem a estatal de aumentar o investimento em E&P, o banco acredita que a melhor estratégia seria devolver dividendos maiores aos acionistas.

Com relação a dividendos, o lado positivo é que o BTG não prevê uma redução significativa nos potenciais pagamentos de curto prazo da empresa. “Primeiro, o negócio não foi confirmado e, se for, poderá envolver a aquisição de uma participação menor na refinaria”, explica. Após um potencial anúncio, o BTG acredita também que o negócio só seria fechado em 2025 (com os respectivos desembolsos), dados os procedimentos de governança necessários (os desinvestimentos da Petrobras levaram em média 8,5 meses desde a assinatura até a conclusão).

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Em segundo lugar, o modelo do BTG já prevê cerca de US$ 2 bilhões em potenciais fusões e aquisições ao longo dos próximos 12 meses, o que significa que a aquisição da refinaria de Mataripe está majoritariamente precificada. Ajustando o valor de venda pela inflação de 12% (inflação dos EUA), seu custo corrente seria próximo a US$ 2 bilhões, ou US$ 2,1 bilhões ao contabilizar uma estimativa de US$ 300 milhões para investimentos feitos pelo Mubadala para melhorar o ativo.

Com base nisso, o BTG não enxerga razões suficientes para alterar a recomendação de compra no nome, o que é sustentado pela sua visão de que a empresa continua oferecendo um excelente “carrego” (16% Dividend Yield nos próximos 12 meses) juntamente com possibilidades de aumento de geração de caixa a partir de então.